Numa entrevista televisiva de hoje, uma das manifestantes de jovens indignados queixava-se da vida: três aulas por semana numa escola e mais umas aulas de música a recibos verdes; € 400 mensais; a tragédia completa-se quando a geração dos seus pais, com a sua idade (trinta e poucos) já tinha uma casa e os filhos quase criados.
Pois. Esquece-se a jovem indignada que a geração dos seus pais, por falta de emprego, mas também de qualificação (o que “parece” nem ser o caso, hoje!), teve que emigrar; e foi com francos ou marcos, que receberam em troca de trabalho árduo (não emprego estável, no Estado, a polir as esquinas dos gabinetes), que construíram o seu quarto de bonecas!
Vivemos uma crise económica e financeira e os ditos "jovens indignados" ainda não se aperceberam que também vivemos uma crise atitudinal – a “geração à rasca” dos agora supostamente indignados cresceu num limbo atordoante de miragens facilitistas, hiperconsumistas e de vida enlatada, pronta a servir, do qual dificilmente vão sair em tempo útil.
O que mais me preocupa (não, não me surpreende – preocupa, mesmo!) é a total desfaçatez face à realidade de uma quantidade enorme de jovens (não são todos, obviamente) desta dita “geração à rasca”. Além de terem uma total ausência de conhecimentos de economia (teórica e prática!) – o que, nos dias de fast food educativo que correm não causa grande admiração – ainda conseguem não ter, muito natural e desavergonhadamente, qualquer proposta alternativa exequível, justa e minimamente refletida ao atual status quo.
O capitalismo está em crise. Mas talvez nunca se tenha visto uma esquerda (ou o que resta dela) intelectualmente tão esvaziada de ideias, uma sociedade civil tão ineficaz analiticamente e, consequentemente, movimentos contestatários tão (desculpem, mas…) ridículos.
Eles teimam em não tirar a venda dos olhos. Mas como necessário é começar por ver...
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