quinta-feira, 26 de agosto de 2010

quarta-feira, 25 de agosto de 2010



Dar a pensar…


3.
«Um dos elementos constitutivos do espírito capitalista moderno, e não apenas deste, mas da própria cultura moderna, a conduta de vida racional baseada na ideia de profissão como vocação, nasceu – é o que esta exposição deveria provar – do espírito do ascetismo cristão. (…) Esta motivação radicalmente ascética do estilo de vida burguês (…) foi o que na sua sabedoria nos quis mostrar Goethe na sua obra Wanderjahre e no fim que deu ao seu Fausto. Para ele esta constatação significava a despedida de um período da humanidade pleno e belo, que na evolução cultural não voltará a repetir-se, como não se repetirá o florescimento ateniense clássico. O puritano queria ser um homem de profissão – nós temos de o ser. O ascetismo, ao ser transplantado das celas conventuais para a vida profissional, começou a dominar a ética secular e deu o seu contributo para a formação do poderoso cosmos da ordem económica moderna; esta, vinculada às condições económicas e técnicas da produção, com uma força irresistível, determina hoje o estilo de vida, não apenas da população activa mas de todos os indivíduos que nascem dentro desta engrenagem. E, provavelmente, isto poderá continuar a acontecer até que o último quintal de combustível fóssil seja queimado. (…) Ao mesmo tempo que se assistia à transformação e influência exercida pelo ascetismo sobre o mundo, estes bens superficiais adquiriram um poder crescente e depois irresistível, sobre os homens, como nunca antes aconteceu na História. Hoje, o seu espírito escapou-se dessa estrutura, quem sabe se para sempre. O capitalismo triunfante, após ter adquirido bases mecânicas, já não precisa desse apoio. E a boa disposição do iluminismo, o seu sorridente herdeiro, também esmoreceu. A ideia do “dever profissional” ronda pela nossa vida como um fantasma dos conteúdos religiosos do passado. Nos casos em que a “realização do dever profissional” não pode ser directamente ligada aos valores espirituais e culturais mais elevados – ou, ao contrário, quando tem de ser compreendida subjectivamente como uma coacção económica –, o indivíduo de hoje acaba por renunciar a qualquer tentativa de justificá-la. A procura de riqueza, no lugar de maior desenvolvimento – os Estados Unidos –, tende, despida do seu sentido ético-religioso, a associar-se a paixões competitivas, que lhe conferem não raro o carácter de desporto. Ainda ninguém sabe quem habitará essa estrutura vazia no futuro e se, ao cabo desse desenvolvimento brutal, haverá novas profecias ou um renascimento vigoroso de antigos pensamentos e ideais. Ou se, não se verificando nenhum deste dois casos, tudo desembocará numa petrificação mecânica, coroada por uma espécie de auto-afirmação convulsiva. Nesse caso, para os “últimos homens” dessa fase civilizacional, tornar-se-ão verdade as seguintes palavras: “Especialistas sem espírito, folgazões sem coração: estes nadas pensam ter chegado a um estádio da humanidade nunca antes atingido.”»

Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, trad. port. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão (Lisboa: Presença/Ad Astra et Ultra S.A., 2010) 197, 198-9.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010



Fotografias...


Galerias Lafayette
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

Lojas para todos os gostos
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal


Os cafés
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal


Olympia
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

domingo, 22 de agosto de 2010



Dar a pensar…

2.
«Aquilo que a época religiosamente agitada do séc. XVII deixou à sua herdeira utilitarista foi sobretudo uma boa consciência – podemos dizer, tranquilamente, uma consciência farisaica – no que toca à aquisição de capital, desde que fosse adquirido legalmente. Qualquer resíduo do Deo placere vix potest tinha desaparecido. Tinha-se formado um ethos profissional especificamente burguês. Com a consciência de estar em estado de graça e com a bênção de Deus, o empresário burguês, no caso de se manter nos limites da correcção formal, de a sua acção ética não revelar manchas e de o seu uso da riqueza não ser inconveniente, podia (e era obrigado a) prosseguir os seus interesses económicos. O poder do ascetismo religioso fornecia-lhe, além disso, trabalhadores sóbrios, conscienciosos e invulgarmente aplicados que acreditavam firmemente ser o trabalho um fim designado por Deus. E dava-lhe ainda a certeza apaziguadora de que a distribuição desigual dos bens deste mundo era obra da divina Providência e que tanto essa distribuição como a atribuição da graça divina perseguia fins desconhecidos dos homens. Calvino já dissera, frequentemente, que o “povo”, isto é, a massa dos trabalhadores e artesãos, só na pobreza continuava obediente a Deus. Os holandeses (Pieter de la Court e outros) “secularizaram” esta ideia dizendo que a massa humana só trabalha se a necessidade a obrigar a isso, e esta formulação de um dos leitmotivs da economia capitalista levou depois à teoria da “produtividade” dos salários baixos. Também neste caso, a ideia utilitarista tomou o lugar da raiz religiosa (…).
(…)
(…) o trabalho honrado, mesmo mal pago, para aqueles a quem a vida não deu outra possibilidade, é uma coisa do profundo agrado de Deus. Neste aspecto, a ascese protestante não trouxe qualquer inovação. Mas não somente levou esta norma às últimas consequências, como criou a motivação psicológica que lhe conferia operacionalidade ao considerar que o trabalho profissional enquanto vocação [Beruf] constitui o meio mais adequado e, por vezes, o único, para obter a certeza da graça divina. Por outro lado, legalizou a exploração desta disposição para o trabalho, ao declarar o enriquecimento do empresário uma “profissão” vocacionada. A educação da igreja inculcava com especial intensidade nas classes desfavorecidas a ideia de que a salvação se obtinha exclusivamente pelo cumprimento do trabalho profissional e pela ascese rigorosa. Este facto desenvolveu a “produtividade” do trabalho no sentido capitalista da palavra. Tratar o trabalho como “vocação capitalista” tornou-se tão corrente para o trabalhador moderno como se tornou corrente para o empresário encarar dessa forma o enriquecimento.»

Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, trad. port. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão (Lisboa: Presença/Ad Astra et Ultra S.A., 2010) 194-6.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010



Fotografias...


Musée du Louvre
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

Centre George Pompidou
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

Musée d'Orsay
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

quinta-feira, 19 de agosto de 2010



Dar a pensar...


1.
«Há um aspecto (…) importante, a valoração religiosa do trabalho profissional incessante, continuado e sistemático como meio de ascese mais eficaz e igualmente como a maneira mais segura e visível de comprovar a regeneração dos homens e a veracidade da sua crença. Esta foi a alavanca mais poderosa da concepção de vida que designámos por “espírito do capitalismo”. E, se a par desta libertação do desejo de lucro pusermos a limitação do consumo, o resultado está à vista: a formação de capital através da coacção ascética à poupança.
(…)
O poder da concepção de vida puritana favoreceu sempre, nas zonas onde chegou – e isto é bem mais importante que o simples incremento da acumulação de capital – a tendência para conduta económica racional da burguesia. Foi o seu único suporte consequente e o principal, foi a ama-seca do homo oeconomicus moderno.
(…)
O significado destes poderosos movimentos religiosos para o desenvolvimento económico residia, em primeiro lugar, na sua acção educativa ascética. Só desenvolveram verdadeiramente toda a sua força económica (…) após superado o auge do entusiasmo puramente religioso, quando a aplicação na procura do reino divino se dilui gradualmente em sóbria virtude profissional e a raiz religiosa deu lentamente lugar a um utilitarismo terreno. Esse desenvolvimento só se deu quando (…), na fantasia popular, Robinson Crusoe, o homem económico isolado que paralelamente faz um trabalho de missionário, toma o lugar do peregrino de Bunyan, que percorre a “feira das vaidades” guiado por uma solitária procura interior, em busca do reino dos céus.»

Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, trad. port. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão (Lisboa: Presença/Ad Astra et Ultra S.A., 2010) 190, 192, 193-4.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010


Fotografias...

La Bibliothéque François Mitterand
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

La Bastille
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal


La Seine
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

La Concorde
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

La Madeleine
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

L'Opera
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal


La Seine
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal


Notre Dâme
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

La Seine
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

Champs Elysées
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

Tour Eiffel
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

Olympia
(Paris, Agosto 2010)
© Miguel Portugal

sexta-feira, 6 de agosto de 2010



Fotografias...



“Veleiro com três gaivotas”
(Algar Seco, Julho 2010)
© Miguel Portugal


“Gaivota”
(Algar Seco, Julho 2010)
© Miguel Portugal


“Jump”
(Algar Seco, Julho 2010)
© Miguel Portugal



“Raio violeta”
(Praia da Coelha, Julho 2010)
© Miguel Portugal

“Falésia dourada”
(Praia da Coelha, Julho 2010)
© Miguel Portugal

“Árvore translúcida”
(Praia do Carvoeiro, Julho 2010)
© Miguel Portugal

segunda-feira, 12 de julho de 2010



Dar a pensar…

.
«(…) o ganho de dinheiro, e de cada vez mais dinheiro, com a mais estrita abstenção de todos os prazeres simples, tão completamente despido de todas as perspectivas eudemonistas ou mesmo hedonistas é de tal modo considerado [no “espírito do capitalismo” do séc. XIX] um objectivo em si que em comparação com a “felicidade” ou o “proveito” do indivíduo parece algo de completamente transcendente e puramente irracional. O ganho é considerado como objectivo da vida do homem e já não como meio de satisfazer as suas necessidades materiais. Esta inversão dos factos “naturais”, se assim lhes quisermos chamar, sem sentido para uma sensibilidade simples, é manifestamente um leitmotiv do capitalismo, que se mantém alheio aos homens que não são movidos por ele. Mas, simultaneamente, ela encerra uma série de sentimentos que têm muito a ver com certas concepções religiosas. Com efeito, ao colocar-se a questão de saber por que deve “o homem fazer dinheiro”, responde Benjamin Franklin (…), na sua autobiografia, com uma citação da Bíblia (…): “Se vires um homem activo na sua profissão, ele tem a dignidade dos reis” [Sal., c, 22, v. 29]. O ganho de dinheiro é – na medida em que se processar dentro de formas legais – na ordem económica moderna o resultado e a expressão da capacidade profissional (…).

Com efeito, esta ideia particular, tão corrente nos nossos dias e, em boa verdade, tão pouco evidente do dever profissional (Berufsplicht) (…) é própria da “ética social” da cultura capitalista, tendo para ela, em certo sentido, um significado constitutivo fundamental. (…) A ordem económica capitalista dos nossos dias é um universo de grandes proporções, que os indivíduos encontram ao nascer, e que constitui para cada um deles, pelo menos enquanto indivíduo, um contexto que não se pode modificar e onde se terá de viver. Este cosmos impõe ao indivíduo, na medida em que se encontra inserido nas relações de mercado, as normas da sua acção económica. O fabricante que desrespeite reiteradamente estas normas é economicamente eliminado, tão infalivelmente como o trabalhador que a elas não possa adaptar-se ou que não o queira fazer é posto na rua, passando à situação de desempregado.

O capitalismo, que conseguiu nos nossos dias o domínio da vida económica, educa e cria assim, pela selecção económica, os sujeitos económicos – empresários e trabalhadores – de que necessita.

Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, trad. port. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão (Lisboa: Presença/Ad Astra et Ultra S.A., 2010) 51-53.


Fotografias...


“Rio castanho #1”
(Mirandela, Julho 2010)
© Miguel Portugal



“Rio castanho #2”
(Mirandela, Julho 2010)
© Miguel Portugal