Um dos argumentos mais fortemente críticos do fenómeno da globalização, entrados que estamos numa fase altamente acelerada no último meio século, é o do perigo da homogeneização cultural – uma cultura (a ocidental, em particular a americana) disseminar-se-ia de tal modo, que se tornaria dominante, acabando por elidir toda a diversidade cultural, antropologicamente tão rica.
Mas antes de considerações axiológicas (ser bom ou mau), devemos atender a questões de facto – essa homogeneização parece não estar a acontecer, pelo menos nos moldes algo simplistas como os seus críticos inicialmente denunciavam.
Joel Waldfogel e Fernando Ferreira, da Wharton School (escola de gestão da Universidade da Pensilvânia), examinaram as canções que estiveram nas tabelas de música pop mais vendidas de 22 países, entre 1960 e 2007, e depois compararam a quota de cada país no mercado da música pop com a dimensão da sua economia.
Claro que os sucessos americanos dominavam, representando 51% dos discos vendidos durante este período. Mas ajustado ao PIB, a Suécia (quem não se lembra dos bem sucedidos ABBA?) lidera, seguida da Grã-Bretanha. Ao contrário da crítica que alerta para uma americanização da cultural, o que está a acontecer é que há mais pessoas em todo o mundo a ouvir música dos seus países de origem – os artistas estrangeiros representam agora, segundo o estudo, apenas 30% do top de cada país, bem menos do que os 50% registados nos anos 80.
É certo que os artistas mais populares em todo o mundo fazem música rock e hip hop com uma sonoridade tipicamente americana e ainda há uma nítida vantagem em cantar em inglês. Mas o referido estudo mostra que, no lugar de uma monocultura americanizada, os países mais pequenos estão a tornar-se intervenientes significativos no mercado mundial da música.
Fonte:
Joshua Keating, “O poder do soft rock. Terá o domínio cultural americano encontrado a sua Waterloo?”, Foreign Policy - Edição FP Portugal, n.º 18 (Outubro/Novembro 2010) 16.
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