terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Entretenimento sobre política educativa

Mais um "Prós e Contras". Desta feita, a intenção era discutir as reformas políticas na educação. Terá sido conseguido?
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1. A Ministra da Educação continua o seu périplo em tentar o impossível, que é explicar medidas reformistas mal fundamentadas, ideologicamente delapidadoras e pior implementadas, a um grupo profissional cuja imagem a própria Ministra tem vindo a denegrir desde o início, mostrando uma completa incompetência política para fazer política democrática (aliás, atitude consertada pelo próprio chefe de governo), que consistiria em apresentar medidas consistentes (o que em Educação é demasiado difícil, pelo menos para nós, portugueses, técnicos do ME incluídos!) e, depois de as explicar convenientemente, investir então num processo de persuasão e motivação das pessoas, no sentido de melhorarem os seus desempenhos em torno de um desígnio nacional claro e não apupar e destruir o auto-conceito e a auto-estima do grupo que era suposto estar convencido da validade das mesmas, que não está porque não pode mesmo estar - erro que terá obviamente consequências políticas (e não apenas eleitorais!) nefastas. Ainda assim, aguentou-se bem, pelo menos ao nível retórico. (Que outros conseguissem o mesmo desempenho e ganhassem na profundidade e na substância!)
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2. Do lado dos "professorzecos", a coisa foi bem conduzida para não terem sido suficientemente contundentes e consistentes na apresentação das suas razões, muitas delas incontestavelmente válidas para contestar estas medidas tresloucadas, dada a incompetência para as esquadrinhar e por em prática. Excepção feita talvez a Fernanda Velez, que pode muito bem ter representado ali uma quota (sublinhe-se: uma parte, infelizmente, apenas uma parte!) dos professores, que, além de bons profissionais, conseguem assumir uma cidadania informada e crítica, pelo menos na área que é a sua actividade profissional! Ainda assim, fica a sensação de que haveria algo bem mais significativo, aprofundado e intelectualmente e não apenas politicamente importante para se ter dito a propósito de coisa tão fundamental, como é a política educativa. Ainda assim, talvez tenha sido um pequeno avanço no esclarecimento das pessoas que estão de fora e que conseguiram aguentar a maratona própria deste tipo de espectáculos, mais emocionais que emocionantes. Mas é necessário mais!
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3. Mas o mais lamentável é que o tema merece mais do que um show televisivo, arquitectado pela televisão controlada pelo governo para agradar a gregos e troianos - leia-se: a portugueses, governantes e governados! Em Portugal não há cultura democrática verdadeiramente livre e aberta, nem esclarecimento suficientemente disseminado, para um debate intelectualmente mais aprofundado sobre educação, que reunísse especialistas nas áreas da filosofia da educação e das ciências da educação. (O especialista, João Formosinho, esteve, naturalmente, deslocado, num show que não era o dele!) Mas era tempo de uma empresa de comunicação social, de preferência um canal de TV, ter a coragem de o fazer.
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4. Nota final: Fátima Campos Ferreira acabou por deixar cair uma pequena pérola do ambiente quase totalitarista, que se vive também no órgão de comunicação social do Estado: foi o debate possível, mas talvez se venha a fazer outro, numa altura em que os ânimos estejam menos exaltados - quer dizer: quando já não for politicamente perigoso, que desta vez foi, ainda assim, muito arriscado...!

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