Mais uma greve, o mesmo de sempre: manifestação de profundo desagrado de pessoas desesperadas, abandonadas à precariedade sem regras e aos seus múltiplos flagelos sociais, psicológicos e culturais (o desalento diante do futuro não é apenas económico e social, mas também psicológico e cultural!); manipulação de resultados, por ambas as partes; inconsequência do acto de liberdade política, já que a obstinação autista do governo é, não restam dúvidas, de uma insensibilidade democrática que lembra até outros tempos.
Pense-se apenas nisto: por que razão (e não é daquelas que a razão desconhece, não senhor!) há uma tão imbecilizante discrepância quanto aos números de adesão à greve? Qual a necessidade de manipular os números? Por que razão as estruturas administrativos de um Estado de Direito (que expressão tão pomposa, tão politicamente correcta!) precisam de pressionar as instituições públicas no sentido de não veicularem informação aos jornalistas sobre o número de funcionários a aderir? Porquê a centralização da informação?! Serão os portugueses imbecis? Ou serão facilmente imbecilizáveis?! (A este propósito, vale a pena rir um pouco, pois o humor é uma virtude, um sinal claro de inteligência, um antídoto face a emoções fortes quando a indignação aperta e ainda um instrumento crítico valiosíssimo).
Tudo traços de um terceiro-mundismo crescente: insatisfação, desalento e cada vez menos capacidade crítica popular; manipulação de informação; totalitarismo disfarçado. E não nos esqueçamos que esta acefalia crescente da cidadania, que cada vez mais empobrece a capacidade crítica, atinge amplos sectores da sociedade, cujas pessoas parecem apenas almejar pouco esforço e muita alienação. Mas é isto que nos arrasta, como país, para o terceiro mundo social e cultural e não apenas económico!
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