A propósito de uma obra crítica da "'cultura' de rede" (Andrew Keen, The Cult of the Amateur. How today's internet is killing our culture), JPP escreveu no Público de 8 de Setembro:
«(...) A pulsão igualitária e demagógica das massas, aquilo que antigamente se chamava a "psicologia das multidões", de facto varre muito dos quadros da cultura e saber tradicional, que julgam e com razão ser elitista. O "culto do amador" é apenas um dos sinais dessa tábua rasa demagógica que está de facto a "matar a nossa cultura" tal como a conhecemos. Se tudo ficar por aqui, caminha-se para uma nova barbárie.
A crítica de Keen e de outros "apocalípticos" falha ao menosprezar o enorme adquirido que se deu nestes mesmos 150 anos, a verdadeira revolução social, que permitiu a muitos milhões de pessoas, que viviam dominadas apenas pelo seu trabalho brutal e pela cultura "folclórica" tradicional, aceder a consumos que nunca tiveram e passar a ter voz em áreas que sempre lhes estiveram vedadas, seja como audiências de televisão, seja em estudos de mercado, seja em sondagens, seja comprando e votando. O efeito dessa voz cria uma enorme perturbação, degrada tudo, simplifica, confunde, mas, ao alterar sem retorno os equilíbrios elitistas do passado, gerou novas condições de democraticidade, competitividade e criatividade que também se verificam na rede.»
Mais um desafio para o sistema educativo, que sempre o foi, no fundo, desde, pelo menos, a modernidade: orientar a criança e o jovem no mundo cultural, na sua multifacetada polimorfia, dotando-o de um espírito suficientemente crítico e informado para lhe possibilitar a liberdade individual de analisar, definir, distinguir, sintetizar, problematizar, argumentar... o estar e ser no mundo!
É já lugar comum, embora ainda não destituído de sentido, afirmar a gigantesca tarefa que assoma ao professor (e agora, ainda por cima, considerado também "educador", para alargar as suas responsabilidades de actuação!). Mas não é demais pensar nisso, uma vez que o antídoto para o facto do pauperismo cultural decorrente da massificação apressada, superficial e acrítica da sociedade da "informação"(!) e da "comunicação", se encontra apenas e só na formação real basilar que crianças e jovens possam obter, apenas e só, na escola!
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