domingo, 30 de maio de 2010

A crise começa a resolver-se na escola

Em contraste com o triste panorama da política portuguesa, os britânicos conseguiram (em cinco dias!) um verdadeiro acordo para enfrentar a crise, substancializado de convicções e ideias consensuais, mas também de uma forte motivação pessoal para exercer uma das mais nobres funções públicas, que é governar. A coligação entre conservadores e liberais democratas pretende fazer emergir a sociedade com base numa maior descentralização do poder e ímpetos de privatização em certas áreas, «rompendo com o monopólio do estado». Destacam-se duas ou três ideias reformadoras muito interessantes: no estado social, nos impostos e, sobretudo, no sistema de ensino.
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Está visto, pelo menos os ingleses já assim o viram, que o Estado não pode fazer tudo, nem pode fazer tudo bem. O caso da educação em Portugal é, infelizmente, um bom exemplo disso. Sem políticas educativas sérias, veritativas, realmente auxiliadoras dos mais desfavorecidos para a verdadeira aprendizagem, ao invés de uma irresponsável e criminosa facilidade estatística, não haverá mobilidade social, não haverá qualificação profissional média efectiva, não haverá progresso económico e o estado social não resistirá, como não está a resistir.
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Eis um excerto do acordo de coligação/programa de governo, sobre o sistema educativo (eis como é possível pensar que políticas liberais temperadas de realismo podem melhor resolver os problemas sociais do que políticas socialistas superficiais, populistas e desnorteadas, e isto pugnando por justiça social sem atentar contra a liberdade individual):
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The Government believes that we need to reform our school system to tackle educational inequality (...) and to give greater powers to parents and pupils to choose a good school. We want to ensure high standards of discipline in the classroom, robust standards and the highest quality teaching. We also believe that the state should help parents, community groups and others come together to improve the education system by starting new schools.
• We will promote the reform of schools in order to ensure that new providers can enter the state school system in response to parental demand; that all schools have greater freedom over the curriculum; and that all schools are held properly to account.
• We will fund a significant premium for disadvantaged pupils from outside the schools budget by reductions in spending elsewhere.
• We will give parents, teachers, charities and local communities the chance to set up new schools, as part of our plans to allow new providers to enter the state school system in response to parental demand.
(...)
• We will reform the existing rigid national pay and conditions rules to give schools greater freedoms to pay good teachers more and deal with poor performance.
(...)
• We will seek to attract more top science and maths graduates to be teachers.
• We will publish performance data on educational providers, as well as past exam papers.
(...)
• We will give heads and teachers the powers they need to ensure discipline in the classroom and promote good behaviour.
• We believe the most vulnerable children deserve the very highest quality of care. We will improve diagnostic assessment for schoolchildren, prevent the unnecessary closure of special schools, and remove the bias towards inclusion.
• We will improve the quality of vocational education, including increasing flexibility for 14–19 year olds and creating new Technical Academies as part of our plans to diversify schools provision.
(...)
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E, se bem os conhecemos, os ingleses serão bem capazes de levar isto a sério. Aprender com os outros não é nada desvirtuante. Bem pelo contrário.

Um pouco de história da música em Portugal

Os Pop Dell'Arte de João Peste e Zé Pedro Moura comemoram este ano um quarto de século de colagens artísticas sob um pano de fundo musical pop de recorte vanguardista. Recordá-los é recordar duas décadas (80 e 90) repletas de criatividade na música portuguesa, com todo o glamour da liberdade desinteressada que inspirou pequenas grandes obras de arte... que ficam para a história.

Para compreender a política... que urge, em tempo de crise!

Para compreender a política internacional e, que mais directamente nos interessa, também a política nacional será de bom proveito uma leitura atenta deste muito bem informado, crítico e sintético post de Francisco Mendes da Silva. Aí se vê como saber, mesmo a sério, é poder compreender a realidade e, assim, poder tomar decisões reflectidas e verdadeiramente consequentes sobre a organização e gestão dessa mesma realidade. Aí se pode facilmente clarificar as ideias centrais que estruturam um pensamento político conservador e o distinguem do liberal. Noções fundamentais, a juntar ao ideário socialista, para compreender a arte de organizar a sociedade, como é a política. Não a portuguesa, que, desafortunadamente, bem longe está, há muito, das ideias!
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Não saber e estrebuchar para o aparentar será sempre tropeçar minimalisticamente numa ficção perigosamente avassaladora e manipulatória. Como diferente é, infelizmente, a nossa tradição política face à inglesa; como diferente é a simples atitude e postura "democrática" dos nossos políticos face a um dos piores e mais exigentes momentos políticos da existência da nossa sociedade! (Não, isto não é anti-nacionalismo primário e fácil -- é a realidade nua e crua dos factos.)
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Em suma: o saber em geral, e a história das ideias neste particular, como instrumento privilegiado de superação de todas as crises; e também a motivação mobilizadora e sentido de serviço que nos permitiria superar esta, em particular. Estaremos preparados? Parece que não.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Objectividades jornalísticas!


Parte das famosas escutas que envolvem José Sócrates e alguns colaboradores políticos parece terem ido parar a outro processo de inquérito que não o "face oculta", desta feita sobre uma alegada fraude na compra de acções do Banif, e, por isso, terão sido destruídas mais tarde.
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O jornalismo é a arte de informar. Os cidadãos de um estado de direito democrático têm o direito de saber informações fulcrais para avaliarem a competência e o carácter, os actos e as ideias e os projectos dos políticos que os representam ou irão representar no governo do seu país. Os órgãos de comunicação social têm, por isso, um papel determinante num saudável sistema democrático. Infelizmente, a forma como é (mal)tratada a notícia pode deturpar a mensagem e conduzir o cidadão a uma interpretação forçada e afastada da realidade dos factos. Por interesse político-partidário. Mas o interesse do jornalismo não é informar?
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Veja-se, a este propósito, o tratamento (deliberadamente?) desigual (que levanta a suspeita de manipulação da interpretação), que estes dois órgãos de comunicação fazem da mesma notícia: TSF e Jornal i.
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A forma pouco clara (até apressadamente truncada) do texto da TSF pode criar a ideia, aliás fácil, de que o sistema judicial funciona muito mal, ao ponto de cometer erros grosseiros de extravio de documentos importantíssimos, e, portanto, os magistrados até parecem estar ao serviço de uma cabala contra o injustamente acossado PM, José Sócrates; por outro lado, a forma mais clara, analítica e fundadamente crítica com que o texto do jornal i apresenta os factos trazem ao leitor uma imagem mais complexa e mais plausivelmente próxima da verdade dos factos, dando pistas interpretativas e evitando tratamentos simplistas.
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"Objectividades" jornalísticas!

Intolerável!

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Extraordinário: o volume de trabalho e, sobretudo, o currículo, senão "longo" pelo menos compacto, da jurista justificam um vencimento desproporcionado! Este governo continua a actuar como se os cidadãos portugueses fossem todos uns crentes imbecis, ignorantes ou mesmo acéfalos. A horripilante falta de vergonha, a completa ausência de sentido de Estado e, pior, de sentido de realidade, fazem destes pequenos oportunistas o factor central de desacreditação de um governo (e até de um grande partido, com responsabilidades políticas históricas), que se mostra tantas vezes incapaz de resolver os problemas do país e, a acrescer, revela mesmo vícios ultrajantes claros.
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Se houver convulsões sociais, não nos admiremos; estão justificadas... também pela actuação dos actuais governantes.

sábado, 15 de maio de 2010



Dar a pensar

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«(…) embora superficialmente esta crise pareça uma derrota para pensadores como Smith, Hayek e Friedman, e uma vitória para Marx, Keynes e Polanyi, isso pode muito bem vir a estar errado. Longe de terem sido causadas por mercados livres não regulados, estas crises podem ter sido causadas por distorções no mercado provocadas por acções governamentais imprudentes: garantias explícitas e implícitas a bancos gigantescos, atribuição de poder inapropriado a empresas de rating, política monetária desastrosamente frouxa, má regulamentação das grandes seguradoras, encorajamento sistemático de empréstimos hipotecários negligentes – para não falar das distorções nos mercados cambiais causadas pelas intervenções dos bancos centrais.
(…)
De uma perspectiva de mercado livre, a questão chave é que as medidas de emergência legítimas não se tornem práticas instituídas. Porque não pode ser uma situação saudável que as principais instituições do sistema financeiro ocidental estejam efectivamente garantidas, quando não mesmo detidas, pelos governos. O pensador que mais claramente discerniu os problemas associados a esse tipo de intervenção estatal foi Joseph Schumpeter (1883-1950),cuja “destruição criativa” tem sido uma das frases mais citadas do ano.
(…)
“Este sistema económico”, escreveu Schumpeter na sua obra inicial, A Teoria do Desenvolvimento Económico, “não pode sobreviver sem o argumento final da completa destruição dessas existências que são inevitavelmente associadas com os irremediavelmente inadaptados”. De facto, nós vimos que a economia continuou sobrecarregada com demasiadas “daquelas empresas que são inaptas para sobreviver”. Isto poderia servir como uma descrição penosamente verdadeira do sistema financeiro ocidental de hoje.

Contudo, todas aquelas alusões à evolução e à capacidade para viver servem como uma lembrança do pensador morto que todos deveríamos ter passado, pelo menos uma parte de 2009, a venerar: Charles Darwin (1809-1882). O ano transacto foi não só o bicentenário do seu nascimento, mas também o 150.º aniversário da sua obra A Origem das Espécies, que mudou paradigmas. Reflictam apenas nestas frases do trabalho seminal de Darwin:

“Todos os seres orgânicos estão expostos a competição severa.”

“Dado que são produzidos mais indivíduos do que aqueles que podem sobreviver, tem de existir em todos os casos uma luta pela existência.”

“Cada ser orgânico… tem de lutar pela vida e sofrer grande destruição. (…) Os vigorosos, os saudáveis e os felizes sobrevivem e multiplicam-se.”

Graças em grande medida aos esforços dos seus herdeiros modernos, principalmente Richard Dawkins, agora somos todos darwinianos – excepto nos estranhos mundos paralelos do cristianismo fundamentalista e da finança garantida pelo Estado.»

Niall Ferguson, “Eles andam por aí”, Foreign Policy ed. FP Portugal n.º 15 (Lisboa, Abril/Maio 2010) 34-35.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tolerância de ponto intolerável

A tolerância de ponto concedida aos funcionários públicos, devido à visita do Papa Bento XVI, é intolerável, por duas razões essenciais:
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1. O Estado moderno surgiu de um processo de secularização, que conduziu à separação entre Política e Religião, Estado e Igreja e concedeu ad saeculum (ao homem) os destinos da condução da vida pública sem interferência directa da religião. Como estado laico, o estado português não deve tratar de forma preferencial qualquer credo ou instituição religiosa, sob pena de colocar em questão um dos pilares da constituição justa do estado, que é a igualdade.
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2. Numa época de crise exangue, que se agrava, e que, a fortiori, exigia mais e melhor trabalho, para tentar aumentar a nossa baixa produtividade e dar um sinal de esforço acrescido a todos, o governo socialista de José Sócrates, em mais um tique despudoradamente populista, dá uma santa piscadela de olhos ao povão religiosamente emocionado. Como quem diz: nós, não sendo católicos, até gostamos muito de todos os católicos!
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Naturalmente que competia ao governo e ao PM José Sócrates dizer a verdade aos portugueses e explicar que esta tolerância de ponto não podia acontecer. Dizer a verdade não é, de facto, o seu forte. Os crentes encontrariam formas de, pelo menos alguns, peregrinarem e compartilharem a presença do Papa. Assim, vai tudo atrás... da folgazita. Viva o Sócrates!
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Populismo irresponsável e intolerável. Mas, o povo gosta...

Democracia envergonhada

A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras ficou chocada com o nosso deputado larápio e, sobretudo, com o silêncio ensurdecedor da vetusta classe política. Não nos conhecem.
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«Estamos escandalizados com este comportamento surrealista que só tem paralelo em certos responsáveis políticos dos países mais rígidos» (Olivier Basille, representante da organização junto da União Europeia)
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A RSF ficou «atónita» com a «ausência de reacções por parte da classe política», nomeadamente do PS. «Não é possível denunciar legitimamente os ataques à liberdade de imprensa no mundo e, simultaneamente, tolerar este tipo de comportamento de um dos mais importantes representantes do partido. (...) Da mesma forma, sem desejarmos um linchamento político, esperávamos uma condenação mais firme por parte da Assembleia da República em resposta aos actos de um dos seus deputados. Este silêncio é inaceitável.»
(No DN.)
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Não "nos" conhecem: isto somos "nós" a enfrentar a crise.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ministra condenada por desobediência?!

A prepotência com que se governa em Portugal, de forma completamente nepotista, sem escutar ninguém -- e não era preciso ter que ouvir apenas os sindicatos! --, leva ao paroxismo um Ministério, cuja actual Ministra até tinha começado por lançar algum ar de esperança: a dra. Isabel Alçada, certamente muito bem coadjuvada juridica e politicamente, deixa-se conduzir ao cúmulo da vergonha política e ética de ser condenada por desobediência!
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Com um processo de avaliação de desempenho no primeiro ciclo "experimental" extremamente atribulado e completamente injusto, dada a completa falta de equidade, a nível nacional, na aplicação de critérios incompetentemente delineados pelo ME num processo de avaliação irresponsavelmente castrador do múnus de ensinar, a juntar a falhas informáticas no formulário do actual concurso para professores contratados, que obrigavam os candidatos a adulterar, em prejuízo próprio, informações cruciais, como seriam as classificações obtidas, a justiça administrativa teria que obrigar a uma remoção provisória da avaliação para efeitos de concurso.
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Convenhamos, dra. Alçada: desobedecer ao Tribunal?!

Teimosia estratégica de vistas largas

A terceira travessia sobre o Tejo e a linha de TGV Lisboa-Madrid vão mesmo avançar. Contra a mais elementar prudência económica e financeira dadas as fundadas dúvidas sobre tamanho investimento, o governo de José Sócrates opta pela "teimosia estratégica". O país precisa, neste momento terrivelmente delicado, de tudo menos de políticos que brinquem às teimosias arriscadas.
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Agora não há dúvidas. Senão, atente-se no inesperado encerramento da Escola Secundária Afonso Domingues, em Lisboa, onde passará a futura linha de alta velocidade, que a todos apanhou de surpresa.
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«O governo que no início do ano lectivo instalou quadros interactivos em quase todas as salas, que instalou rede wireless em toda a escola e que colocou um sistema de videovigilância é agora o mesmo governo que, passados poucos meses, extingue a escola Afonso Domingues.»
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E o governo não navega à vista... É, pelo contrário, um governo de vistas largas.

Pequeninos ditadores larápios

Um indivíduo que foi eleito deputado pelo povão esclarecido e cônscio das suas decisões eleitorais, vice-presidente do seu grupo parlamentar e que é um dos principais porta-vozes do PS para a área da Justiça, roubou os gravadores dos jornalistas, durante uma entrevista à revista Sábado, quando o questionavam acerca da sua ligação, como advogado, a um caso de burla e falsificação de documentos, nos Açores, bem como a questões relacionadas com a sua demissão, em 2003, daquele Governo Regional, devido a rumores que vieram a público que o ligavam a um escândalo de pedofilia.
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Mas isto é... "violência psicológica insuportável"! -- defendeu-se o insigne representante de uma pequena maioria de portugueses na condução dos seus destinos e da tão nobre república portuguesa. Adivinha-se já um novo crime em Portugal, combatido legislativamente pelo mesmo partido que lutou há 35 anos pela liberdade e contra uma ditadura de intocáveis: "violentar psicologicamente" políticos socialistas quando lhes façam perguntas incómodas para tentar esclarecer dúvidas de interesse público. O socialismo já não é o que era...!
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Naturalmente que o lider parlamentar do Big-PS, Francisco Assis, mantém a "confiança política" no indispensável e salvífico cérebro de supremo interesse público. Nós também confiamos, embora já ninguém pareça conhecer muito bem o significado de tão excelso vocábulo. Mas se um político socialista o diz... é porque é verdade!
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O mínimo ético na política -- sim, porque se trata do mínimo -- fica para depois... para depois da crise. Agora vale tudo.
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Sim, claro que devemos continuar a pagar zelosamente os nossos impostos e cada vez mais elevados! Sim, qualquer indivíduo sem escrúpulos, que não tenha competência para fazer qualquer coisa de válido na vida, faça-nos o favor de abraçar a carreira política! Sim, os deputados são senhores respeitáveis, por antonomásia! Sim, os jornalistas que se deixem de fazer perguntas! Sim, altere-se a Constituição! Sim, instaure-se... a ditadura dos imbecis egóides em busca do seu el dorado à custa de papalvos iletrados e acríticos?! SIM!!!
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Pequeninos ditadores larápios. Compreende-se.

Manifesto para a Educação da República

Para que se conheça parte da reflexão e da acção contra os tentáculos do crime civilizacional, que é a política pseudo-educativa portuguesa dos últimos anos, aqui fica o "Manifesto para a Educação da República", assinado por cerca de 20.000 cidadãos e entregue, em 2002, ao Presidente da República (Jorge Sampaio) e que foi mencionado por Guilherme Valente no último programa "Plano Inclinado", da SIC-Notícias:

«Todos os estudos nacionais e internacionais sobre a educação dos portugueses convergem para a conclusão incontroversa de que a República está a educar mal os seus filhos. É essa a razão fundamental por que os portugueses continuam a não ser capazes de produzir a riqueza que consomem. É ainda por essa razão que Portugal se está a afastar dos padrões civilizacionais dos países com quem decidiu partilhar um futuro comum.

Os países desenvolvidos renovaram os seus sistemas de educação e de formação profissional em pontos de viragem da sua história. Portugal não seguiu esse exemplo, nem quando descolonizou, nem quando passou a integrar a Comunidade Europeia. Em vez da intervenção profunda e coerente que então se impunha, os sucessivos governos optaram por encarar os problemas educativos à medida que surgiam, envolvendo-nos numa densa teia de interesses e irracionalidades da qual não conseguimos ainda desenvencilhar-nos.

Abriu-se a escola a um maior número de crianças, como era a obrigação dum regime democrático. Mas mesmo esse sucesso é mais aparente do que real, já que somos o país da comunidade com a maior taxa de abandono escolar. Por outro lado, os estudantes que resistem ao abandono recebem, de um modo geral, uma educação muito deficiente a preços excessivamente elevados. Isso faz com que Portugal seja hoje um dos países da União que proporcionalmente mais gasta com a educação e, ao mesmo tempo, aquele que piores resultados obtém. Assim, a melhoria das condições económicas e sociais que foi conseguida em condições bastante favoráveis corre o risco de se perder, desbaratando-se uma oportunidade que dificilmente se repetirá.

Além disso, a indevida referência à democracia na designação do sistema irracional de gestão imposto pelo Estado às escolas e, em particular, às universidades, desacreditou a verdadeira democracia, passando os cidadãos a associá-la com a ignorância, a demagogia, o egoísmo e, sobretudo, com a indisciplina e a irresponsabilidade.

Portugal vive presentemente momentos de ansiedade perante o desmoronar de grandes expectativas nacionais. Os portugueses julgaram — alimentou-se-lhes esse sonho! — que podiam aceder sem esforço aos elevados padrões civilizacionais dos países mais desenvolvidos da Europa. Ao verificar que isso não é verdade, sentem-se defraudados e cépticos.

De um modo geral, o sistema de ensino e de formação profissional não fornece aos portugueses as ferramentas intelectuais que lhes permitiriam tirar proveito das enormes oportunidades de bem-estar que as sociedades pós-industriais oferecem à humanidade e evitar os riscos a elas inerentes.

Ao integrar a União Europeia, Portugal mergulhou num grande espaço económico onde o conhecimento é o principal factor de desenvolvimento. Não sendo menos dotados do que os outros povos, podemos atingir graus de desenvolvimento equivalentes se for proporcionada educação semelhante. Podemos ser um país mais rico se estivermos dispostos a suportar o esforço intelectual intenso e prolongado que é actualmente necessário para adquirir, aplicar e criar conhecimento, muito particularmente o conhecimento científico.

Por isso, é urgente mobilizar as instituições e os cidadãos para a grande batalha por um sistema educativo que possa contribuir para o progresso da sociedade portuguesa. Em particular, é preciso mobilizar as elites, recorrendo aos portugueses formados em contextos educativos de maior exigência intelectual e profissional, que estarão certamente dispostos e motivados para dar o seu contributo ao esforço decisivo que pode tornar Portugal uma comunidade informada, qualificada e empreendedora.

Neste quadro, apelamos ao senhor Presidente da República para que mobilize para a batalha inadiável da educação as instituições e os cidadãos, o Governo e a Assembleia da República, as escolas e as associações científicas, profissionais, empresariais e sindicais.

Problemas concretos tais como os objectivos e a articulação dos vários graus de ensino, a avaliação do desempenho dos estudantes, dos professores e das escolas, o apoio aos estudantes, os currículos e a acreditação dos cursos e das instituições, a qualificação académica e profissional, a formação inicial e continuada, o acesso ao ensino superior, o financiamento e a gestão das escolas, em particular das universidades, e o impacte da escola na inovação e na produtividade têm de passar a ser encarados em conjunto, de um modo coerente.

Solicitamos ao senhor Presidente da República que utilize os meios constitucionais ao seu dispor para promover a consciência e o esforço convergente dos competentes órgãos de soberania e dos cidadãos na construção de um sistema educativo que, à semelhança do que acontece noutras sociedades, forme intelectualmente e qualifique profissionalmente os Portugueses. Para que possamos ser, finalmente, o país por que todos ansiamos.
»

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Maldades!

A propósito das provas de aferição de Matemática do 4.º e 6.º anos do ensino básico, que se realizarão sexta-feira por esta hora em todo o país, foi proferida esta maldade:
"Seria óptimo se nas provas houvesse perguntas de Matemática".
Nuno Crato,

terça-feira, 4 de maio de 2010

Democracia e... coisas sérias!

«Call me old-fashioned, but poetry, philosophy, physics, and investigative journalism cannot be blogged and crowd-sourced.»
Joshua Cohen,
"Reflections on Information Technology and Democracy", in Boston Review, 9 March 2009.

domingo, 2 de maio de 2010

Plano inclinado da educação

Decorreu ontem, na SIC Notícias, mais um Plano Inclinado sobre o declive da educação em Portugal. O ilustre convidado, Guilherme Valente, além de uma síntese do devastador "eduquês" que tomou de assalto o nosso ME nos últimos anos, defendeu a seguinte interessante tese: a classe política no poder há uns anos não se enganou quanto aos resultados desastrosos da política educativa em Portugal; eles tinham mesmo essa intenção!
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A ideia é a de que quanto mais facilidade houver no ensino, mais alunos passam de ano, fazendo aumentar as estatísticas, fazendo aumentar a satisfação dos pais e, portanto, aumentando a popularidade do governo, aumentando os eleitores manietados, ganhando-se eleições, perpetuando-se o poder. Estratégia que assenta que nem uma luva num povo iletrado, com grande falta da capacidade crítica e uma vasta vontade de viver ilusoriamente sem esforço.
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Apesar de Medina Carreira insistir no seu pragmatismo crítico de que estes governantes são, pura e simplesmente, uns incompetentes modernaços, o que não será nenhuma falsidade, a tese de Guilherme Valente é, infelizmente, bem plausível, pois acaba por se enquadrar em vários factos políticos conhecidos, por muito que mais ou menos bem disfarçados pela orgiástica manipulação da verdade a que temos assistido ultimamente.
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Teoria da conspiração ou incompetência, o que é certo é que as políticas educativas socialistas e teorias pseudo-científicas da educação prosseguem o seu plano inclinado do depauramento da humanidade, que se procura retirar a milhares de jovens. O que pode ainda ir valendo aos nossos jovens, são aqueles que vão prosseguindo, com preserverança, a lúcida tarefa de pensar, ensinar e educar de forma crítica, desinteressada e competente... apesar do ME e do seu balofo eduquês. Mas, que aventura!

sábado, 1 de maio de 2010

Dia do trabalho

A palavra “trabalho” tem uma etimologia desastrosa: provém do latim tripalium, que significa “instrumento de tortura”. Ao lado das dores de parto e da política, o trabalho é, muitas vezes, vistos como um fardo para o ser humano – uma tortura!

O fardo é atenuado com a ideia de que se trata de um meio para atingir um fim maior – ganhar dinheiro. Primeiro, este dinheiro visa a subsistência. Depois, em última análise, o fim mais desejado – ganhar dinheiro, muito dinheiro, para se ser rico!

Porém, visto por estas perspectivas, o trabalho não é encarado com toda a sua essencial profundidade. E quando assim não é, também não é, tantas vezes, efectuado, levado a cabo, executado com toda a dedicação e empenho necessários. O ser humano é um ser de acção e o trabalho deveria ser encarado como acção humana. E com um fito maior, do que nos submetermos à tortura só para ganhar possibilidades de subsistência e, de preferência, de abastança – o trabalho é, antes de mais, uma forma de cooperação. A cooperação é o fundamento da vida social, já que a inter-relação proporciona uma sociedade organizada em torno de tarefas distribuídas de modo a cada cidadão poder usufruir de tudo aquilo que resulta da acção técnica, científica, artística, intelectual dos outros.
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E o trabalho visto como cooperação proporciona ainda outra coisa importantíssima para o ser humano – o trabalho pode ser uma forma de acção que realiza o ser humano enquanto ser humano e enquanto indivíduo. Como escreveu o filósofo espanhol Ortega y Gasset «felicidade es la vida dedicada a ocupaciones para las cuales cada hombre tiene singular vocación.» O trabalho pode e deve ser encarado, também, como fonte de prazer.

Num tempo de crise económica, o trabalho apresenta-se como fulcral. Os problemas sociais do desemprego avolumam-se. Mas os problemas das baixas taxas de produtividade e competitividade estão inegavelmente ligados à atitude do ser humano diante do trabalho. Deixar de encarar o trabalho como um fardo, que visa apenas a subsistência e mesmo a “sobressistência”, pode ser um primeiro passo no sentido de, empenhando-nos mais nas funções que cada um de nós exerce no sistema de acção cooperativo social, elevarmos o trabalho a acto de consumação de nós mesmo como seres humanos e como pessoas. Isso torna o dia do trabalho ainda mais importante do que o dia do trabalhador. Este tem uma carga ideológica; aquele teria um sentido mais aprofundado e que transcende qualquer manipulação política mais superficial, exibindo a verdadeira importância da acção humana informada técnica, científica, artística e intelectualmente, que é o trabalho.