«Durante estas últimas décadas, em que o Estado dirigiu um combate prolongado (mas muito atrasado) pela obrigatoriedade (combate sempre intenso) e pela universalização (combate apenas regular) da educação, só em boa parte alcançado pela forte cooperação das famílias, as expectativas sociais face à escola cresceram desmesuradamente e a tendência que hoje prevalece é a de esperar dela o amparo social para tudo, a almofada para todos os males e impasses e para todas as crises sociais, num transbordamento de mandatos societais (Nóvoa, 2006) que é inquietante, tal é a cegueira que o envolve. António Nóvoa, ao analisar este transbordamento, identificou (…) diversos mandatos para a educação escolar: educação ambiental (mar e florestas), educação para a segurança e a protecção civil, educação para a preservação do património cultural, educação para a saúde e promoção de comportamentos saudáveis, educação alimentar e de hábitos de consumo, educação sexual, educaçºão rodoviária, educação para o combate aos maus-tratos, abusos sexuais e violência doméstica, educação para a cidadania, educação para a promoção de valores, educação física, a que acresce ainda a educação para empreender. E pergunta: “estamos preparados para enfrentar (este conjunto de missões)? Ou é mais fácil enviar tudo para dentro da escola e, depois, culpar quem lá está pelo “desastre da educação”?” (ibidem).
Ou seja, cabe perguntar: a escola foca-se hoje no dito amparo social ou na sua missão de ensinar e de fazer aprender, foca a sua missão em criar ambientes de aprendizagem capazes de promover percursos educativos concretos de qualidade para cada um? Ou foca-se em ambas as missões? E se se foca em ambas, com que especificidade o faz, no conjunto da sociedade, e com que equilíbrio com outras instituições sociais?»
Azevedo, J. (2011). Liberdade e Política Pública de Educação. Ensaio sobre um novo compromisso social pela educação. Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão, pp. 37-8.
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