sexta-feira, 16 de maio de 2008


Leituras…



…de esperança, com Olivier Reboul, A Filosofia da Educação, trad. port. de António Rocha e Artur Morão (Lisboa: Edições 70, 2000). Olivier Reboul (1925-1992), um dos mais importantes filósofos da educação do séc. XX, apresenta-nos, numa pequena obra editada em 1971 na conhecida colecção das P.U.F. "Que sais je?", uma estimulante síntese introdutória à Filosofia da Educação, na qual percorre, num estilo mais questionador do que resolutivo, as principais questões e aporias da educação: desde a definição da própria educação e das antinomias da pedagogia (constrangimento e desejo, transmissão e espontaneidade, incerteza e tecnicidade, ruptura e continuidade), passando pelas questões centrais da autoridade e do rigor e desembocando no húmus problemático essencial da filosofia da educação, que é a questão da relação entre educação e valores, analisando as tentações do positivismo, do relativismo e da indiferença e interpelando-se/nos sobre o que vale a pena ensinar.

A resposta de Reboul, para suscitar o interesse:

«Podemos então propor esta dupla resposta: vale a pena ensinar o que une e o que liberta.
O que une: sim, o que vale a pena ensinar é o que integra cada indivíduo, de um modo duradouro, numa comunidade tão vasta quanto possível. E é por isso que se ensina uma língua em vez de um dialecto, as ciências em vez do ocultismo, o autor seleccionado pela história em lugar de um romance que está na moda.
(…)
O que liberta, tal é o segundo critério. Ao fim e ao cabo o que há de comum entre as diversas disciplinas, entre a educação física, técnica, artística, intelectual e até entre os diversos ramos desta, o científico e literário? Justamente isso. A ginástica, a dança, o desporto libertam-nos das nossas durezas, faltas de jeito, crispações, desperdícios de energia. O ensino artístico: tem por objectivo formar imitadores ou criadores? Na nossa opinião, a oposição é fictícia, e o verdadeiro objectivo do ensino artístico é permitir a cada um fazer o que quer, pintar o que quer pintar e como quer pintar. O ensino intelectual, ao libertar dos chavões e dos preconceitos, permite expressar-se e pensar por si mesmo. Quanto à educação moral, ela não consiste em tornar as pessoas “conformes”, mas em libertá-las daquilo que as domina e as cega.» (pp.81-82)

A Filosofia da Educação é uma das áreas da reflexão filosófica que detém uma particular importância para educadores e professores, sobremaneira num tempo de crises e reformas educacionais em Portugal. (Como seria bom se estivesse integrada no curriculum de formação de professores!) A esperança renascerá para quantos tiverem acesso a este pequeno opúsculo de estilo problematológico e inquietante, mas profundamente esclarecedor da teia que entretece uma das mais nobres quão exigentes e complexas actividades humanas, que é a alimentação inacabada da liberdade com outros!

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