sábado, 15 de maio de 2010



Dar a pensar

.
«(…) embora superficialmente esta crise pareça uma derrota para pensadores como Smith, Hayek e Friedman, e uma vitória para Marx, Keynes e Polanyi, isso pode muito bem vir a estar errado. Longe de terem sido causadas por mercados livres não regulados, estas crises podem ter sido causadas por distorções no mercado provocadas por acções governamentais imprudentes: garantias explícitas e implícitas a bancos gigantescos, atribuição de poder inapropriado a empresas de rating, política monetária desastrosamente frouxa, má regulamentação das grandes seguradoras, encorajamento sistemático de empréstimos hipotecários negligentes – para não falar das distorções nos mercados cambiais causadas pelas intervenções dos bancos centrais.
(…)
De uma perspectiva de mercado livre, a questão chave é que as medidas de emergência legítimas não se tornem práticas instituídas. Porque não pode ser uma situação saudável que as principais instituições do sistema financeiro ocidental estejam efectivamente garantidas, quando não mesmo detidas, pelos governos. O pensador que mais claramente discerniu os problemas associados a esse tipo de intervenção estatal foi Joseph Schumpeter (1883-1950),cuja “destruição criativa” tem sido uma das frases mais citadas do ano.
(…)
“Este sistema económico”, escreveu Schumpeter na sua obra inicial, A Teoria do Desenvolvimento Económico, “não pode sobreviver sem o argumento final da completa destruição dessas existências que são inevitavelmente associadas com os irremediavelmente inadaptados”. De facto, nós vimos que a economia continuou sobrecarregada com demasiadas “daquelas empresas que são inaptas para sobreviver”. Isto poderia servir como uma descrição penosamente verdadeira do sistema financeiro ocidental de hoje.

Contudo, todas aquelas alusões à evolução e à capacidade para viver servem como uma lembrança do pensador morto que todos deveríamos ter passado, pelo menos uma parte de 2009, a venerar: Charles Darwin (1809-1882). O ano transacto foi não só o bicentenário do seu nascimento, mas também o 150.º aniversário da sua obra A Origem das Espécies, que mudou paradigmas. Reflictam apenas nestas frases do trabalho seminal de Darwin:

“Todos os seres orgânicos estão expostos a competição severa.”

“Dado que são produzidos mais indivíduos do que aqueles que podem sobreviver, tem de existir em todos os casos uma luta pela existência.”

“Cada ser orgânico… tem de lutar pela vida e sofrer grande destruição. (…) Os vigorosos, os saudáveis e os felizes sobrevivem e multiplicam-se.”

Graças em grande medida aos esforços dos seus herdeiros modernos, principalmente Richard Dawkins, agora somos todos darwinianos – excepto nos estranhos mundos paralelos do cristianismo fundamentalista e da finança garantida pelo Estado.»

Niall Ferguson, “Eles andam por aí”, Foreign Policy ed. FP Portugal n.º 15 (Lisboa, Abril/Maio 2010) 34-35.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não percebo porque é que este blogue é uma demonstração fanática de elogios ao PSD, e na sua Introdução/Apresentação fala-se de fliosofia, blá blá blá... Não seria melhor isto chamar-se "miguellaranjaportugal"?! Para mim está claro que este tipo, é um PSD descarado, prepotente e despreocupado com a sociedade... Eh pá, para cair no ridículo, elogie pf - mas num registo filosófico! - gente como o Cavaco, a Salazar de Saias (a sua querida...) ou Paulo Rangel (triplo vómito)...

Miguel Portugal disse...

Se compreendi o anónimo (não sei se compreendi a razão do anonimáto!), ter ideias e convicções político-partidárias (pressupondo que tenho convicções partidárias; políticas tenho) é fanatismo. Então, segundo o seu próprio argumento, o senhor anónimo deve ser um "fanático" apoiante do PS e do senhor José Sócrates. Somos todos fanáticos, portanto.

Depois, talvez não tenha sido muito claro na apresentação do blogue. Mas o que significará um espaço de livre reflexão crítica sobre temas políticos? Um espaço de apresentação de estudos sociológicos e históricos?! Até a postura científica nas ciências sociais dificilmente se neutraliza ideologicamente!

De qualquer modo, caso o senhor anónimo se dê ao trabalho de percorrer com um pouco mais de atenção e serenidade este blog, certamente encontrará análises desinteressadas da acção política, com recurso a teorias e argumentos filosóficos, bem como encontrará críticas directas e claras a ideias de destacados membros do PSD.

Se estiver atento ao que por aqui se escreve, qualquer pessoa dificilmente encontrará, contudo, simples expressão de emoções fortes, que visem expurgar ódios ou mal-estar de alma e, muito menos, vilipendiar rudemente pessoas que assumem cargos públicos, que outras pessoas mostram, infelizmente, não ter perfil para o fazer. É pena, porque a vida pública bem beneficiaria se fossem mais os que se dedicassem ao debate e defesa de ideias políticas tão indispensáveis para organizar a sociedade. A política não é pugilato; é convencer os outros de que temos as melhores ideias para resolver problemas comuns.