Sócrates, o filósofo grego, questionava os jovens atenienses sobre o bem, a justiça -- a vida boa. Qual "moscardo", na expressão do inclassificável Nietszche, Sócrates, o filósofo grego, dedicava-se com paixão à filosofia, porque queria saber a verdade -- sobretudo, o que é, efectivamente, viver bem -- e conduzia os jovens com ele, porque queria levar os outros a prescrutá-la. Pensou até à morte, fez pensar e inspirou, não só Platão, mas toda uma civilização, a nossa, que ainda hoje prossegue na senda da verdade e dos mais eminentes e profundos valores humanos, do bem, do belo, da justiça.
Sócrates, o ex-Primeiro Ministro português, pediu licença sem vencimento na Câmara da Covilhã, onde detém o lugar de engenheiro técnico, para ingressar numa instituição universitária internacional. Vai estudar filosofia para Paris. Quando, há uns dias, soube desta revelação socrática, pensei em José Sócrates numa daquelas imensas salas da altiva Bibliotheque François Miterrand, a desfolhar L'Homme Revolté ou Le Mithe de Sisiphe, de Albert Camus, a embrenhar-se na dialéctica de Être et le Néan, de Sartre, ou a reflectir no problema ético com Soi-Même Comme an Autre, de Ricouer, sempre com l'inspirant de la Senne para lá das vidraças. Quando muito, a perder-se em movimentos descendentes e ascendentes pelas monumentais escadarias da galáctica Bibliotheque, com o vento na face, a pensar, com Camus, como, «em política, são os meios que justificam os fins»!
Mas, nunca me ocorreu que Sócrates, o ex-Primeiro Ministro português, fosse para a Sorbonne... participer à la Philosophie! Pensar nos erros -- sobretudo, de caracter ético -- cometidos nos últimos anos? Aprofundar a arte retórica?! Ou, quiça même, desbravar um novo e exaltante filão do pensamento filosófico-político contemporâneo...
Seja como for, trata-se de um verdadeiro e raro "chamamento onomástico", que leva Sócrates, o ex-Primeiro Ministro português, na peugada de Sócrates, o filósofo grego,... à Paris!
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