A propósito da polémica em torno dos “estranhos” exames de Matemática (e Português!) e da pedagogia construtivista ingénua que tem envolvido, nas últimas décadas, as (des)orientações do ME, não resisto a partilhar algumas análises críticas que Nuno Crato faz de textos supostamente científico-pedagógicos dos educadores de Portugal:
«Vejamos extractos de um livro dedicado à preparação de professores do ensino básico e muito recomendado em Escolas Superiores de Educação. A autora apresenta-se desde o início como apoiante da perspectiva construtivista, que explicitamente reconhece inspirar os fundamentos do programa de matemática do 1.º ciclo (1990).
“O papel do professor não é pois o de transmitir ideias feitas aos alunos mas de os ajudar, através das tarefas apresentadas, a construir os seus próprios conhecimentos. (…) Sendo assim, o professor deverá respeitar sempre a opinião do aluno e, mesmo quando esta é incorrecta, evitará emitir sobre esta juízos de valor.” [Luísa Maria de Almeida Morgado, O Ensino da Aritmética: Perspectiva Construtivista, Coimbra, Almedina, 1993, p. 25.]
Curiosa esta designação para conhecimento: “ideias feitas”… Mais uma vez, parece sensato que o ensino não seja a transmissão de preconceitos. As não devem os professores transmitir aos alunos a “ideia feita” de que a República foi implantada em 1910, nem a “ideia feita” de que um triângulo tem três vértices? E devem “evitar emitir juízos de valor”? A classificação de certo ou errado não constitui um juízo de valor? Deve ser evitada pelo docente? É isso que quer dizer “respeitar sempre a opinião do aluno”? Pelos vistos, há quem o defenda e dê significado dogmático ao apelo ao “respeito”.»
In: Nuno Crato, O “Eduquês” em Discurso Directo – Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista (Lisboa: Gradiva, 2006) 9ª edição, pp. 109-110.
«Vejamos extractos de um livro dedicado à preparação de professores do ensino básico e muito recomendado em Escolas Superiores de Educação. A autora apresenta-se desde o início como apoiante da perspectiva construtivista, que explicitamente reconhece inspirar os fundamentos do programa de matemática do 1.º ciclo (1990).
“O papel do professor não é pois o de transmitir ideias feitas aos alunos mas de os ajudar, através das tarefas apresentadas, a construir os seus próprios conhecimentos. (…) Sendo assim, o professor deverá respeitar sempre a opinião do aluno e, mesmo quando esta é incorrecta, evitará emitir sobre esta juízos de valor.” [Luísa Maria de Almeida Morgado, O Ensino da Aritmética: Perspectiva Construtivista, Coimbra, Almedina, 1993, p. 25.]
Curiosa esta designação para conhecimento: “ideias feitas”… Mais uma vez, parece sensato que o ensino não seja a transmissão de preconceitos. As não devem os professores transmitir aos alunos a “ideia feita” de que a República foi implantada em 1910, nem a “ideia feita” de que um triângulo tem três vértices? E devem “evitar emitir juízos de valor”? A classificação de certo ou errado não constitui um juízo de valor? Deve ser evitada pelo docente? É isso que quer dizer “respeitar sempre a opinião do aluno”? Pelos vistos, há quem o defenda e dê significado dogmático ao apelo ao “respeito”.»
In: Nuno Crato, O “Eduquês” em Discurso Directo – Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista (Lisboa: Gradiva, 2006) 9ª edição, pp. 109-110.
Sem comentários:
Enviar um comentário