Vários casos de pedofilia praticados por membros da Igreja têm vindo a público. Jurididicamente falando, estamos na presença de crimes, que devem ser investigados e os criminosos punidos. Do ponto de vista moral, a reprovação é dupla: não só é mau pelas mesmas razões de qualquer acto pedófilo, como também pelo facto de terem sido praticados por membros de uma instituição religiosa, que, para além da sua vertente metafísica, tem uma concomitante vertente moral e moralizadora, que passa, entre outros, justamente pelo respeito pelos mais fracos e inocentes. Como tal, cabe a cada um dos seus membros uma coerência e consistência harmonizadora das ideias com as acções bem mais elevadas do que em qualquer outro ser humano.
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Naturalmente que a Igreja, como um todo, não deve ser tida como responsável pelos crimes praticados por parte dos seus membros, o que constitui, quando é feita esta generalização precipitada (como naturalmente tem sido tendência), um raciocínio falacioso. Mas a Igreja é responsável, enquanto instituição, pelo encobrimento deliberado e consciente de centenas de casos, que as cúpulas da instituição se permitiram fazer, acrescentando assim outra reprovação ética, desta feita a da ocultação de actos tão bárbaros.
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Acresce a titubeante, quando não infeliz, forma como altos dirigentes eclesiásticos têm tentado atenuar ou mesmo branquear os factos, a posteriori. Excessivamente abusiva foi mesmo a correlação feita pelo Cardeal Tarcísio Bertone, no Chile, entre pedofilia e homossexualidade, atiçando, infundadamente, esta orientação sexual como causa daquele criminoso desvio sexual. A perfídia intelectual (eticamente muito reprovável) foi ao ponto da utilização completamente descuidada da falácia da autoridade, ao invocar supostos "estudos" (curiosamente!) científicos em abono desta preconceituosa e intolerante tese.
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O que seria honesto e eticamente irrepreensível era, simplesmente, a Igreja admitir, consistente e inequivocamente, a existência de autores de crimes hediondos desta jaez entre os seus membros, colaborar com a justiça e retirar daí as devidas consequências institucionais. A instituição sairia fortalecida pela verdade: mostrava ser também, irremediavelmente, feita de homens, mas sem esquecer a magnânima justiça, como valor ético-moral supremo.
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A desonestidade intelectual e ética fica sempre mal, sobremaneira a pessoa ou instituição qualificada que exerce função qualificadora e humanamente importante -- a sê-lo...!
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