«Os nós da escrita
Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o que na realidade acabo sempre por fazer seja embrulhar ainda mais os fios. A própria caligrafia é sufocada.
Há, todavia, um momento em que as palavras são cuspidas, saem em borbotões, e o sangue e a saliva empregnam o sentido. É impossível separá-los.
Por trás talvez não haja mesmo nada. São palavras que não estão ginasticadas, que secam e encarquilham como folhas por que a seiva já não passe.
Oprimem toda a página, através da qual deixa de ser possível respirar. Tapam-lhe os poros. A própria chuva que neles caia não se escoa.»
Luís Miguel Nava (1957-1995)
in: Poesia Completa (Lisboa, Ed. Dom Quixote, 2002)
1 comentário:
Parabéns pelo BLOG ...de grande importancia para leitura de qualquer pessoa... estarei sempre aqui para ler suas postagens.
um abraço
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