Na passada semana, quando Margarida Moreira, Directora Regional de Educação do Norte, terá dito que «talvez fosse útil excluir de correctores aqueles professores que têm repetidamente classificações muito distantes da média», «os alunos têm direito a ter sucesso» e o que «honra o trabalho do professor é o sucesso dos alunos» estava simplesmente a dar cumprimento a uma política, explícita ou implicitamente dimanada de Lisboa, de facilitação de obtenção de resultados em provas de aferição e exames nacionais.
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Claro que a capa, que esconde esta hedionda perversidade, consiste em dizer, como disse Carlos Pinto Ferreira do GAVE (Gabinete de Avaliação Educacional), que se trata apenas de chamar a atenção para o dever dos professores correctores elaborarem o seu trabalho seguindo estritamente os critérios de correcção das provas emanadas daquele gabinete. Mas esta prerrogativa não é óbvia?! É claro que não seria necessário vir ninguém dizer a um juiz ou a um médico que devem seguir estritamente as normas e as boas práticas instituídas no decurso dos seus importantes trabalhos, a não ser que tais profissionais não estivessem, de todo, a fazê-lo. E se fosse esse o caso, teriam que se apurar os factos e proceder disciplinarmente em conformidade com a lei.
Ora, não é isto que está aqui em causa. Não há inquéritos de apuramento de factos (exames mal corrigidos por professores), nem há procedimentos disciplinares, que se saiba, a professores correctores por não terem seguido as normas na correcção de exames. Portanto, o que está aqui em causa, para quem quiser ver, é uma intromissão (mesmo que indirecta, via DREN) ilegítima do governo na verdade educacional, designadamente, na correcção de provas de aferição e exames de conhecimentos e competências, coisas a que o Estado só acede directamente caso se trate de um Estado totalitário; num estado verdadeiramente democrático existe uma clara separação entre política e ciência, entre poder e verdade educacional.
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Este governo já mostrou que todos os fins justificam quaisquer meios. (O Ministro da Economia até já vai, numa das iniciativas mais ridículas que até hoje algum membro de um governo de um país desenvolvido já fez, aos hiper-mercados mostrar que os preços, apesar de não estarem mais baixos, estão mais baixos!) No caso da educação, interessa que haja resultados, já! É realmente mais difícil (embora não impossível) enfrentar politicamente os problemas sócio-económicos e culturais que estão por detrás do ainda mau desempenho de muitos alunos portugueses, designadamente, na língua e cultura materna e na Matemática. Como esse caminho não seria tão fácil e tão rápido é melhor enveredar pelo populismo da facilidade. A mensagem (qual Fernando Pessoa, desta feita, de "ouro") é: não se esforcem; os professores é que corrigem mal!
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Mesmo que os nossos jovens não aprendam grande coisa nem desenvolvam grandemente as suas competências, cada vez mais necessárias num mundo altamente exigente em (verdadeiras) qualificações, o que é preciso é que os seus pais votem para manter o poder. (E se muitos pais, coitados, ficam, mesmo que virtual e ilusoriamente, contentes com isto...!)
Com as eleições à porta e uma oposição a erigir-se paulatinamente com segura fortaleza preparemo-nos para mais tropelias dos meninos de ouro!
2 comentários:
Obviamente. Muito bom poste.
Agradeço o seu comentário, Reitor. (Era melhor que não fosse necessário escrever "bons" postes sobre este tema!)
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