domingo, 18 de dezembro de 2011

Dar a pensar...

«Talvez seja possível fazer em ética teorias que determinem satisfatoriamente, em cada caso, o que é correcto fazer. Até hoje, parece que não se conseguiu tal coisa – mas talvez surja entretanto uma teoria que consiga fazê-lo. Enquanto esperamos, é avisado levar a sério a hipótese de Aristóteles de que a realidade é demasiado complexa para que isso seja possível. E nada se perde em apostar na educação moral.

A educação moral genuína não é, contudo, o que os políticos têm em mente quando pensam em transmitir, por exemplo, “valores ecológicos” às crianças, ou quando pensam na “educação para a cidadania”. Este género de educação é doutrinação e não educação moral. A genuína educação moral é ensinar a raciocinar em termos de fins e meios, a ponderar razões e a justificar correctamente o que valorizamos – em suma, ensinar a pensar eticamente e não ensinar a repetir slogans ecológicos, igualitários, nacionalistas, multiculturalistas ou outros.»

Murcho, D. (2011) 7 Ideias Filosóficas Que Toda a Gente Deveria Conhecer. Lisboa: Bizâncio, p. 55.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Leituras…

...de Murcho, D. (2011). 7 Ideias Filosóficas Que Toda a Gente Deveria Conhecer. Lisboa: Bizâncio. Trata-se de uma introdução à filosofia através de sete das mais visíveis teorias filosóficas da história, algumas delas que andam até na boca de muitas pessoas, como slogans elegantes e “profundos”, sinais exteriores de erudição, mas tantas vezes incompreendidas e mal usadas – a ser assim, de nada servem. O A. dá-nos a oportunidade de com ele pensar o significado mais exato dessas ideias, a sua importância histórica, mas, sobretudo, intemporal, e proporcionando uma compreensão bastante acessível ao neófito (ou a quem estiver suficientemente maduro para perceber que, afinal, necessita dessa compreensão!).

“Penso, logo existo”, “só sei que nada sei”, “no meio é que está a virtude”, “a guerra de todos contra todos”, “o despertar do sono dogmático”, “uma rosa com outro nome” e “maior do que o qual nada pode ser pensado” são as sete ideias que D. Murcho escolheu como indispensáveis para dar a conhecer ao grande público. Iniciando cada capítulo com uma breve, mas muito útil, contextualização histórica, o autor discute os aspetos centrais de teorias de Descartes, Sócrates, Aristóteles, Hobbes, Kant, Frege, S. Anselmo, entre outros, procedendo a uma facilitadora e esclarecedora abordagem da área da filosofia em que se enquadram, aproveitando assim para mostrar um leque de temas-problemas nodais da filosofia.

Este opúsculo acessível a qualquer pessoa que se predisponha a gastar menos de uma centena de minutos a lê-lo (nos transportes públicos, na fila de espera, antes de adormecer…) termina com uma defesa de uma das teses favoritas do autor – qual leitmotiv para a sua divulgação – acerca da filosofia: a filosofia é uma área do saber com características próprias, com problemas próprios e com um modo de acesso próprio e, por isso, com uma abordagem histórica (via tantas vezes percorrido) não se acede à filosofia, apenas à sua história; para se aceder à filosofia é preciso discutir os seus problemas, analisar as suas teorias e avaliar criticamente os seus argumentos. Exige de nós “algum” esforço intelectual, mas é um esforço benfazejo e aprazível, se pensarmos, senão em certezas (inacessíveis), ao menos (o que já é muito) no esclarecimento que nos proporciona diante das nossas mais assombrosas perplexidades.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Fotografias

“Espigueiros #1”
(Lindoso, Novembro 2011)
© Miguel Portugal
“Espigueiros #2”
(Lindoso, Novembro 2011)
© Miguel Portugal
 
“Espigueiros #3”
(Lindoso, Novembro 2011)
© Miguel Portugal


“Espigueiros #4”
(Lindoso, Novembro 2011)
© Miguel Portugal
 
“Espigueiros #5”
(Lindoso, Novembro 2011)
© Miguel Portugal
“Espigueiros #6”
(Lindoso, Novembro 2011)
© Miguel Portugal
“Espigueiros #7”
(Lindoso, Novembro 2011)
© Miguel Portugal



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dar a pensar...

«Os autodenominados cruzados contra a “mistela do eduquês” criticam sistematicamente a escola de hoje por ser um antro que tresanda a facilitismo e festa. Primeiro, é preciso dizer que existem, de facto, práticas de facilitismo nas nossas escolas. (…) Mas, por agora, a questão é outra. Mais uma vez, o equívoco é tremendo, porque os que criticam o dito clima de facilitismo e festa que existe nas escolas, ao fazerem incidir a sua crítica quase exclusivamente nas escolas, deixam subentendida mais uma missão para a escola, que desta vez consistiria em combater o facilitismo e a festa que impera, isso sim e antes de mais, na sociedade portuguesa (e ocidental). Vejamos.

Facilitismo e festa! Mas haverá maior festa fácil do que aquela que a banca incentivou, na sociedade portuguesa, nos anos oitenta e noventa e na última década, massacrando as famílias e as empresas com o acesso fácil ao crédito, na hora e para todos? Todos, até os mais pobres, tinham que consumir o máximo, gozar ao máximo, mesmo sem dinheiro, tudo era fácil, facílimo. (…) O acesso ao consumo fácil, mesmo daquilo que não estava ao alcance de tantos milhares, gerou um clima de fácil acesso à “felicidade” terrena, que colocou os portugueses a viverem acima das suas posses e muito (muitíssimo!) para além do razoável. O risco atamancado em vez da prudência, o consumo desenfreado em vez da poupança, a festa fácil em vez da luta e do mérito. (…)

Facilitismo e festa! Mas haverá maior festa do que este aumento desmesurado e descontrolado da despesa pública do Estado, a que assistimos nos últimos quinze a vinte anos, gastando-se sem controlo o dinheiro que não temos para termos a festa que não conquistamos? Porque é que se aumentou descontroladamente a despesa pública estatal em educação, fazendo incidir esse aumento quase exclusivamente em vencimentos dos docentes, destruindo, como se fez, em meados dos anos noventa, as poucas exigências colocadas à progressão automática na carreira? (…)

Facilitismo e festa! Mas haverá maior festa do que aquela que os media promovem todos os dias, fazendo-nos chegar a casa a ideia de que subir na vida é fácil, basta ser estrela de cinema e ou de futebol ou jogar no “euromilhões”? (…) Não, não é preciso estudar, basta saber cantar ou dar uns chutos numa bola; não, não é preciso esforço, basta a sorte; não, não é necessário ser persistente e lutar, basta “conquistar” os favores das “estrelas” mediáticas. Os editores de jornais e revistas colocam todos os dias lixo nos escaparates, aos olhos de todos. Será assim tão difícil de perceber que esta escola mediática promove valores que, muito antes da escola (até aos seis anos), marcam profundamente as crianças e os jovens? Não se percebe que muitas famílias alinham neste modelo de vida que lhes é veiculado e nele estão acriticamente imersas, nele mergulhando as crianças e os jovens, muito antes de chegarem à escola e enquanto nela estudam? Mas são os mesmos media, quais virgens esvoaçando vestidas de branco, que veiculam as críticas mais ferozes e infundadas contra a escola de hoje, a dita escola da festa!
(…)
Facilitismo e festa! Mas estes senhores não vêem que a festa já se instalou por todo o lado e que e que já entrou no mais fino quotidiano, tendo as pessoas inclusivamente passado a saudar-se por um “Tá tudo?”, em vez de um simples e cordial “Bom dia!”. Não vislumbram que a festa fácil é o pão nosso de cada dia tanto das relações humanas, que se fazem e se desfazem, como das indiferenças perante as injustiças gritantes da nossa sociedade, como ainda do ocultamento do que é duro: o esforço, a luta honesta para construir um luar neste mundo, as injustiças, as desigualdades, a doença e a morte? Não está na cara que o mundo de hoje quer esconder tudo o que é difícil, em nome da festa do consumo fácil? (…)

Estamos a pagar o preço do bluff que resulta de considerarmos a modernidade como uma espécie de campo de felicidade onde o outro não tem lugar, uma sociedade sem a relação humana e o sofrimento (…).»

Azevedo, J. (2011). Liberdade e Política Pública de Educação. Ensaio sobre um novo compromisso social pela educação. Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão, pp. 63-6.