segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dar a pensar...

[Sobre educação e equidade social]

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«Nas últimas décadas e um pouco por todo o mundo reconhece-se que as desigualdades educativas tendem a reproduzir as desigualdades sociais. O problema nem se deverá colocar entre os alunos das famílias com maiores rendimentos e património face aos alunos provenientes de famílias pobres. Coloca-se sim entre os alunos cujas famílias têm um elevado nível de escolaridade e de “capital cultural” e aquelas que o não têm.

Para muitos não é a escola que faz a diferença, é o nível de escolaridade dos pais dos alunos qe sustenta a diferença entre a maior ou menor probabilidade de sucesso educativo. Se assim fosse, a escola e a educação como instrumentos de ascensão social não passariam de uma ilusão rapidamente desfeita pelo grilhão cultural da família de origem. Seríamos um mero produto do sucesso ou insucesso dos nossos pais, sem direito a sonhar ou a lutar por um estatuto social mais elevado.

Mas não será bem assim. O que hoje sabemos da investigação científica neste articular domínio é que, para além do papel preponderante do capital familiar no sucesso dos alunos, há outros factores que fazem a diferença, desde a escola à qualidade e competência dos seus professores, a organização do sistema de ensino, o papel da comunidade e das relações sociais de proximidade e, não menos importante, a capacidade de todos poderem gerar expectativas elevadas e oportunidades sociais que as realizem.

O determinismo que faz do futuro de uma criança um produto do seu estatuto económico-social teremos de o confrontar com a capacidade que algumas sociedades revelam de contrariar essa dependência e abrir caminhos de equidade e de promoção social e cultural. Quanto mais o conseguirem, mais desenvolvidas se tornam.»

David Justino, Difícil é Educá-los (Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2010) 87-8.

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