No “Repositório” da Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro tropecei numa dissertação de mestrado, pequena peça (74 páginas) de excelso trabalho científico, que deveria dar prova de saber pensar e escrever sobre um tema, que, no entanto, muito me desgostou.
O desgosto facilmente se percebe numa rápida análise de alguns atropelos grotescos à gramática da língua lusa e às mais elementares técnicas de investigação, que não resisto a enunciar, a título exemplificativo.
No lugar de dois pontos, para passar a citar, o “mestre” usa uma vírgula: «F. Vieira (1993) faz a seguinte definição, “Supervisão pode definir-se como…»
Desconhece, com toda a certeza, o significado e valor lógico-sintático dos parêntesis: «Segundo (Estrela et al. 2002) os princípios importantes que estão inerentes à prática pedagógica são…» Não, não foi um lapso de escrita, é mesmo estilo próprio: «Segundo (Garmston, Lipton e Kaiser, citado em Oliveira-Formosinho, 2002, p. 24), são apontadas três grandes finalidades à supervisão…»
Ainda nas citações, repare-se na utilização, anómala, dos dois pontos entre o autor e a data de publicação da obra, quando o correto seria uma vírgula e os dois pontos para indicar a página (falha recorrente nesta prova de competência em investigação): «Logo (Alarcão & Tavares: 2003) “, o objectivo da supervisão…» E mais uma prova da ignorância do significado do parêntesis!
E mais este uso, no mínimo abusivo, de parêntesis, que tão facilmente era corrigido com o uso de vírgulas: «…e com um conjunto de competências, nomeadamente, o possuir uma visão aprofundada/discernimento (insight) (permite compreender o significado do que está a acontecer); ter capacidade de previsão (foresight) (importante para ver o que poderá acontecer); ter capacidade de retrovisão (hindsight) (importante para ver o que devia ter acontecido e não aconteceu); possuir uma segunda visão/intuição (second sight) (para saber como conseguir que aconteça o que deveria ter acontecido ou que não aconteça o que realmente aconteceu e não devia ter acontecido).»
E esta sintaxe? «Segundo Stones (1984), este relaciona a supervisão com a visão…»
E isto é aceite como uma dissertação de mestrado por uma instituição universitária! Porquê?! Bem, emendo: não é bem uma dissertação de mestrado; trata-se de um «Relatório Dissertativo (Tese) de mestrado». É diferente!
Mas, afinal, não deixa de ser um «Mestrado do 2º Ciclo em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário»! Haverá agora mestrados do 1.º ciclo? E mestrados do 3.º ciclo – também há?!
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