Num dos textos mais prodigiosos da história da humanidade, Platão apresenta a defesa que o seu mestre Sócrates fez da sua inocência perante o Tribunal de Atenas, que o acusou e condenou por corromper a juventude. Numa das aparições mais apologéticas da história da democracia em Portugal, Mário Soares ensaia uma defesa de José Sócrates, acusado e, muito provavelmente, condenado por ter governado mal o país e por querer continuar a fazê-lo.
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Coisa estranha, contudo, nesta apologia socialista: o apologéta (Mário Soares) é um crítico contundente das políticas (segundo ele) ainda pouco socialistas de Sócrates, mas vem agora afirmar que este é o maior político de sempre, com as melhores políticas para o futuro de Portugal! É esta uma diferença fundamental entre o filósofo e o político: o primeiro procura humilde e criticamente a verdade, o segundo manipula-a abrupta e dogmaticamente a seu bel-prazer. Mas o dr. Soares fez mais - pensa ele - para defender o seu camarada, que tanto tinha até agora criticado: ele é tão bom que, se ganhar as eleições até poderá fazer uma coligação com um dos poucos partidos marxistas-leninistas, de orientação trotskista, ainda hoje existente (algo camufladamente) na Europa. Afinal, segundo o sapiente Mário Soares, Portugal deve ser governado por um partido socialista a sério e um partido comunista radical. Líder capaz de o fazer, já há: José Sócrates.
.Obrigado, dr. Mário Soares, por esclarecer o eleitor.
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