O Presidente da República cooperou estrategicamente com o governo de Sócrates, por concordar com o seu inicial ímpeto reformista e por discordar do rumo do seu partido. A forma autoritária e pouco dialogante de Sócrates e, sobretudo, as traições cometidas (como o Estatuto dos Açores), bem como uma nova orientação do PSD do agrado de Cavaco Silva, com a chegada de Ferreira Leite, fizeram crescer o conflito político, relegando a relação entre ambos – Presidente e Primeiro-Ministro – para uma tolerável relação puramente institucional.
Mas mesmo esta estava fadada para se quebrar: o caso da alegada participação dos assessores do Presidente na elaboração do programa do PSD e o ultimato arrogante e institucionalmente impróprio dos deputados socialistas que o pressionaram a esclarecer o caso, bem como as suspeitas de falta de segurança em Belém e eventual vigilância exercida pelo governo, fizeram perder a paciência ao homem político, que, apesar de Presidente da República, não deixa de ser, com todo o direito, um zoon politikon – um “ser vivo político”, alguém que tem ideias (e qualidades e vontade de as defender) sobre a melhor forma de gerir a vida pública.
Quanto a escutas, é bem possível que as não haja. Apesar do clima que o PS e o governo liderado por José Sócrates sempre imprimiu à governação e ao modo como lidou com os seus opositores ter, irremediavelmente, provocado receios públicos em manifestar opinião mais crítica, na tomada de posição pública, no exercício de decisões contrárias à vulgata socialista (sim, porque casos houve em que existiram represálias, não se tratou de mera invenção). E a suposta ignorância informática de Cavaco (com a qual tanta gente, algo ingenuamente, já tem gracejado), ao aparentar espanto pelo seu sistema informático estar vulnerável, pode muito ser justamente uma hábil aparência (afinal, o seu discurso está pleno de conteúdo latente) – o que Cavaco pode estar a querer dizer é que, como o seu sistema informático é, como qualquer outro, vulnerável, as suas dúvidas acerca da possibilidade de poder ser vigiado não se podem dissipar.
Quanto ao aproveitamento político do fantasma das escutas (termo utilizado à boca cheia por quem interessado na desmesura e na suposta “inventona”), é claro como o PS aproveitou o erro político de Cavaco, ao ter permitido que se avolumassem tais suspeitas, para o “colar ao PSD” e para fugir ao debate dos verdadeiros problemas do país. E o PSD, refém da que viria a ser percepcionada como a traição cavaquista (embora seja injusto não compreender que Cavaco viveu legitimamente dividido entre o espírito de missão em torno dos interesses nacionais e a hipótese do atempado esclarecimento da questão, o que sempre lhe poderia valer a acusação de querer beneficiar o PSD), perdeu-se na “asfixia democrática”, quando deveria ter discutido os outros problemas centrais do país.
O cargo de Presidente da República também é um cargo político, desempenhado por um homem político, que está a fazer política. Teria sido evitável? “Ninguém é de ferro”. Será oportuno, neste momento? Talvez até seja mesmo.
Mas mesmo esta estava fadada para se quebrar: o caso da alegada participação dos assessores do Presidente na elaboração do programa do PSD e o ultimato arrogante e institucionalmente impróprio dos deputados socialistas que o pressionaram a esclarecer o caso, bem como as suspeitas de falta de segurança em Belém e eventual vigilância exercida pelo governo, fizeram perder a paciência ao homem político, que, apesar de Presidente da República, não deixa de ser, com todo o direito, um zoon politikon – um “ser vivo político”, alguém que tem ideias (e qualidades e vontade de as defender) sobre a melhor forma de gerir a vida pública.
Quanto a escutas, é bem possível que as não haja. Apesar do clima que o PS e o governo liderado por José Sócrates sempre imprimiu à governação e ao modo como lidou com os seus opositores ter, irremediavelmente, provocado receios públicos em manifestar opinião mais crítica, na tomada de posição pública, no exercício de decisões contrárias à vulgata socialista (sim, porque casos houve em que existiram represálias, não se tratou de mera invenção). E a suposta ignorância informática de Cavaco (com a qual tanta gente, algo ingenuamente, já tem gracejado), ao aparentar espanto pelo seu sistema informático estar vulnerável, pode muito ser justamente uma hábil aparência (afinal, o seu discurso está pleno de conteúdo latente) – o que Cavaco pode estar a querer dizer é que, como o seu sistema informático é, como qualquer outro, vulnerável, as suas dúvidas acerca da possibilidade de poder ser vigiado não se podem dissipar.
Quanto ao aproveitamento político do fantasma das escutas (termo utilizado à boca cheia por quem interessado na desmesura e na suposta “inventona”), é claro como o PS aproveitou o erro político de Cavaco, ao ter permitido que se avolumassem tais suspeitas, para o “colar ao PSD” e para fugir ao debate dos verdadeiros problemas do país. E o PSD, refém da que viria a ser percepcionada como a traição cavaquista (embora seja injusto não compreender que Cavaco viveu legitimamente dividido entre o espírito de missão em torno dos interesses nacionais e a hipótese do atempado esclarecimento da questão, o que sempre lhe poderia valer a acusação de querer beneficiar o PSD), perdeu-se na “asfixia democrática”, quando deveria ter discutido os outros problemas centrais do país.
O cargo de Presidente da República também é um cargo político, desempenhado por um homem político, que está a fazer política. Teria sido evitável? “Ninguém é de ferro”. Será oportuno, neste momento? Talvez até seja mesmo.
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