O Diário de Notícias publica hoje um estudo que revela que, apesar do indíce de violência nas escolas ter diminuído cerca de 36% relativamente ao ano lectivo de 2005/6, ainda assim registaram-se, em 2006/7, 185 casos de agressões a professores.
A Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirma muito simplesmente que Portugal «não tem um clima de violência nas escolas, mas problemas que se podem considerar raros e circunscritos que é preciso resolver»; os dados «são muito animadores» e fazem uma «distinção clara entre violência e indisciplina», o que «vai permitir definir programas direccionados» para resolver os casos mais problemáticos.
A Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirma muito simplesmente que Portugal «não tem um clima de violência nas escolas, mas problemas que se podem considerar raros e circunscritos que é preciso resolver»; os dados «são muito animadores» e fazem uma «distinção clara entre violência e indisciplina», o que «vai permitir definir programas direccionados» para resolver os casos mais problemáticos.
É claro que este discurso cor-de-rosa, descaradamente populista e imbecilizante, apesar de assente nos benditos dados estatísticos -- a política parece já não ser outra coisa, senão gestão retórica de dados! --, não mostra grande respeito pelas três partes envolvidas nesta questão da violência escolar:
1. os professores agredidos não se sentirão reconfortados nem esperançados com estas palavras;
2. os próprios alunos em questão, se as ouvissem, não alterariam nem uma vírgula (digo, murro!), bem como os seus encarregados de educação não hão-de vislumbrar nelas qualquer benefício para os seus educandos prevaricadores (violentos também em casa? vítimas de violência doméstica?);
3. e a própria sociedade fica a saber, não que a ME repudia veementemente os actos violentos e tudo fará para que seja mais eficaz a sua prevenção e sanção e que tudo fará para que aquelas famílias tenham um efectivo acompanhamento técnico para criar condições mínimas para as crianças e jovens poderem beneficiar de facto da (para eles, salvífica) escola, mas fica a saber apenas que: os dados são «animadores» (está toda a gente contente e feliz!); depois, cada vez mais esclarecidos, ficam a saber que uma coisa é indisciplina outra é violência (problema meio resolvido, com esta distinção conceptual!); e, claro, há por aí muitos iluminados, daqueles que fazem citações de citações e que talvez nunca tenham pisado o chão de uma aula com alunos problemáticos, a preparem já «programas direccionados»!!
Afinal, o senhor PGR, Pinto Monteiro, não será propriamente um enfant terrible e parece compreender-se perfeitamente o que quer dizer ao dizer que a ME tem «minimizado» o problema da violência escolar.
Em suma: em Portugal os professores continuam a deslocar-se para as escolas para, uns melhores do que outros naturalmente, poderem fazer uma das coisas civilizacionalmente mais importantes que é ensinar e, a qualquer momento, podem ser agredidos (estamos a imaginar o que será isto ou estamos friamente a pensar em números?!); e a ministra da tutela, o melhor que consegue fazer é manifestar o seu ânimo!
2 comentários:
O ensino em Portugal está a atingir o limiar do absurdo.
É uma das maiores vergonhas nacionais.
José Carreira (www.cegueiralusa.com)
Estou convencido -- com base, não apenas naquilo que sinto, mas em factos e boas razões -- que talvez não seja mesmo muito dignificante e honroso pertencer a uma sociedade que teima em não conseguir organizar e organizar-se em torno do seu pilar fundamental, que é a educação.
A vergonha é apenas um sentimento; sentir faz parte do ser humano; mas, sentir vergonha deveria encorajar a mudança.
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