Dar a pensar…
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«(…) o ganho de dinheiro, e de cada vez mais dinheiro, com a mais estrita abstenção de todos os prazeres simples, tão completamente despido de todas as perspectivas eudemonistas ou mesmo hedonistas é de tal modo considerado [no “espírito do capitalismo” do séc. XIX] um objectivo em si que em comparação com a “felicidade” ou o “proveito” do indivíduo parece algo de completamente transcendente e puramente irracional. O ganho é considerado como objectivo da vida do homem e já não como meio de satisfazer as suas necessidades materiais. Esta inversão dos factos “naturais”, se assim lhes quisermos chamar, sem sentido para uma sensibilidade simples, é manifestamente um leitmotiv do capitalismo, que se mantém alheio aos homens que não são movidos por ele. Mas, simultaneamente, ela encerra uma série de sentimentos que têm muito a ver com certas concepções religiosas. Com efeito, ao colocar-se a questão de saber por que deve “o homem fazer dinheiro”, responde Benjamin Franklin (…), na sua autobiografia, com uma citação da Bíblia (…): “Se vires um homem activo na sua profissão, ele tem a dignidade dos reis” [Sal., c, 22, v. 29]. O ganho de dinheiro é – na medida em que se processar dentro de formas legais – na ordem económica moderna o resultado e a expressão da capacidade profissional (…).
Com efeito, esta ideia particular, tão corrente nos nossos dias e, em boa verdade, tão pouco evidente do dever profissional (Berufsplicht) (…) é própria da “ética social” da cultura capitalista, tendo para ela, em certo sentido, um significado constitutivo fundamental. (…) A ordem económica capitalista dos nossos dias é um universo de grandes proporções, que os indivíduos encontram ao nascer, e que constitui para cada um deles, pelo menos enquanto indivíduo, um contexto que não se pode modificar e onde se terá de viver. Este cosmos impõe ao indivíduo, na medida em que se encontra inserido nas relações de mercado, as normas da sua acção económica. O fabricante que desrespeite reiteradamente estas normas é economicamente eliminado, tão infalivelmente como o trabalhador que a elas não possa adaptar-se ou que não o queira fazer é posto na rua, passando à situação de desempregado.
O capitalismo, que conseguiu nos nossos dias o domínio da vida económica, educa e cria assim, pela selecção económica, os sujeitos económicos – empresários e trabalhadores – de que necessita.
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, trad. port. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão (Lisboa: Presença/Ad Astra et Ultra S.A., 2010) 51-53.
Com efeito, esta ideia particular, tão corrente nos nossos dias e, em boa verdade, tão pouco evidente do dever profissional (Berufsplicht) (…) é própria da “ética social” da cultura capitalista, tendo para ela, em certo sentido, um significado constitutivo fundamental. (…) A ordem económica capitalista dos nossos dias é um universo de grandes proporções, que os indivíduos encontram ao nascer, e que constitui para cada um deles, pelo menos enquanto indivíduo, um contexto que não se pode modificar e onde se terá de viver. Este cosmos impõe ao indivíduo, na medida em que se encontra inserido nas relações de mercado, as normas da sua acção económica. O fabricante que desrespeite reiteradamente estas normas é economicamente eliminado, tão infalivelmente como o trabalhador que a elas não possa adaptar-se ou que não o queira fazer é posto na rua, passando à situação de desempregado.
O capitalismo, que conseguiu nos nossos dias o domínio da vida económica, educa e cria assim, pela selecção económica, os sujeitos económicos – empresários e trabalhadores – de que necessita.
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, trad. port. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão (Lisboa: Presença/Ad Astra et Ultra S.A., 2010) 51-53.
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