Na passada semana, o economista Luís Nazaré escrevia no Jornal de Negócios, a seguinte frase lapidar:
«Que bom seria se (…) trabalhássemos que nem chineses, tivéssemos taxas de aproveitamento escolar que nem indianos e inovássemos que nem finlandeses, sem gastarmos dinheiro em betão.»
É claro que é discutível se seria mesmo bom trabalhar que nem chineses (i.e., arduamente!). Seremos obrigados também – ainda que talvez apenas por mero exercício retórico – a questionar se taxas de aproveitamento escolar idênticas às dos indianos resolveria os nossos principais problemas económicos e sociais! Também podemos sempre questionar outro tanto (e pelas mesmas razões!) acerca da inovação à finlandesa! E como viver sem os empregos sazonais – mais do que precários: ilusórios – criados pelo betão, num país embriagado (qual terceiro mundo) pela opulência arrogante do cargo público, elegível através da fachada e não das ideias que resolvem problemas públicos de fundo?!
Mas o que é certo é que a sociedade portuguesa vai sobrevivendo (mal), sem sequer se questionar muito sobre os fundamentos filosóficos, políticos, económicos e sociais do, pelo menos aparente, modelo único da modernidade, que é o liberalismo, ainda que com preocupações sociais. A sociedade civil, em geral, vive alheada das grandes questões político-sociais de fundo, não desenvolvendo no seu seio, por um lado, reflexão suficiente acerca das possíveis alternativas, a existirem, ao modelo económico e social liberal, nem tão pouco (coisa igualmente exigente) adaptando-se a esse modelo, que se tem vindo a consolidar, apesar das críticas e tentativas de correcção, como o modelo característico da modernidade política, económica e social, hoje mais ou menos disseminado pelos cinco continentes. E do lado do timoneiro também não têm soprado bons e, muito menos, orientadores ventos: os sucessivos governos não têm conseguido resolver os problemas estruturais económicos e sociais, nem têm conseguido minimamente motivar uma absolutamente necessária mudança de mentalidades.
A apatia intelectual e, portanto, política, económica e social da sociedade portuguesa é um cancro mortífero, que nos tem vindo a tolher nas últimas décadas e a descolorir completa e paulatinamente a velha (demasiado velha?!) perseverança e entusiasmo portugueses. O grande problema da sociedade portuguesa (diferentemente das grandes economias em ascensão, como a Índia e a China, bem como de outros pequenos países semelhantes ao nosso, como, por exemplo, a Irlanda) é, pois, a falta de consciência de mundo e de iniciativa reflexiva, mas, sobretudo, a falta de empreendedorismo, de esforço e empenho responsáveis na acção… quer para superar o sistema (o que seria, hoje, tão improvável quão genial e salvífico!), quer tão-só para, simplesmente, nos adaptarmos a ele.
«Que bom seria se (…) trabalhássemos que nem chineses, tivéssemos taxas de aproveitamento escolar que nem indianos e inovássemos que nem finlandeses, sem gastarmos dinheiro em betão.»
É claro que é discutível se seria mesmo bom trabalhar que nem chineses (i.e., arduamente!). Seremos obrigados também – ainda que talvez apenas por mero exercício retórico – a questionar se taxas de aproveitamento escolar idênticas às dos indianos resolveria os nossos principais problemas económicos e sociais! Também podemos sempre questionar outro tanto (e pelas mesmas razões!) acerca da inovação à finlandesa! E como viver sem os empregos sazonais – mais do que precários: ilusórios – criados pelo betão, num país embriagado (qual terceiro mundo) pela opulência arrogante do cargo público, elegível através da fachada e não das ideias que resolvem problemas públicos de fundo?!
Mas o que é certo é que a sociedade portuguesa vai sobrevivendo (mal), sem sequer se questionar muito sobre os fundamentos filosóficos, políticos, económicos e sociais do, pelo menos aparente, modelo único da modernidade, que é o liberalismo, ainda que com preocupações sociais. A sociedade civil, em geral, vive alheada das grandes questões político-sociais de fundo, não desenvolvendo no seu seio, por um lado, reflexão suficiente acerca das possíveis alternativas, a existirem, ao modelo económico e social liberal, nem tão pouco (coisa igualmente exigente) adaptando-se a esse modelo, que se tem vindo a consolidar, apesar das críticas e tentativas de correcção, como o modelo característico da modernidade política, económica e social, hoje mais ou menos disseminado pelos cinco continentes. E do lado do timoneiro também não têm soprado bons e, muito menos, orientadores ventos: os sucessivos governos não têm conseguido resolver os problemas estruturais económicos e sociais, nem têm conseguido minimamente motivar uma absolutamente necessária mudança de mentalidades.
A apatia intelectual e, portanto, política, económica e social da sociedade portuguesa é um cancro mortífero, que nos tem vindo a tolher nas últimas décadas e a descolorir completa e paulatinamente a velha (demasiado velha?!) perseverança e entusiasmo portugueses. O grande problema da sociedade portuguesa (diferentemente das grandes economias em ascensão, como a Índia e a China, bem como de outros pequenos países semelhantes ao nosso, como, por exemplo, a Irlanda) é, pois, a falta de consciência de mundo e de iniciativa reflexiva, mas, sobretudo, a falta de empreendedorismo, de esforço e empenho responsáveis na acção… quer para superar o sistema (o que seria, hoje, tão improvável quão genial e salvífico!), quer tão-só para, simplesmente, nos adaptarmos a ele.
1 comentário:
Estava a escrever um texto com o intuito de analisar a sociedade. Estava a ponderar se a palavra "apatia" era uma boa escolha para descrever o espírito da gíria portuguesa. Queria transmitir um senso de falta de cor e falta de alma e por isso procurei no google imagens "apatia cor" para ver se apatia figurava o branco. Foi então que me deparei com esta bela imagem da bandeira Portuguesa e este fantástico texto. Muito bom!
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