A contrapartida do resgate do FMI, BCE e UE a Portugal é uma demonstração de que a política do governo PS não estava certa e, pior, nos conduziu para o abismo. A maioria das medidas que terão agora de se implementadas não estavam previstas no PEC IV e vão, portanto, para além dele – afinal, como muitos há muito vêm dizendo, era preciso reduzir drasticamente na despesa do estado. O PSD disse “basta”, porque acreditava que já tardava o fim das ilusões em que nos mergulhou o PS. Muitas medidas contidas no memorando de entendimento entre o FMI e o governo português e principais partidos tinham já sido anunciadas como inevitáveis pelo PSD.
Mas o sr. Eng.º Sócrates (bem secundado pelos seus mais queridos acólitos), no seu bom estilo retórico de ponta, veio dizer ao país aquilo que não estava no acordo de resgate. Que maravilha! Supostamente “nada” daquilo que os mauzões do PSD prognosticavam ia acontecer. Mas repare-se, a título de exemplo, como uma boa dose de inteligência, alguns conhecimentos de teoria da argumentação e de história do pensamento ocidental sobejam para desmontar o famoso discurso de José Sócrates: não haverá privatização da CGD, mas haverá necessariamente privatização de parte dela e de outras empresas públicas, quanto mais não seja para tornar o estado “mais pequeno”; o PS teria “salvo” o serviço nacional de saúde, que continuará (nesta parte, Sócrates até se engasgou!) a ser tendencialmente gratuito, mas o que é inevitável é, como o PSD já tinha proposto, que os que têm mais rendimentos paguem mais, subindo as taxas moderadoras; não se perde o 13º e 14º meses, mas aumentam-se, necessariamente, os impostos. E depois, outra coisa para a qual era necessário vir alguém de fora fazer(!) – a diminuição de cargos dirigentes da administração central, a extinção, fusão, remodelação de institutos públicos e fundações e, espero, a reestruturação e redimensionamento das freguesias.
Quem vai encabeçar a execução deste “recomeço”?
Por um lado, temos um PM em gestão da sua própria imagem e sobrevivência, do seu poder e influência, agarrado à dependência da retórica manipuladora, com um único intuito – protelar o mais possível o seu fim, enganando os eleitores. Do outro, um líder partidário ocupado na constituição de um futuro governo, politicamente forte e tecnicamente competente, e com ideias, há já algum tempo, coincidentes com aquelas que agora se perfilam como necessárias para salvar o país da bancarrota.
A escolha parece fácil.