terça-feira, 12 de junho de 2007

O paradoxo do ovo e da galinha

Um paradoxo é aquilo que é contrário à opinião, o «que chamamos “coisas que maravilham”» (Cícero) – e maravilham dado que propõem algo que parece estranho que possa ser tal como se diz que é.
O paradoxo do ovo e da galinha consiste nisto: a galinha nasce do ovo, mas o ovo é posto por uma galinha – ovo ou galinha, o que apareceu primeiro? Plutarco (c.46-c.120) terá sido o primeiro a mencionar este paradoxo.
Aristóteles (c.384/3-322 a.C.) acreditava que as espécies sempre existiram e que, portanto, não tiveram um começo – se esta perspectiva fosse verdadeira, nem ovo nem galinha teria surgido primeiro!
Mas a Biologia moderna mostra-nos que isto é falso. Mesmo apesar do conceito de “espécie” estar hoje em dia a ser alvo de críticas e haja mesmo quem negue inclusivamente a sua existência, uma das respostas que ganhou adeptos na comunidade científica coloca e ovo primeiro: um organismo particular não pode mudar a sua espécie durante a sua vida; a mudança provém de uma mutação quando dois organismos (de uma espécie diferente da galinha) fazem criação, produzindo um ovo de galinha; o ovo precede a galinha, que nasceu dele; logo, o ovo apareceu primeiro. Neste caso, não interessa quem são os pais deste ovo de galinha primordial, pois essa espécie não continuou no ovo, uma vez que se deu uma mutação e o seu material genético determina a natureza da sua descendência – se é um ovo de galinha, então será uma galinha que dele nascerá.
Outra resposta para o paradoxo diz que sem galinha não há ovo! Embora o zigoto resulte de macho e fêmea, o ovo circundante provém apenas da galinha; só uma galinha pode pôr um ovo de galinha; logo, a galinha vem primeiro. Nesta perspectiva, presumivelmente, terá havido uma mutação que deu origem a um zigoto de galinha (como passageiro embrionário), enquanto se encontrava no interior de um ovo que não era de galinha. Quando essa galinha for pôr ovos, porá um ovo de galinha, mas a galinha veio primeiro.

Referências:
David Waller, “The chiken and her egg”, Mind 1998, vol. 107.
Roy Sorensen, A Brief History of the Paradox, Oxford, OUP 2003, p.11.
Michael Clark, Paradoxes from A to Z, London, Routledge 2007, second edition.

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