quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Aproxima-se um “JAMAIS!”?

O relatório de apuramento de causas do descarrilamento da passada sexta-feira na linha do Tua é… inconclusivo! Afinal, «na prática, as entidades envolvidas, limitaram-se a assegurar que estava tudo bem na parte que dizia respeito a cada uma delas». Quando há tantas cabeças responsabilizáveis por um acidente deste espectro vergonhoso é, paradoxalmente (já que a primeira função do Estado é zelar pela segurança de pessoas e bens!), bastante fácil fugir às responsabilidades. Principalmente quando, no fundo, isto não é um assunto de interesse nacional, nem prioritário e ainda é, pelo contrário, um daqueles temas incómodos que interessa esconder, protelar e fazer diluir no atoleiro do cadinho terceiro-mundista tão querido dos nossos competentes e corajosos governantes.

De qualquer modo, algo se está a fazer, estejamos descansados: quatro acidentes com quatro vítimas mortais depois… agora sim, o Ministro da tutela considera que vale a pena recorrer a uma equipa especializada independente para proceder à averiguação do estado da linha, das condições de segurança e adequação do material circulante à famigerada linha do Tua! Até porque há por aí, com certeza, muita gente ansiosa pela reabertura da linha, para mais um excitante passeio ferroviário num verdadeiro ambiente de terceiro mundo!

Estará para breve um “JAMAIS!”?

“Lost in Madrid”

(Museo del Prado)

Assim se intitulam algumas faixas do álbum “music from Siesta” de Miles Davies/Marcus Miller (1987), que aqui serve para expressar a ideia de quão acolhedora e interessante é a capital espanhola, que, mesmo debaixo de um calor tórrido, em pleno Agosto, consegue cativar o visitante mais exigente e fazê-lo perder-se na sua imensa sumptuosidade.

(Museo Reina Sofia)

A Gran Via, com o seu comércio efervescente, a Puerta del Sol com as suas ruas apinhadas de gente, as sumptuosas esplanadas aspergidas por suaves gotículas de água direccionadas por ventoinhas, espalhadas um pouco por todo o lado, a monumentalidade do Palácio Real, a Ópera, a Plaza Cibeles ou Atocha, a belíssima Plaza Mayor, com a sua arquitectura plena de interesse e os seus bares típicos, ou então o Paseo del Prado com os museus Thyssen, Prado ou Reina Sofia… tudo isto é capaz de preencher as expectativas do mais exigente turista em busca de novos mundos. Só os sumptuosos Museo del Prado e Museo Reina Sofia são capazes de absorver, pelo menos, dois dias de intensa e rica fruição, de Rafael, Goya, Bosch (uma “delícia”!) ou Velázques no primeiro, à arte contemporânea com presença magnânima do surrealismo de Dali, Miró e Picasso no segundo (a contemplação de “Guérnica” é sempre, reiteradamente, avassaladora…). A arte obriga-nos a ver (e a pensar): o belo, o sublime, mas também o trágico.

(Paseo del Prado)

Cidade limpa, bem organizada (sem arrumadores?!), acolhedora, multicultural e aparentemente segura (com policiamento visível em locais e horas estratégicas), Madrid é uma metrópole rica e fascinante. A não perder.

(Gran Via)


(Gran Via)


(Plaza Cibelles)

(Puerta del Sol)


(Ópera)


(Palácio Real)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

C’est la vie…! Ou a vergonha de um terceiro-mundismo persistente

Mirandela. Agosto de 2008, era moderna (!?). Um grupo de turistas, depois de se deleitar com a frugalidade dos espaços verdes, de lazer e desporto e do património arquitectónico da Princesa do Tua, de ter degostado os seus típicos fumeiro, queijaria e uma nova cozinha sustentada no melhor azeite virgem extra do mundo, resolve fruir os prazeres de uma serena viagem de comboio por uma das mais belas linhas férreas do mundo. Azar! Descarrilou!

Num lapso de tempo de cerca de um ano e meio, mais um (o quarto!) descarrilamento de uma composição do metro de superfície de Mirandela ao serviço da CP na linha ferroviária do Tua. Mais uma vítima mortal. E mais displicência nas declarações oficiais, designadamente do director de comunicação da CP, que, no meio de profícua verborreia politicamente correcta, comunica a profunda ideia de que a vida é um risco constante e que este descarrilamento faz parte das coisas que podem acontecer numa linha férrea… da CP!

Em lugar de comunicar a ideia de que tudo se fará para apurar as causas e as responsabilidades de mais um misterioso acidente ferroviário numa linha em vias de extinção devido à construção da barragem do Tua, e, portanto, transmitindo aos utentes da CP a ideia de que esta empresa tudo fará para assegurar as condições de segurança necessárias à circulação ferroviária em “todas” as linhas do país, comunica, ao invés, a trágica ideia romântica de que é, naturalmente, arriscado viajar em composições ferroviárias da CP ou ao serviço da CP!

Descarrilou mais um comboio na pequena, remota e insignificante linha transmontana do Tua?! Bom… “c’est la vie!” Mas, bom, também é mais uma prova do terceiro-mundismo que teima em caracterizar a forma como o nosso estado (e a nossa sociedade) está (des)organizado. E, ao que tudo indica, é mais uma estranha coincidência na novela dos interesses obscuros em torno da construção compulsiva de uma barragem que, de forma demasiado simplista (para não dizer simplória!), inviabilizará uma linha ferroviária de enorme valia histórico-patrimonial e paisagística e, portanto, de valor acrescentado em termos turísticos para uma região em que o turismo é demasiado importante.

Mas talvez ainda venha a suar um “jamais!” da parte da tutela, relativamente a acidentes completamente injustificados numa linha que teve mais acidentes neste ano e meio que talvez em todo a sua história de mais de um século! Mas, por favor, que ninguém se demita, que isso é característico de países desenvolvidos!

Quem inteligente, com espírito crítico e cultura política (que os há por estas bandas!) fica a aguardar (sentado, claro, para se não cansar!) pelo resultado atempado de mais um inquérito de apuramento de factos e de responsabilidades (ainda faltam dois, dos três acidentes anteriores!). Ou ninguém – como nos países do terceiro mundo – é responsável pelo que aconteceu? Mas também pessoas com aquelas características definidoras de uma cidadania consciente de mundo (que os há muitos por esse Portugal fora), sempre poderão pensar (e agir nesse sentido!) que uma empresa ferroviária que permite mais um estranho descarrilamento ferroviário nesta linha e cujo director de comunicação é capaz de comunicar aquela ideia justificativa completamente medíocre, irresponsável e desrespeitadora dos seus destinatários, merecerá um boicote aos seus serviços por esse país fora… Tal acto não seria apenas uma questão de prudência; seria, sobretudo, uma afirmação de cidadania digna.

Seja crítico – não viaje na CP!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A justiça começa agora... em Guantânamo

Eis a primeira condenação de detidos da prisão de Guantânamo (também aqui), no caso, do cidadão do Yémen Salim Ahmed Hamdan, motorista de Bin Laden, cujos advogados recorrerão da decisão. O caso de Hamdan ficará conhecido, não pela sua relevância dentro da organização terrorista Al-Qaeda, mas como o que despoletou os acórdãos do Supremo Tribunal dos E.U.A., que vieram a considerar ilegais as comissões de julgamento militar instituídas em Guantânamo e, assim, a conceder plenos direitos aos detidos suspeitos de participação em actos terroristas, designadamente de recurso hierárquico e, em última análise, aos tribunais civis. É um início simbólico de um dos casos de justiça que talvez possa vigorar nos anais da história como um dos mais complexos e polémicos, por envolver o conflito dos direitos indivíduais frente à (em clara colisão com a) segurança do Estado americano e do mundo (reflicta-se nisto, com Pojman).