sexta-feira, 29 de julho de 2011

Imbecis candidatos a doutores

Saber sempre foi difícil, embora também um prazer, para alguns. A dificuldade consiste num conjunto de actividades cognitivas que conduzem à aprendizagem. Aprender, mesmo, exige empenho, dedicação, esforço. Numa era da superficialidade, do comodismo, do facilistismo educacional, da desvalorização de princípios ético-sociais basilares assomam os comportamentos desviantes face à regulamentação que gere as aprendizagens.

Depois de candidatos a magistrados terem tido conhecimento prévio do teste de conhecimentos que iriam realizar -- protagonizando, juntamente com os órgãos directivos do CEJ, uma das maiores vergonhas nacionais dos últimos tempos --, foi agora a vez dos candidatos a advogados terem sido "apanhados" a copiar infantilmente. Com maior determinação do que no caso do CEJ, a OA anulou prontamente as provas dos 13 "malandros", que, contudo, poderão repeti-la em Setembro.

Marinho e Pinto defendeu a exclusão daqueles candidatos da magistratura. No caso destes candidatos a advogados, não: «Os juízes vão julgar os outros, é diferente».

Por muito diferentes que sejam, por muito mais elevada que seja, como é, a responsabilidade ético-social dos juízes, não deixa de ser plausível a ideia de que Marinho e Pinto está a ser corporativista, atenuando a infantil e irresponsável malandrice dos candidatos a advogados. Dir-se-ia que, já no acesso à Ordem, os advogaditos estão a treinar a melhor forma de ludibriar a lei, como quem diz, a melhor forma de criar diferenças individuais injustas perante a lei, ao conseguirem, por artimanhas ilegítimas, fazer com que os interesses de determinado indivíduo consigam prevalecer injustamente face aos dos outros. Nesse sentido, o advogado tem também uma responsabilidade ético-social elevada, que o obriga a defender (advogar) precisamente a justiça, que envolve sempre uma equidade perante a lei e uma veneração da verdade!

Esta atitude positiva (pelo menos, não negativa) face à fraude vem desde as mesas da escola, onde a pedagogia romântica aliada a algum laxismo docente (a começar, muitas vezes, pela inoperância dos órgãos directivos e pedagógicos das escolas), tem vindo a permitir a "liberdade" de actuação dos aprendizes de ser humano e a excluir toda e qualquer (boa) autoridade do adulto face ao desvio da criança e do jovem. Seria bom que se começasse a repensar -- finalmente! -- as finalidades da aprendizagem e da escola, a importância do saber e a magnanimidade dos princípios éticos da justiça e da verdade, caso não queiramos povoar a sociedade de falsos profissionais que defraudam legítimas expectativas dos seus concidadãos!

Boicote à racionalização da educação em Portugal

Nuno Crato, o Ministro da Educação e Ciência, está a tentar "arrumar a casa". Mas, ao que parece, as direcções gerais -- organismos intermédios do MEC -- poderão estar a boicotar as reformas e alterações racionalizadoras do sistema, que Nuno Crato está a levar a efeito.

Dois exemplos: há dois dias, era para acabar com os cursos de Educação e Formação de Adultos, ontem as escolas receberam um email a determinar a continuação destes cursos; há dois dias, o concurso por destacamento por ausência de compenente lectiva (DACL), a que muitos professores efectivos terão de recorrer por falta de horário, realizar-se-ia de 27 de Julho e 2 de Agosto, ontem foi alterada a data e passou a ser de 1 a 5 de Agosto.

Sera crível que estes avanços e recuos tenham sido ordens directas do MEC? Pelo contrário, Nuno Crato parece uma pessoa bastante determinada, coerente e racional para ter cometido tais erros. Trata-se, certamente, de boicote protagonizado por essa corja de luminárias que gravitam nessas direcções gerais em torno do empregozito e da militância partidário-ideológica e que, tal como fizeram a David Justino -- outro ME verdadeiramente reformista --, estão a tentar impedir, terroristamente, o trabalho honesto, rigoroso e racional de "arrumar a casa", uma casa que vive há muito numa bagunça insana.

Solução: o Ministro Nuno Crato terá que afirmar a sua autoridade e começar a arrumar a casa desde cima!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A importância da avaliação de desempenho docente

A escola presta um serviço público, ao mesmo tempo demasiado importante e complexo. Tanto devido à sua importância transcendente, como devido à sua enorme complexidade, o serviço prestado pela escola tem, necessariamente, de ser devidamente pensado, organizado, gerido e executado. É por isso importante que todos os intervenientes na prestação deste serviço sejam devidamente qualificados, competentes e empenhados, desde os governantes que tomam decisões estruturais, até aos professores que ensinam, passando pelas estruturas hierárquicas intermédias. A avaliação de desempenho docente é um dos instrumentos imprescindíveis para que o serviço prestado pela escola à sociedade seja gerido e executado tendo em vista a efectiva qualidade.

Há muitos professores que não compreendem esta perspectiva da escola, enquanto instituição que deve prestar contas à sociedade – uma sociedade cada vez mais complexa, no mínimo diferente – e que, por isso, deve ela própria estar em constante aperfeiçoamento e que, para estar em constante aperfeiçoamento, tem que ter processos de avaliação das suas práticas. Muitos professores – aqueles de que se conhece opinião – continuam a negar toda e qualquer avaliação, transmitindo uma concepção, por vezes, algo serôdia, de qualquer modo sempre surrealista da escola, como local onde os professores vão todos os dias ensinar, os alunos aprendem e está tudo bem. Quando não está, é porque é o governo ou a gestão ou os pais ou alunos ou… ou… Esquecem-se que, além de todos estes factores – que naturalmente interferem, por vezes de modo profundamente negativo, no processo educativo –, também o desempenho docente é um factor fulcral, senão o factor fulcral, e que pode ter escolhos a ultrapassar, que pode ter defeitos a anular, bem como aspectos a melhorar. E esquecem também – porque lhes falta uma visão de gestão, tout court – que a sociedade precisa de saber (tem esse direito) qual a qualidade do desempenho da escola, em geral, e dos professores, em particular. Como esquecem – por falta de uma perspectiva sociológio-política, digamos, liberal – que a sociedade tem o direito de exigir qualidade à escola e aos professores, uma qualidade possível, expectável, planeada. E esquecem que, para a escola ser devidamente gerida, para que possa fazer elevar, com eficácia, a qualidade do serviço prestado, para que possa servir devidamente a sociedade, tem que ter processos eficazes de avaliação.

Uma escola de qualidade é uma escola devidamente organizada, em que há um órgão de gestão ocupado por professores devidamente formados na área da gestão e administração escolar. Em que há estruturas intermédias ocupadas por professores devidamente formados em gestão escolar ou supervisão pedagógica ou com grau académico mais elevado ou com provas dadas (têm que ser objectivas) de uma experiência de qualidade excepcional. Em que há professores que são acompanhados, periodicamente, por supervisores pedagógicos, que os avaliam formativamente e que os classificam, de modo a que a gestão da escola possa saber exactamente o que é preciso fazer para melhorar o serviço prestado. Tudo isto para que possa existir um ambiente de qualidade (na gestão e execução), de responsabilização e de prestação de contas. Tudo isto de uma forma de tal maneira bem organizada, rigorosa, intelectual e profissionalmente elevada que quem chega como professor a uma escola destas se sinta “como peixe na água”: alguém que gosta de tal maneira de ser professor, que encara com grande maturidade, serenidade e entusiasmo até o facto de ter uma hierarquia qualificada que lhe exige qualidade e a quem responde directamente, de ter uma avaliação supervisionada, que o ajuda a melhorar o que faz menos bem ou a consolidar o que faz melhor e que, portanto, faz parte de uma instituição (um colectivo organizado) que presta um serviço de reconhecida qualidade.

Não há, pois, prestação de serviço educativo de qualidade sem uma gestão organizada, planeada e supervisionada desse mesmo serviço. Mas para isso é fundamental a consciencialização dos professores para este quadro paradigmático em que nos encontramos.

É, por isso, urgente elevar a qualidade da reflexão que os professores que estão hoje nas escolas portuguesas fazem do seu trabalho e da sua missão, da organização e missão da escola. Ser professor integrado numa instituição escolar é tão complexo como fulcralmente importante. Não é mais uma actividade simples nem automaticamente importante!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Avaliação de Desempenho Docente -- uma sugestão!

Eis um bom exemplo -- do District of Columbia, U.S.A. -- da eficácia produzida por um modelo de avaliação docente, rigoroso, objectivo e a pensar naquilo que se deve pensar -- melhorar o desempenho dos professores.

Quando se pensa num novo modelo para Portugal, seria bom dar, definitivamente, um grande e firme passo no sentido da efectiva qualidade do ensino em Portugal. Aguardemos.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Uma boa apologia dos exames

Há um ano, Aires Almeida, destacado professor de Filosofia e membro da Sociedade Portuguesa de Filosofia, publicava no Público uma apologia dos exames nacionais ("Valorizar os exames para valorizar a escola"), com a qual concordo, em geral, dado que destrói alguns preconceitos (uns de mero senso comum, outros marcadamente ideológicos) face aos exames e apresenta alguns bons argumentos para os tornar um indispensável instrumento (entre outros) de avaliação dos alunos e do sistema de ensino e um importante meio de recredibilização da escola.

Eis o texto integral:

«Aproximam-se os exames nacionais. Por esta altura milhares de estudantes do ensino secundário começam a sentir alguma ansiedade. Tal ansiedade, se não for excessiva, pode até nem ser indesejável. Ao logo das suas vidas pessoais e profissionais, os jovens irão provavelmente passar por situações idênticas, em que, num par de horas, muita coisa importante pode estar em jogo. É bom que estejam preparados para enfrentar tais situações e que sejam mesmo capazes de as encarar como oportunidades a aproveitar.

As coisas parecem complicar-se para alguns estudantes apenas quando não conseguem controlar a ansiedade e ficam num estado de grande nervosismo. Mas isso só acontece porque a realização de exames se tornou, no percurso escolar dos estudantes portugueses, uma coisa rara. Estivessem os estudantes habituados a exames e certamente seriam encarados com naturalidade.
Mas para quê fazer exames, afinal? Algumas pessoas acreditam que os exames nacionais não trazem qualquer vantagem ao processo de avaliação das aprendizagens dos estudantes e que, portanto, são dispensáveis. Há mesmo quem diga que os exames empobrecem e distorcem o processo de avaliação contínua desenvolvido pelos professores ao longo do ano lectivo. Argumentam frequentemente que 1) uma prova de exame nacional não permite avaliar a diversidade de aprendizagens e competências adquiridas durante todo um ano lectivo; que 2) é incorrecto e injusto deixar que o futuro dos alunos se decida numa só prova, podendo eles nem sequer estar nos seus melhores dias; que 3) tratam de forma igual o que é diferente, na medida em que os percursos de aprendizagem de cada aluno são os mais diversos e que 4) não permitem medir com o rigor apregoado o conhecimento dos alunos.
Acontece que nenhum desses argumentos é sólido. Curiosamente, alguns acabam por se refutar a si mesmos.

Atente-se no primeiro. É certo que nenhuma actividade ou instrumento de avaliação permite, isoladamente, avaliar todas as aprendizagens adquiridas pelos alunos. Mas isso só milita a favor da ideia de que a avaliação deve ser tão diversificada quanto possível. Ora, é uma verdade conceptual que um processo de avaliação sem exame nacional é menos diversificado do que um processo de avaliação com exame nacional. Dado que o exame nacional não substitui os instrumentos utilizados pelos professores nas aulas, antes se lhes acrescenta, ele contribui para enriquecer o processo de avaliação, ao invés de o empobrecer.

O segundo argumento tem subjacente uma premissa falsa, a saber, que tudo se decide numa prova de duas horas. Mas as provas de exame apenas contribuem, de forma algo modesta, para a média final de cada disciplina. De resto, ainda que isso não fosse falso, o mesmo raciocínio poderia ser aplicado a cada um dos testes realizados nas aulas. Também aí os alunos podem não estar nos seus melhores dias. Será, pois, que os testes também não devem contar? E será que, recorrendo ao mesmo tipo de argumento, se poderá anular a tal entrevista decisiva a que nos submetemos para obter o tão desejado emprego?

O terceiro argumento é simplesmente inconsistente com a existência de programas nacionais para cada disciplina. Se há programas nacionais, é suposto que os alunos cheguem ao fim do percurso tendo aprendido as mesmas coisas, independentemente do modo como lá chegaram.

Por sua vez, do facto de os exames não medirem tão rigorosamente quanto se supõe os conhecimentos adquiridos não se segue que os exames não tenham qualquer rigor. E muito menos se pode concluir que sejam dispensáveis. As melhores previsões meteorológicas também podem não exibir o rigor desejável, mas isso não as torna dispensáveis.

Em contrapartida, há várias boas razões para a existência de exames nacionais. Em primeiro lugar, introduzem um elemento de maior transparência e equidade no processo de avaliação dos alunos, permitindo também avaliar melhor o próprio sistema. Em segundo lugar, estimulam a excelência do ensino muito mais do que qualquer processo de avaliação dos professores, pois é sobretudo aí que eles se sentem realmente postos à prova quando ensinam. Em terceiro lugar, promovem nos estudantes uma atitude cognitivamente mais responsável e empenhada.

Todavia, isto só é possível com provas de exame bem concebidas. Uma prova bem concebida é uma prova que contenha alguma previsibilidade, mas que não apele ao “empinanço”. É, além disso, uma prova não demasiado longa e prolixa, dando tempo aos alunos para pensarem em vez de se exigir deles respostas apressadas. E não se devem deixar de fora disciplinas estruturantes, como a Filosofia.
A escola tem sido cada vez mais socialmente desvalorizada nos últimos tempos. Os exames podem contribuir para a revalorizar e lhe dar alguma credibilidade social. Uma escola sem exames é uma escola que corre o risco de se descredibilizar irremediavelmente.»

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Fotografias...

“Sombra de auto-retrato”
(Playa Bávaro, Punta Cana, Abril 2011)
© Miguel Portugal
“Mulher com barco à vela”
(Playa Bávaro, Punta Cana, Abril 2011)
© Miguel Portugal
“Apocalipse Now”
(Rio Chavon, República Dominicana, Abril 2011)
© Miguel Portugal

domingo, 10 de julho de 2011

Chamamento onomástico


Sócrates, o filósofo grego, questionava os jovens atenienses sobre o bem, a justiça -- a vida boa. Qual "moscardo", na expressão do inclassificável Nietszche, Sócrates, o filósofo grego, dedicava-se com paixão à filosofia, porque queria saber a verdade -- sobretudo, o que é, efectivamente, viver bem -- e conduzia os jovens com ele, porque queria levar os outros a prescrutá-la. Pensou até à morte, fez pensar e inspirou, não só Platão, mas toda uma civilização, a nossa, que ainda hoje prossegue na senda da verdade e dos mais eminentes e profundos valores humanos, do bem, do belo, da justiça.

Sócrates, o ex-Primeiro Ministro português, pediu licença sem vencimento na Câmara da Covilhã, onde detém o lugar de engenheiro técnico, para ingressar numa instituição universitária internacional. Vai estudar filosofia para Paris. Quando, há uns dias, soube desta revelação socrática, pensei em José Sócrates numa daquelas imensas salas da altiva Bibliotheque François Miterrand, a desfolhar L'Homme Revolté ou Le Mithe de Sisiphe, de Albert Camus, a embrenhar-se na dialéctica de Être et le Néan, de Sartre, ou a reflectir no problema ético com Soi-Même Comme an Autre, de Ricouer, sempre com l'inspirant de la Senne para lá das vidraças. Quando muito, a perder-se em movimentos descendentes e ascendentes pelas monumentais escadarias da galáctica Bibliotheque, com o vento na face, a pensar, com Camus, como, «em política, são os meios que justificam os fins»!

Mas, nunca me ocorreu que Sócrates, o ex-Primeiro Ministro português, fosse para a Sorbonne... participer à la Philosophie! Pensar nos erros -- sobretudo, de caracter ético -- cometidos nos últimos anos? Aprofundar a arte retórica?! Ou, quiça même, desbravar um novo e exaltante filão do pensamento filosófico-político contemporâneo...

Seja como for, trata-se de um verdadeiro e raro "chamamento onomástico", que leva Sócrates, o ex-Primeiro Ministro português, na peugada de Sócrates, o filósofo grego,... à Paris!