quinta-feira, 19 de agosto de 2010



Dar a pensar...


1.
«Há um aspecto (…) importante, a valoração religiosa do trabalho profissional incessante, continuado e sistemático como meio de ascese mais eficaz e igualmente como a maneira mais segura e visível de comprovar a regeneração dos homens e a veracidade da sua crença. Esta foi a alavanca mais poderosa da concepção de vida que designámos por “espírito do capitalismo”. E, se a par desta libertação do desejo de lucro pusermos a limitação do consumo, o resultado está à vista: a formação de capital através da coacção ascética à poupança.
(…)
O poder da concepção de vida puritana favoreceu sempre, nas zonas onde chegou – e isto é bem mais importante que o simples incremento da acumulação de capital – a tendência para conduta económica racional da burguesia. Foi o seu único suporte consequente e o principal, foi a ama-seca do homo oeconomicus moderno.
(…)
O significado destes poderosos movimentos religiosos para o desenvolvimento económico residia, em primeiro lugar, na sua acção educativa ascética. Só desenvolveram verdadeiramente toda a sua força económica (…) após superado o auge do entusiasmo puramente religioso, quando a aplicação na procura do reino divino se dilui gradualmente em sóbria virtude profissional e a raiz religiosa deu lentamente lugar a um utilitarismo terreno. Esse desenvolvimento só se deu quando (…), na fantasia popular, Robinson Crusoe, o homem económico isolado que paralelamente faz um trabalho de missionário, toma o lugar do peregrino de Bunyan, que percorre a “feira das vaidades” guiado por uma solitária procura interior, em busca do reino dos céus.»

Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, trad. port. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão (Lisboa: Presença/Ad Astra et Ultra S.A., 2010) 190, 192, 193-4.

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