A acção e o pensamento político podem categorizar-se, entre outros, em dois tipos: o realismo e o idealismo. As ideias centrais do realismo em política podem encontrar-se no famoso texto Leviatã, do filósofo britânico Thomas Hobbes (séc. XVII), obra central da história da filosofia política. Centrada na ideia de que a condição humana natural (i.e., sem intervenção cultural) se caracteriza por uma “guerra de todos contra todos”, Hobbes fez uma forte defesa de um estado forte, mesmo autoritário, pois apenas este seria capaz de zelar pela segurança das pessoas. A nível das relações internacionais, a principal ideia de Hobbes é a de que os Estados de sucesso são os que assumem uma “postura de gladiadores, tendo as suas armas apontadas e os olhos fixos uns nos outros”.
Compare-se agora estas ideias, por exemplo, com a actuação política de Vladimir Putin na última década, com os seus slogans sobre a “gestão da democracia”, o “poder vertical” e a “ditadura da lei” ou a forma como encarou as relações com os países vizinhos, tratando-os como pertencendo à esfera russa de “interesses privilegiados”. Ou então, pense-se numa das primeiras iniciativas musculadas do actual Presidente russo Dmitry Medvedev, quando, em Novembro passado, precisamente no primeiro dia de Barack Obama como Presidente dos E.U.A., ameaçou utilizar mísseis balísticos contra a Polónia. A Rússia pós-marxista e pós-soviética voltou, pois, a vestir a couraça hobbesiana e realista de gladiador.
Em contraponto, a tradição de livre pensamento Ocidental gerou um outro tipo de filosofia política, com uma forte e decisiva influência no pensamento político, na acção política e nas instituições contemporâneas, a saber: o idealismo político de Immanuel Kant (séc. XVIII). Filósofo de proa da Aufklärung, Kant defendeu – e, no fundo, previu – uma “paz perpétua” fundada nas regras democráticas nacionais (na base da organização democrática actual), uma “confraternidade de comércio” entre nações (o mercado comum, avant la lettre), uma federação de Estados com pensamentos comuns (a União Europeia!) e, inclusivamente, uma aliança de repúblicas para deter, caso necessário, impérios agressivos (a NATO!). O idealismo político tem, pois, estado presente na orientação da política na UE e parece ser agora a opção americana, por muito mitigada que seja.
Em suma: os maiores filósofos estão na base das grandes ideias, entre as quais as que geram as instituições e os arranjos políticos que permitem a coabitação humana na terra; as ideias políticas do realismo e do idealismo contracenam ainda no palco do mundo, embora talvez com uma feliz supremacia do idealismo. Moral da história: bom será gizar a política por um idealismo, embora temperado de realismo q.b.; de qualquer modo, mais pensamento e não menos pensamento a orientar a acção – vivemos num mundo de ideias!