[Sobre educação e equidade social]
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«Curiosamente, terá sido nos períodos áureos de afirmação do romantismo educativo, sintetizado na expressão corrente de “eduquês”, que as taxas de reprovação atingiram os níveis mais elevados. Talvez se explique esse facto pela forma como se gerem as expectativas educacionais: se forem baixas, ajustando-se à baixa auto-estima do aluno, decerto se produzirão resultados fracos; se forem altas, aumenta-se a probabilidade de sucesso educativo. É reconhecido o facto de o esforço e as expectativas das crianças e dos jovens se ajustarem facilmente aos objectivos que lhes são colocados. Se lhes pedimos pouco, eles naturalmente darão pouco, se, pelo contrário, lhes pedimos muito, darão muito mais. (…)
É evidente que as taxas de retenção e desistência têm vindo a baixar desde o princípio da década, facto que contradiz algumas das visões mais pessimistas aquando da introdução dos exames nacionais do 12.º ano (1997) e do 9.º ano de escolaridade (2005) que previam, de acordo com a lógica de que os exames só servem para aumentar o insucesso, um aumento da retenção e da desistência. Afinal o que se passou foi exactamente o contrário. Podemos facilmente concluir que os exames são perfeitamente compatíveis com o sucesso escolar.
Um bom professor, tal como uma boa escola, é aquele que consegue contrariar o determinismo sociológico do estatuto socioeconómico familiar pela qualidade do seu ensino, pela forma como potencia as aprendizagens, pelas expectativas que consegue criar e pelas capacidades que consegue desenvolver nos alunos. Por isso dá tanto trabalho ser professor!
David Justino, Difícil é Educá-los (Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2010) 90-92.
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