quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Responsabilidade intelectual, a propósito das críticas à ADD

Nem todas as emendas feitas à ADD pelo Ministério de Nuno Crato foram acertadas. O caso dos contratados não poderem aceder ao "excelente" é, obviamente, um desses casos, medida que apenas tem uma explicação economicista, compreensível, mas muito dificilmente aceitável. As quotas são, legitimamehte, um tema altamente discutível, pela injustiça que criam.

Mas, tirando mais um ou outro pormenor perfectível, penso que que as emendas vão no bom sentido. Por entre tantas críticas, muitas delas altamente ferozes, só ainda não consegui compreender que outro tipo de avaliação de professores poderíamos ter! Por exemplo, o que seria uma avaliação de desempenho docente sem a utilização do conceito de supervisão? Esta é uma das críticas predilectas de muitos, que talvez não dominem efectivamente o conceito (Terão frequentado o curso errado? Na instituição errada? Não terão consultado, criticamente, sequer um livrozito ou mesmo um sitezito que os esclareça? Qual a efectiva relação dos actuais professores com o conhecimento? Será tudo eduquês, por muito que muitos nem sequer saibam o significado do neologismo?)

Seria muito mais elevado e consonante com a actividade profissional de professor e concomitante responsabilidade intelectual, que se sugerissem formas de gerir a escola que temos hoje, as aprendizagens que temos e as que queremos e temos necessidade de ter e, portanto, neste caso, que se sugerissem modelos de aperfeiçoamento da actividade docente. Ou seremos sempre, todos, excelentes e, por isso, deixa andar assim que está tudo bem?!

Noutros países evoluidos vigoram sistemas de avaliação de professores que se baseiam (entre outros princípios, que começam agora a tomar forma neste nosso modelo revisto) no auxílio da supervisão para melhorar desempenhos profissionais. Será que por cá os simiescos vícios humanos (como as velhas inveja ou preguiça) inviabilizarão qualquer passo evolutivo?

É responsabilidade de cada um fazer o seu exame de consciência, mesmo não havendo deus, qual papá, para nos controlar!

P.S.: a juntar à inveja e preguiça há ainda a salientar a bonita (fica sempre bem) incapacidade de reconhecer o trabalho meritório dos outro, de aproveitar os seus contributos para melhorar o nosso e de querer fazer como eles!

(Este texto foi por mim previamente colocado como comentário a este post, no profblog.)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Fotografias

“The rock #1”
(Gibraltar, Agosto 2011)
© Miguel Portugal

“The rock #2”
(Gibraltar, Agosto 2011)
© Miguel Portugal
“The rock #3”
(Gibraltar, Agosto 2011)
© Miguel Portugal

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O que se passa com a ADD noutros países?

Neste momento, os professores portugueses estão preocupados com as alterações ao modelo de ADD. Alguns talvez excessivamente preocupados, quando talvez não estejam a ter o distanciamento crítico e serenidade necessários, que lhes permita verificar, sem mediação cega de sindicatos ou opinion makers, que as alterações propostas pelo governo talvez sejam, em geral, boas ou, pelo menos, que vão no bom sentido.

A minha posição é a de que estas alterações estão no bom caminho e que agora deveríamos passar a concentrar-nos noutras reformas de fundo no sistema educativo. O modelo de avaliação que começa agora a ser delineado vai no sentido de outros modelos há muito em vigor noutros países e, como naqueles, tem o intuito fundamental de contribuir para a melhoria do profissionalismo docente e, inevitavelmente, para a diferenciação qualitativa, promovendo e premiando a excelência. Melhorará o ensino e aprendizagem e dignificará a profissão.

A comparação com outros países é sempre uma forma de não nos sentirmos solitários. E num mundo globalizado, não parece colher mais o argumento das diferenças culturais e costumeiras dos portugueses, que só nos empurra para um país comodista, atrasado e pobre. Por exemplo, nos E.U.A., a preocupação é hoje a de melhorar os sistemas de avaliação de professores, muito semelhantes ao que está a nascer entre nós, sobretudo porque, veja-se, se pretende que o sistema de remuneração dos professores se baseie no desempenho profissional e não, como até agora tem acontecido, no tempo de serviço e graduação académica!

Veja-se um excerto de uma entrevista a Grover Whitehurst, director do Brookings' Brown Center on Education Policy (um think tank baseado em Washington, D.C.). E veja-se como nós estamos noutra fase, anterior (para não dizer atrasada!), da discussão – preocupados se somos ou não avaliados e como e porquê, quando deveríamos estar a passar esta página com alguma celeridade, com os olhos postos noutros aspectos essenciais do sistema educativo que exigem ser adaptados a um mundo exigente em que vivemos.


Seria, no mínimo, polémico em Portugal, não seria?! Mas talvez mais justo e motivador em termos profissionais, não? Talvez fosse bom tentar reflectir directamente nas ideias, com algum distanciamento e de modo menos preconceituoso e menos agarrado a bengalas cómodas (hábitos, sindicatos, partidos políticos…), para evoluirmos e fazermos evoluir o sistema educativo em Portugal.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Desejáveis aperfeiçoamentos futuros à ADD

A proposta de alteração à actual ADD não só está longe de ser perfeita (dizê-lo, não tem grande significado pragmático), como (e é isto, sobretudo, o que interessa) é perfeitamente perfectível. Creio que, mais tarde (próxima legislatura?), quando este tema da avaliação docente tiver serenado, haverá condições para introduzir alterações nesta proposta no sentido de intensificar o seu carácter formativo e alargar a sua aplicação.

Assim, embora compreenda esta moratória (dar passos pequenos e seguros é uma regra de ouro em reforma educativa), seria desejável a obrigatoriedade de mais observação de aulas nos primeiros escalões, já que a observação (supervisionada) de aulas é o verdadeiro instrumento avaliativo, com mais virtualidades formativas e de maiores consequências para o aperfeiçoamento profissional e, portanto, logicamente com mais eficazes consequências para a melhoria das aprendizagens dos alunos.

Na proposta actual, apenas haverá lugar a observação de aulas no ano probatório (que, depois de um estágio e de uma prova de ingresso na profissão será o culminar de um sólido início de carreira), no final do 2.º e 4.º escalões e, em qualquer altura, como requisito para obtenção de excelente. (A crítica de que esta alteração não premeia o mérito não é completamente justa, já que ninguém poderá ser considerado um excelente professor sem que isso não resulte da observação das suas aulas, núcleo central da sua actividade de excelência.) No entanto, creio que, numa lógica formativa, seria mais benéfico para a formação do professor no início de carreira, introduzir a obrigatoriedade da observação de aulas também no final do 1.º escalão, para não deixar passar tanto tempo sem observação de aulas (passar de um intervalo de 7 anos – demasiado –, para 3 anos).

A meio da carreira reduzir-se-ia a obrigatoriedade de observação de aulas (como na proposta actual – apenas na passagem ao 5.º escalão), pressupondo uma certa maturidade profissional e menos necessidade de auxílio de uma supervisão das actividades lectivas.

No final da carreira – tendo em conta todo este percurso formativo contínuo –, talvez fosse dispensável a obrigatoriedade de observação de aulas. E a própria avaliação interna poderia até deixar de fazer sentido no último ou últimos escalões (passando a facultativa), devendo no entanto ser mais exigente do que a actual proposta do governo: isenção apenas para docentes com uma maioria de classificações de muito bom ou excelente ao longo da carreira.

Naturalmente, mantendo a exigência da observação de aulas para a obtenção de excelente, em qualquer altura.

Mas tudo isto apenas faz sentido, se se laborar num paradigma de uma avaliação supervisionada (profissionalizada, feita por professores com formação científica mais elevada e com formação na área da supervisão – deixemo-nos de invejas primárias!), que anteceda os momentos de avaliação classificadora. Bem como apenas fará sentido se se acreditar na perfectibilidade orientada do docente (inclusive dos melhores!). Para tudo isto é preciso perceber que nem toda a Ciência da Educação é inútil (o tal “eduquês”, naturalmente a evitar!) e que há, por esse mundo fora, tentativas perfeitamente legítimas e muito úteis de produzir conhecimento na área da educação, quer ao nível da pedagogia em geral, quer ao nível das didácticas específicas.

Tenham os professores vontade de viver em abertura intelectual e crítica para com a progressão dos conhecimentos na área da educação e na sua área científica, muitos desses conhecimentos mediados por colegas especializados na investigação de tais progressos e cuja função é partilhá-los sistematicamente, que tal muito contribuirá certamente para a melhoria das suas práticas… que é o que todos queremos!

As críticas ao novo modelo de avaliação de professores

A proposta do governo de alteração da avaliação de desempenho docente (ADD), enviada aos sindicatos no dia 12 de Agosto, tem sido muito criticada por muitos professores. Há críticas para todos os gostos: a avaliação externa proposta (avaliadores de outras escolas) não resolve os problemas de parcialidade; os futuros avaliadores não terão qualificações suficientes para avaliar os colegas; deixar cair a dimensão ética, não é… ético; não se deveria isentar da avaliação os professores em final de carreira; entre outras. Os sindicatos, no seu interesse de sobrevivência política institucional, ainda somam a inadmissibilidade da existência de quotas. Fica a sensação, contudo, que se trata de crítica interessada – não querer avaliação, do lado de alguns professores (embora por várias razões); fazer oposição ao governo, do lado dos sindicatos, tentando travar a estratégia de Nuno Crato na tentativa de resolução deste problema e procurando algum protagonismo e mediatismo políticos.

Nos últimos dias tem crescido na blogosfera um movimento crítico das alterações propostas, mas, genericamente e com algumas excepções, com baixa qualidade argumentativa, com falta de capacidade globalizadora e sistemática (esquivando-se de uma perspectiva conjunta, refugiam-se facilmente na crítica parcelar), pobreza geral de ideias e, por vezes, deixando transparecer a perigosa ideia de que seria recusável qualquer tipo de avaliação mais exigente e eficaz.

Psicologicamente, compreende-se que muitos professores preferissem deitar completamente abaixo o actual modelo e erigir um novo. Mas a conjuntura exige que nos concentremos também noutras alterações importantes no sistema educativo – e o tempo urge – e as alterações propostas por Nuno Crato ao modelo de ADD são perfeitamente razoáveis e, além disso, vão ao encontro das principais reivindicações de muitos dos professores que defendem uma avaliação séria: menos burocrática, mais espaçada no tempo, conjugando avaliação interna com externa; formação específica para avaliadores; isenção de avaliação para professores em final de carreira.

O ministro Nuno Crato está a procurar um modelo negociado, para depois se dedicar a outras questões fundamentais do sistema educativo. É assim que deve ser e a conjuntura o exige. Negociação implica cedências de parte a parte. Mas esta negociação, nesta conjuntura económica, exige uma particularmente grande responsabilidade e um quase transcendente (para não dizer, infelizmente, quase impossível) sentido de serviço da parte de todos: governo, sindicatos e professores. Afinal, o que todos deveríamos querer era a melhoria integral do sistema educativo, com melhores condições de trabalho profissional para os professores (uma avaliação formativa e qualificada seria um bem para todos: melhorando tanto bons como maus professores – afinal é essa a utilidade da ADD!), com consequentes melhorias nas aprendizagens dos alunos e, consequentemente, maior progresso sócio-económico-cultural para a sociedade portuguesa.

Nesta fase, não basta fazer críticas esparsas e que denotam interesses menos legítimos – exige-se ou um modelo alternativo concreto ou contributos para aperfeiçoar a proposta do governo. Espera-se, pois, responsabilidade, bom senso e sabedoria.