domingo, 10 de abril de 2011

Houve um congresso do PS? Que festa!


O chamado “Congresso” do PS – um partido pluralista, como gostam de o apelidar! – não parecia, de todo, um congresso. Foi mais uma festa. O unanimismo era tal, que de congresso do PS não teve praticamente nada. Um líder de saída, mas aclamado em sinal de que agora “estamos contigo, Zé!”, embora seja mais: “óh Zé!”, não nos queremos enterrar contigo! E, depois, não se percebe muito bem como não se tenha falado da situação grave do país, das negociações com Bruxelas e com o FMI, do futuro próximo de austeridade… Foi um "congresso" de um partido apostado em ludibriar até ao estertor final de Sócrates. Um congresso ficcional, num país ficcionado!

Salvo talvez as excepções de Jaime Gama, que lembrou a responsabilidade de um partido que, apesar de estar em campanha, também ainda é governo num altura extremamente complexa, e de Ana Gomes (para quem «a rosa não cheira bem»), que apresentou as principais críticas a esse mesmo governo, que poderiam ter sido assinadas por qualquer outro político minimamente atento ao interesse público, o que aconteceu este fim-de-semana mais parecia, como alguém disse, uma missa da IURD! E com um momento alto, de rasgado recorte místico – António Vitorino em êxtase, “Óh Zé! Óh Zé! Óh Zé!”

É, pois, com naturalidade que o Ministro das Finanças do governo PS afirme que o pacote de austeridade deve ser negociado com os partidos da oposição (!) e que um comissário europeu tenha que mandar calar esta gente! Este é o partido, agora ainda aturdido aos pés de Sócrates, que pretende fazer passar a mensagem do bom samaritano, único guardião nacional face ao suposto ataque dos bárbaros e, mais importante, fonte inesgotável de ideias (todas verdades absolutas, claro) para uma fase decisiva para o país, agora que terá mesmo que findar o limbo de embustes e retórica manipuladora.

Não é de estranhar que, ao olhar para Portugal, os leitores de “Astérix” por essa Europa e mundo civilizado fora soltem um estarrecido “estes portugueses são loucos!!” Mas ao contrário da lendária aldeia gaulesa, que resistiu heroicamente ao invasor romano, este cantinho da Europa ficará para a história como um magote de crianças, que, às turras, escarneciam do seu povo, enquanto deixavam os financiadores à espera!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Política de teleponto

Sócrates é, como sempre foi, o político espectáculo. Usa e abusa das velhas, mas revitalizadas e bem evoluídas técnicas retóricas. Manipula a bel-prazer. Faz o que quer da vida pública portuguesa. Banqueteia(m)-se.


Como profere o seu homónimo grego no texto platónico, a retórica apenas manipula um auditório ignorante, que não sabe o suficiente para julgar criticamente – «a retórica não tem necessidade de conhecer a realidade das coisas, basta-lhe uma certa técnica de persuasão que ela inventou para parecer, perante os ignorantes, mais sábia do que os sábios» (Platão, Górgias 459c).

O “nosso” Sócrates e assessores sabem-no bem! «Não é uma maravilhosa facilidade, Sócrates, sem qualquer estudo das outras artes, graças unicamente a esta, poder estar à altura de todos os especialistas?» (Idem.)

E Sócrates pode, como sempre pôde, brincar com as pessoas, jogar com o presente e o futuro de todos os portugueses, em troca de uma vida faustosa como político (e não só), para si e para os seus, mais directos ou indirectos colaboradores.

Mas isso não tem importância – ainda há 33% que gostam que brinquem com eles, que os manipulem, que os enganem… que os iludam – qual «ópio do povo». Marx defendia que, para o povo, o “ópio” mais atordoante era a religião; hoje, o “ópio” é a ilusão de uma vida cómoda, consumista e fácil! E quem melhor parece poder dar-nos tal paraíso nublado?!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O teclado e a caneta

Eis um debate interessante e actualíssimo, com a proliferação avassaladora das TIC na vida quotidiana do ser humano: será que ainda tem algum valor pedagógico continuar a ensinar caligrafia? Se escrevemos cada vez mais num teclado de computador e de forma mais rápida e comunicacionalmente mais eficaz, fará algum sentido continuar a ensinar as crianças a desenhar adequadamente as letras para que as suas palavras possam vir a ser eficazmente lidas por outros? Desenvolverá, ainda assim, outras competências indispensáveis, que o salvífico computador não desenvolve? E a importância e valor da estética? Discute-se nos EUA. (Via Profblog)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Boas razões para esperar um bom modelo

Santana Castilho esclareceu ontem no Público a conturbada e arriscada, mas corajosa, iniciativa parlamentar do PSD, BE, PCP e PEV para suspenderem o actual modelo de avaliação de desempenho docente, bem como clarifica os princípios orienadores da proposta do PSD para o futuro modelo, bem mais consistente e substancialmente bem mais próximo de um bom modelo, sejamos francos, do que o modelo (até me apetecia escrever "rasca") de pseudo-avaliação do PS!

Dar a pensar...

[Sobre a importância (prática) da filosofia política]

2.

«To simplify extravagantly, political views used to come in blocks, pre-packaged. If you were on the left, right, or somewhere in the middle, you knew what you thought about a wide range of issues, and you knew what your opponents thought too. This made life must easier. It was easier for politicians because they didn’t have to grope around trying to work out their precise position on difficult questions – the kind where competing considerations pulled in different directions. They just referred to their block of views, which usually supplied an answer. It was easier for voters because we knew which block politician subscribed to and could judge them by seeing what we thought about them, without getting involved in the messy details. (What we thought about it often depended on our identification with a particular party – usually the one we had inherited from our parents so there wasn’t all that much thinking going on in any case.)

Today we are suspicious to these pre-package blocks. Politicians are keen to leave behind the old dogmas and orthodoxies, to move beyond left and right, to adopt a mix-and-match approach. They have to make it up as they go along. They are willing to look at what works, to borrow good ideas from the other side. The centre-left seeks a “Third Way”. The right goes in for “compassionate conservatism”. This brings the charge of opportunism, of lacking any clear guiding principles. Politicians reply that they are not selling out; rather, they are adapting the traditional values of their party to a new context, which many include a electorate less sympathetic to those values than it used to be. Meanwhile, the parties converge, both rhetorically and in terms of policies, which makes it harder for voters to work out what they stand for. Political philosophy provides the tools that politicians, and the rest of us, require to work out what they – and we – really think about the values and principles that can guide us through these complexities.»

Adam Swift, Political Philosophy. A beginners’ guide for students and politicians (Cambridge: Polity Press, 2006, 2nd ed.) 2-3.