quinta-feira, 17 de junho de 2010

A autoridade educativa em questão

No passado dia 6 de Maio, em Paris, decorreu uma conferência na Fundação para a Parentalidade e a Prevenção, organizada pela Missão para a Luta contra a Droga e a Toxicodependência (MILDT), em que o filósofo Dominique Youf discutiu o problema da autoridade parental. Youf, Director de Pesquisa da Escola Nacional de Tutela Jurisdicional dos Jovens, começou por apresentou uma história da autoridade parental. Antes, a família era hierarquizada, com base na natureza ou nos mandamentos divinos. Para ilustrar esse modelo, Dominique Youf referiu-se à distinção entre sociedade nacional e sociedade política, que Aristóteles faz na sua Política (I, 7): «A administração de uma casa é uma monarquia (a família ainda está sob a autoridade), enquanto o poder político em si é um governo de homens livres e iguais.» Este poder paternal dominou por muito tempo o pensamento ocidental em termos de autoridade paternal , da lei romana ao Código de Napoleão, por exemplo.

«Esta autoridade desapareceu, diz Youf, porque era incompatível com o princípio da igualdade.» Hoje é mais difícil ser pai, porque não existe mais esta autoridade transcendente das antigas sociedades hierarquizadas. Na esteira das revoluções democráticas na Europa, este poder parental começa a ser questionado: durante a segunda metade do séc. XX, este modelo sofreu uma «ruptura antropológica».
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No entanto, Youf defendeu, baseado no conceito de educação em Hannah Arendt, que «a autoridade parental é legítima, porque a criança entra num mundo que lhe é anterior e do qual não conhece as regras». Naturalmente que a figura do guia substitui a do comandante. «O mais surpreendente, conclui Youf, é que ele funciona.»

A questão da autoridade é tão central quão difícil hoje, na filosofia da educação. A prática educativa disso se tem ressentido. Se, por um lado, não se pode mais fundar a autoridade educativa em qualquer transcendência, secular ou divina, também parece ser verdade que o modelo rousseauniano, que tem desconstruído a autoridade, não tem conseguido fundar uma ideia que se quer renovada de autoridade, tem desnorteado a acção educativa e não parece constituir resposta aos problemas da educação nas sociedades contemporâneas. Afinal, a ideia de Arendt, de que se deve distinguir essencialmente o âmbito da igualdade política na sociedade dos adultos livres e responsáveis, do âmbito da educação das crianças aprendizes de seres livres e iguais, mostra como a relação pedagógica, strictu sensu, necessita de uma relação minimamente hierarquizada de autoridade. Esta relação deve ser, naturalmente, discutida, racionalizada, mas apenas crescentemente partilhada.
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A autonomia e a liberdade constroem-se na criança sob a orientação do adulto; não nascem com a criança, que o adulto dominaria -- equívoco talvez maior da educação contemporânea.

2 comentários:

A Mamute e o Bufalo disse...

O problema é a educação dos alunos e da constante degradação dos programas de ensino. No meu tempo, não havia essas questões, pois havia respeito e um pouco de dedicação.

Miguel Portugal disse...

De facto, há um crescente desinvestimento na educação das crianças em ambiente familiar (por várias razões, umas atendíveis, outras não), um consequente adiamento da maturidade dos jovens, que, por usa vez, inviabiliza uma maior dedicação e envolvimento dos alunos no esforço necessário para aprender, sobretudo determinadas matérias e competências menos clara ou facilmente motivadoras.