quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Se não é propaganda...?!

Com o "Magalhães" de vento em popa (salvo um ou outro filtro de barragem de conteúdos indesejados para crianças do 1.º ciclo, que caíram borda fora), o governo prepara uma verdadeira campanha eleitoral, que arrasará qualquer possibilidade de compreensão mais profunda e serena do tão complexo problema da educação em Portugal, que se encontra numa importante fase de viragem.

No caso do salvífico computadorzito, há que perguntar uma ou duas coisas:

1. Qual a finalidade pedagógica do "Magalhães"? Haverá já um projecto pedagógico delineado pelo ME que mostre como este instrumento beneficiará as aprendizagens de conhecimentos e competências básicas disponibilizadas pelo 1.º ciclo?

2. Qual o peso e importância que a manipulação do computador terá no quotidiano das aprendizagens dos alunos? Será um meio ou um fim?
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3. Serão as funcionalidades e possibilidades de soft e hardware adequadas a crianças do 1.º ciclo? (No caso da câmara de vídeo incorporada, pessoalmente, não considero apropriada para jovens adolescentes, quanto mais para crianças do 1.º ciclo!)
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Claro que a dotação das escolas com computadores é, hoje, algo de perfeitamente banal de tão necessário que é, ao nível dos instrumentos didácticos disponibilizados. No entanto, esse instrumento pode ser completamente alienante para crianças e jovens (como mostram vários estudos efectuados) e, se não houver cuidado, podemos estar a educar para a alienação! Quanto ao controlo parental, sabemos que tal é algo difícil de se fazer em muitos lares portugueses!
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Quando se faz propaganda, não se reflecte no essencial, mas é o essencial que aqui vale a pena ser pensado!

4 comentários:

ઇઉ Aralis ઇઉ disse...

Dá realmente que pensar... Ainda não estava informada da dita camara...mas acho no mínimo uma distracção inutil, pois se o objectivo, é auxiliar no estudo...o ter uma camara parece mais recreacional.. já para não falar nas "n" campanhas, principalmente americanas, contra a pedofilia e perigos desse tipo de comunicação...
Obrigada pelo blog informativo... Tenho visitado, recomendo e acho muito interessante.

Miguel Portugal disse...

É claro que todo o cuidado é pouco quando o valor é imenso e os perigos fortes. Na realidade, a net é um mundo demasiado perigoso que nos obriga a cuidados redobrados, quando se trata de crianças.
Obrigado pelo seu comentário e o seu delicioso blog é também por mim visitado com muito gosto e recomendado.

Unknown disse...

Quanto aos arguementos apresentados pelo Stor, devo dizer que só concordo com o da webcam, porque eu também não percebo a utilidade de uma webcam para crianças do 1º ciclo. Agora eu acho que num mundo como o presente as crianças devem ser introduzidas ao mundo informatico o mais cedo possível, desde que advertidas aos perigos da Internet (claro que nao me refiro a crianças de 3 anos de idade, mas sim a crianças que compreendam o que estão a fazer, como no 1º ciclo ja compreendem). Portanto acho esta iniciativa muita boa e podemos dizer que o Sócrates cumpriu uma das promessas dele, a do choque tecnológico.

Miguel Portugal disse...

É claro, Edgar, que o contacto das crianças com o computador deve ser efectuado, quando aquelas tiverem possibilidades desenvolvimentais para o fazer, o que poderá ser, tanto quanto se sabe, na idade escolar do 1.º ciclo. Mas a questão não é essa. A questão é que o computador tem funções diferentes em jovens de 5-9 anos (função lúdica) e em jovens na pré-adolescência (e adolescência), onde os chats, o messenger e outros serviços on line de grupos têm um papel importante. Portanto, primeira consequência: um computador pessoal é importante para um pré-adolescente, mas não faz tanto sentido para uma criança em idade de 1.º ciclo. Mas, além disso, muito importante é a suposta omnipresença (que ainda ninguém sabe muito bem como aproveitar pedagogicamente!) do "magalhães" na escola, na sala de aula, quando a criança é um utilizador de jogos (carácter lúdico) e a escola do 1.º ciclo é um espaço e um tempo de aprendizagens básicas muitíssimo importantes -- ler, escrever e calcular. Ou seja, aprendizagens prévias às aprendizagens das TIC! Segunda consequência: se é bom a criança ter contacto com o computador na escola (num determinado tempo) ou em casa, a posse de um computador pessoal (ainda por cima, portátil) pode desviá-la já -- desde cedo, portanto -- do essencial, que é apreender competências de leitura, escrita e competências matemáticas.
Em suma, o "magalhães" pode ser, em certas circunstâncias, mais prejudicial do que benéfico, nesta fase etária. Para não ser prejudicial, requer uma utilização pedagógica muito bem estudada (ninguém conhece qualquer estudo!) e uma vigilância parental cuidada (em Portugal, impossível de generalizar a todos os lares). E o pior é que é apresentado como sendo uma solução (moderna) para as dificuldades de aprendizagem das crianças, quando os estudos científicos que existem mostram que não há nenhuma relação entre o uso e posse de PCs e o rendimento escolar!
Choque tecnológico sim; mas há mais (e coisas mais substanciais) a fazer na educação!