sexta-feira, 10 de agosto de 2007

“Uma no cravo, outra na ferradura!”

Duas coisas (e uma contradição) sobressaem na entrevista que deu hoje Mário Soares ao Diário Económico.

1. É lamentável que um homem conhecido, inclusive além fronteiras, como um eminente lutador pela liberdade, não só contra a ditadura do antigo regime, como lucidamente também contra a emergência de outro totalitarismo, desta feita de esquerda, pela altura do PREC, possa fazer uma incrivelmente infundada apologia do regime totalitarista de Hugo Chaves! Dizer que a Venezuela tem um regime democrático é dizer algo não só claramente falso, como ultrajante para os cidadãos venezuelanos, que vivem a experiência de (entre outras)... falta de liberdade! Desvalorizar o encerramento de um canal de televisão de ampla audiência, que diz mal do governo, e esquecer que os três canais privados que continuam a ter matéria para o fazer chegam, por cabo, apenas a 20% da população, é imperdoável a alguém que politicamente ainda quer ser levado a sério.

2. É agradável conceder ao fundador do socialismo democrático partidarizado em Portugal um bom senso político e um vívido sentido crítico – hoje raros na apatia do P.S. –, ao chamar a atenção ao governo para os seus desvios à política de tradição democrática, que sempre insuflou de ânimo e esperança a vida pública portuguesa depois do 25 de Abril – menos arrogância e autoritarismo e mais auto-crítica, mais diálogo, mais escuta... Afinal, para se governar democraticamente é, naturalmente, necessário ser-se democrata!

Mas se, por um lado, Mário Soares faz – com o seu anti-americanismo ao rubro – um inacreditável branqueamento do regime de Hugo Chaves e, por outro, mostra um oportuno e benfazejo bom senso na crítica ao autismo político do governo Sócrates, então – face a esta nítida contradição política (completada por mais algumas inverdades, designadamente no que toca ao défice que supostamente já estaria controlado!) – que crédito deve merecer esta entrevista a um dos mais proeminentes e importantes políticos da história da democracia portuguesa? (Talvez fosse bom, agora, que pudesse merecer todo o nosso crédito...!)

Sem comentários: