Comemora-se hoje o Dia Internacional da Filosofia, por proposta da UNESCO, que tem vindo a fazer um esforço persuasivo de divulgação da importância da aprendizagem da filosofia (Veja-se, a propósito, uma boa síntese num livro recente).
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A filosofia faz-se colocando questões tão inquietantes quão importantes para o ser humano, procurando teorias para tentar responder-lhes e arquitectando argumentos para sustentar essas teorias e ou para refutar teorias adversas. Este empreendimento começou, no Ocidente, há cerca de 2.500 anos, na Grécia antiga, e desde então tem sido estruturante na nossa civilização. Os gregos inauguraram apenas a atitude inquiridora e crítica, que, por constituir talvez a essência última do conhecimento, perdurará tanto quanto a espécie humana. Os gregos, porque inventaram este tipo de saber, inventaram também a escola – tempo livre concedido aos jovens, para apreenderem as conquistas da cultura no desbravar do conhecimento.
O ensino da filosofia tem, em Portugal, uma longa tradição – somos dos países em que há mais tempo se ensina filosofia no ensino secundário. A sua importância é visível em todos os sistemas de ensino modernos, independentemente da sua concretização curricular. Nos países de tradição e influência anglo-saxónicas, por exemplo, a filosofia não faz parte do desenho curricular do ensino secundário, mas as suas principais áreas são leccionadas nos primeiros anos dos cursos universitários. E a sua importância não diminuiu, como se poderia ser levado a pensar, numa época avassaladoramente dominada pela ciência e pela tecnologia. A filosofia é, pelo contrário, uma área de investigação presente em todas as grandes universidades do mundo, incluindo as universidades tecnológicas. A título exemplificativo, veja-se o caso do M.I.T., talvez a maior universidade tecnológica do mundo, onde se faz “investigação de ponta”, por exemplo na área transdisciplinar que é a Inteligência Artificial: o M.I.T. tem um departamento de Filosofia da Mente! O M.I.T. é, note-se, uma instituição privada, que recebe milhões de dólares anuais de donativos – investir no conhecimento é um acto uinteligente; investir no conhecimento é também investir na filosofia!
Ensinar filosofia no ensino secundário, para além de desvantagens, tem, entre outras, a vantagem de encontrar os jovens num estado de desenvolvimento intelectual e emocional propício ao pensamento crítico. E aprender filosofia no ensino secundário permite: 1. adquirir conhecimentos fundamentais para compreender, não só ou nem tanto as raízes culturais onde a nossa civilização está ancorada, mas sobretudo para compreender a teia problematológica da nossa contemporaneidade; bem como permite 2. adquirir competências de pensamento crítico, argumentativo, dialógico e inquiridor, competências sem as quais não é possível a inevitável cidadania, mas em que também a sua ausência dificultaria em muito o verdadeiro desenvolvimento pessoal, social, cultural e até económico (!), que é especificamente humano.
A falta de coerência política no seio do M.E. em Portugal, nas últimas décadas e que tem vindo a agravar nos últimos anos, tem conduzido o ensino da filosofia numa inaudita e confusa “trapalhada”: precipitações nas (boas) remodelações programáticas; introdução de um exame no final do ensino secundário, com valor de prova específica de acesso ao ensino superior; retirada desse mesmo exame no ano seguinte; proibição das universidades exigirem para alguns cursos apenas o exame de filosofia como prova específica de acesso; proibição reiterada no ano seguinte (o corrente), em que o exame de filosofia deixará de constituir prova específica para qualquer curso…É, no mínimo, ridículo pensar que uma universidade que admite estudantes para um curso de filosofia, não pode testar os conhecimentos e competências filosóficas que os candidatos adquiriram no ensino secundário!
A avaliação externa é, sabe-se hoje, um instrumento pedagógico indispensável para a regulação do sistema de ensino, permitindo, de facto, um maior aprofundamento das temáticas leccionadas e uma mais eficaz aprendizagem de conhecimentos e competências.
O M.E. ainda não conseguiu explicar porque razão retirou a obrigatoriedade do exame de filosofia no final do 11.º ano do ensino secundário, nem tão pouco por que razão deixou de ser prova específica de acesso. Como não há razões científico-pedagógicas, as que sobram são razões empobrecedoramente políticas – continuar na senda do populismo demagógico, facilitando ainda mais a conclusão (mais virtual do que real) do ensino secundário e o acesso (inquinado) ao ensino superior. O próximo passo será acabar com o ensino da filosofia no ensino secundário? Estará em preparação, contra todas as indicações, inclusive da UNESCO, mais um crime contra a filosofia, desta feita privando os jovens, futuros cidadãos, do acesso à sua aprendizagem?
Trata-se da política virtual do facilitismo castrador no seu melhor, cujos protagonistas esquecem irresponsavelmente que não é líquido que um governo democrático deva fazer aquilo que as pessoas querem, mas talvez, pelo menos em áreas tão fundamentais, como é a educação, deva fazer aquilo que é bom para as pessoas e que elas acabariam por desejar, caso pudessem empreender uma reflexão aprofundada e objectiva sobre os seus verdadeiros interesses! (Como diria Bertrand Russel, caso tivessem “umas tintas de filosofia”!)
O ensino da filosofia tem, em Portugal, uma longa tradição – somos dos países em que há mais tempo se ensina filosofia no ensino secundário. A sua importância é visível em todos os sistemas de ensino modernos, independentemente da sua concretização curricular. Nos países de tradição e influência anglo-saxónicas, por exemplo, a filosofia não faz parte do desenho curricular do ensino secundário, mas as suas principais áreas são leccionadas nos primeiros anos dos cursos universitários. E a sua importância não diminuiu, como se poderia ser levado a pensar, numa época avassaladoramente dominada pela ciência e pela tecnologia. A filosofia é, pelo contrário, uma área de investigação presente em todas as grandes universidades do mundo, incluindo as universidades tecnológicas. A título exemplificativo, veja-se o caso do M.I.T., talvez a maior universidade tecnológica do mundo, onde se faz “investigação de ponta”, por exemplo na área transdisciplinar que é a Inteligência Artificial: o M.I.T. tem um departamento de Filosofia da Mente! O M.I.T. é, note-se, uma instituição privada, que recebe milhões de dólares anuais de donativos – investir no conhecimento é um acto uinteligente; investir no conhecimento é também investir na filosofia!
Ensinar filosofia no ensino secundário, para além de desvantagens, tem, entre outras, a vantagem de encontrar os jovens num estado de desenvolvimento intelectual e emocional propício ao pensamento crítico. E aprender filosofia no ensino secundário permite: 1. adquirir conhecimentos fundamentais para compreender, não só ou nem tanto as raízes culturais onde a nossa civilização está ancorada, mas sobretudo para compreender a teia problematológica da nossa contemporaneidade; bem como permite 2. adquirir competências de pensamento crítico, argumentativo, dialógico e inquiridor, competências sem as quais não é possível a inevitável cidadania, mas em que também a sua ausência dificultaria em muito o verdadeiro desenvolvimento pessoal, social, cultural e até económico (!), que é especificamente humano.
A falta de coerência política no seio do M.E. em Portugal, nas últimas décadas e que tem vindo a agravar nos últimos anos, tem conduzido o ensino da filosofia numa inaudita e confusa “trapalhada”: precipitações nas (boas) remodelações programáticas; introdução de um exame no final do ensino secundário, com valor de prova específica de acesso ao ensino superior; retirada desse mesmo exame no ano seguinte; proibição das universidades exigirem para alguns cursos apenas o exame de filosofia como prova específica de acesso; proibição reiterada no ano seguinte (o corrente), em que o exame de filosofia deixará de constituir prova específica para qualquer curso…É, no mínimo, ridículo pensar que uma universidade que admite estudantes para um curso de filosofia, não pode testar os conhecimentos e competências filosóficas que os candidatos adquiriram no ensino secundário!
A avaliação externa é, sabe-se hoje, um instrumento pedagógico indispensável para a regulação do sistema de ensino, permitindo, de facto, um maior aprofundamento das temáticas leccionadas e uma mais eficaz aprendizagem de conhecimentos e competências.
O M.E. ainda não conseguiu explicar porque razão retirou a obrigatoriedade do exame de filosofia no final do 11.º ano do ensino secundário, nem tão pouco por que razão deixou de ser prova específica de acesso. Como não há razões científico-pedagógicas, as que sobram são razões empobrecedoramente políticas – continuar na senda do populismo demagógico, facilitando ainda mais a conclusão (mais virtual do que real) do ensino secundário e o acesso (inquinado) ao ensino superior. O próximo passo será acabar com o ensino da filosofia no ensino secundário? Estará em preparação, contra todas as indicações, inclusive da UNESCO, mais um crime contra a filosofia, desta feita privando os jovens, futuros cidadãos, do acesso à sua aprendizagem?
Trata-se da política virtual do facilitismo castrador no seu melhor, cujos protagonistas esquecem irresponsavelmente que não é líquido que um governo democrático deva fazer aquilo que as pessoas querem, mas talvez, pelo menos em áreas tão fundamentais, como é a educação, deva fazer aquilo que é bom para as pessoas e que elas acabariam por desejar, caso pudessem empreender uma reflexão aprofundada e objectiva sobre os seus verdadeiros interesses! (Como diria Bertrand Russel, caso tivessem “umas tintas de filosofia”!)
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