A proposta do governo de alteração da avaliação de desempenho docente (ADD), enviada aos sindicatos no dia 12 de Agosto, tem sido muito criticada por muitos professores. Há críticas para todos os gostos: a avaliação externa proposta (avaliadores de outras escolas) não resolve os problemas de parcialidade; os futuros avaliadores não terão qualificações suficientes para avaliar os colegas; deixar cair a dimensão ética, não é… ético; não se deveria isentar da avaliação os professores em final de carreira; entre outras. Os sindicatos, no seu interesse de sobrevivência política institucional, ainda somam a inadmissibilidade da existência de quotas. Fica a sensação, contudo, que se trata de crítica interessada – não querer avaliação, do lado de alguns professores (embora por várias razões); fazer oposição ao governo, do lado dos sindicatos, tentando travar a estratégia de Nuno Crato na tentativa de resolução deste problema e procurando algum protagonismo e mediatismo políticos.
Nos últimos dias tem crescido na blogosfera um movimento crítico das alterações propostas, mas, genericamente e com algumas excepções, com baixa qualidade argumentativa, com falta de capacidade globalizadora e sistemática (esquivando-se de uma perspectiva conjunta, refugiam-se facilmente na crítica parcelar), pobreza geral de ideias e, por vezes, deixando transparecer a perigosa ideia de que seria recusável qualquer tipo de avaliação mais exigente e eficaz.
Psicologicamente, compreende-se que muitos professores preferissem deitar completamente abaixo o actual modelo e erigir um novo. Mas a conjuntura exige que nos concentremos também noutras alterações importantes no sistema educativo – e o tempo urge – e as alterações propostas por Nuno Crato ao modelo de ADD são perfeitamente razoáveis e, além disso, vão ao encontro das principais reivindicações de muitos dos professores que defendem uma avaliação séria: menos burocrática, mais espaçada no tempo, conjugando avaliação interna com externa; formação específica para avaliadores; isenção de avaliação para professores em final de carreira.
O ministro Nuno Crato está a procurar um modelo negociado, para depois se dedicar a outras questões fundamentais do sistema educativo. É assim que deve ser e a conjuntura o exige. Negociação implica cedências de parte a parte. Mas esta negociação, nesta conjuntura económica, exige uma particularmente grande responsabilidade e um quase transcendente (para não dizer, infelizmente, quase impossível) sentido de serviço da parte de todos: governo, sindicatos e professores. Afinal, o que todos deveríamos querer era a melhoria integral do sistema educativo, com melhores condições de trabalho profissional para os professores (uma avaliação formativa e qualificada seria um bem para todos: melhorando tanto bons como maus professores – afinal é essa a utilidade da ADD!), com consequentes melhorias nas aprendizagens dos alunos e, consequentemente, maior progresso sócio-económico-cultural para a sociedade portuguesa.
Nesta fase, não basta fazer críticas esparsas e que denotam interesses menos legítimos – exige-se ou um modelo alternativo concreto ou contributos para aperfeiçoar a proposta do governo. Espera-se, pois, responsabilidade, bom senso e sabedoria.
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