quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ranking de políticas educativas

Os resultados obtidos pelos alunos das escolas portuguesas nos exames nacionais do 9.º ano e do ensino secundário, conjugadas com as classificações obtidas na frequência do último ano lectivo, proporcionaram mais um escalonamento das escolas em rankings nacionais (veja-se os da SIC, aqui).

Nesses rankings de escolas pode verificar-se duas coisas fundamentais para a avaliação do desempenho das escolas, mas também das políticas educativas orientadoras:

1. uma descida bastante significativa das escolas públicas nos rankings (a melhor pública – a Secundária D. Maria, em Coimbra – caiu de 5.º para 14.º lugar);

2. um aumento anormalmente exponencial das classificações nos exames de Matemática do 9.º e do 12.º anos.

Ora, o primeiro facto mostra claramente um falhanço confrangedor das políticas educativas pseudo-reformistas empreendidas por este governo, que pretensamente seriam a salvação da escola pública no que toca aos maus resultados dos alunos, situação que tais políticas, supostamente, iriam inverter. Se as políticas educativas deste ME fossem boas, as escolas públicas teriam, pelo menos, mantido os seus lugares relativos nos rankings, mas nunca teriam descido de forma abissal! Acontece que tais políticas não só não inverteram a situação como vieram agudizá-la, já que a instabilidade geral duradoura introduzida nas escolas pelo novo Estatuto da Carreira Docente e, em especial, por esta Avaliação de Desempenho grosseiramente injusta, altamente burocrática e irracionalmente absorvente do verdadeiro trabalho de professor enquanto professor, bem como o incrível conjunto de medidas facilitadoras da obtenção de diplomas, mas não de conhecimentos e competências, está a ter como consequência o desencadear (agora, cada vez mais agudizar) de um processo de decréscimo do nível de exigência das efectivas aprendizagens dos alunos e da sua consequente avaliação. E os resultados nas escolas públicas não são ainda piores, graças ao esforço de muitos professores resistentes que procuram prosseguir – apesar de tudo(!) – um trabalho criterioso, rigoroso, motivador e com sentido ético, com o fito de melhorar realmente os resultados das efectivas aprendizagens dos seus alunos, lutando, porém, contra um ciclópico facilitismo que deles teima apoderar-se!

O segundo facto deve-se – e tal não é muito difícil de compreender – ao facto dos exames de Matemática terem sido injustificadamente tão mais fáceis, ao ponto dos alunos em geral terem conseguido classificações anormalmente mais elevadas. Os alunos das escolas privadas conseguiram mesmo resultados bastante elevados. Isto explica-se porque esses alunos conseguem estar mais bem preparados para os exames e isso – entre outras razões – por nas escolas privadas ser mais fácil, digamos, “fugir” a algumas das mais nocivas políticas (des)orientadoras do ME!

Os que mais sofrerão com este decréscimo do nível de exigência na aprendizagem de conhecimentos e competências são, pois, os alunos que frequentam as escolas públicas e, destes, sobretudo, …precisamente os mais desfavorecidos. É caso para se dizer que a “educação socialista” deixou de ser… socialista! (Terá passado a ser um instrumento de domínio pelo prolongamento e gestão da ignorância?)

Assim, somos impelidos a concluir que, no "ranking das políticas educativas", as propostas deste ME estão, manifestamente, a afundar-se cada vez mais na tabela!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Afinal, estava (quase) tudo mal!

O relatório da Comissão de Inquérito ao último acidente na linha do Tua conclui, finalmente, que «defeitos grosseiros» na via e automotoras desadequadas estiveram, com certeza, na origem do acidente. E isto com base num número tão significativo de causas, que é, ao mesmo tempo, desesperante e vergonhoso que tal possa estar a acontecer neste país europeu, que o nosso actual timoneiro quer que siga o exemplo dos países nórdicos! Senão, veja-se:

- «A via no local do acidente apresenta defeitos grosseiros e facilmente identificáveis e suficientes para justificar a ocorrência do descarrilamento»

- Uma curva com medidas desadequadas, defeitos de alinhamento, de empeno, travessas que «necessitam de substituição imediata» (há 18 anos que não são substituídas e algumas têm já 40 anos, já que, segundo o documento, «a sua idade varia entre 1968 e 1990»).

- Falhas nas automotoras («desadequadas características do material circulante») – problemas nas rodas, falta de lubrificação e pouco amortecimento.


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Mais tranquilos ficamos com a conclusão de que não foi apurado qualquer «indício de actos de intervenção dolosa ou negligente produzidos por intervenção humana», segundo concluiu a Policia Judiciária que participou nas investigações, o que já não é nada mau!
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O ministro Mário Lino deu um prazo de 15 dias ao IMTT para apresentar um cronograma e deu 30 dias à Refer e CP para realizarem averiguações internas para apuramento das causas que conduziram às anomalias identificadas, o que, como assim veremos, é apenas para inglês ver!
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É, no entanto, curioso notar como em outros países mais evoluídos cívica e politicamente, perante uma situação tão clara de incumprimento das obrigações do Estado perante a salvaguarda da segurança dos cidadãos, se teriam apurado as respectivas responsabilidades políticas desta bárbara incúria e se teria procedido à respectiva demissão do responsável da tutela, que seria proposta pelo próprio, claro. O mais parecido que temos com tal, foi no trágico caso da ponte de Entre-os-Rios…, mas aí houve mais vítimas mortais! Em Portugal é tudo uma questão de vítimas mortais – “4” é ainda um número abaixo da responsabilização política!!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Maria Filomena Mónica a pensar

A propósito da polémica avaliação de professores e, em geral, do estado da educação em Portugal, parece-me importante citar aqui parte de uma entrevista que Maria Filomena Mónica – socióloga, mulher do também sociólogo António Barreto, intelectual de esquerda bastante respeitada – concedeu à Visão, a propósito do seu livro “Nós, os portugueses” (reunião de crónicas escritas para o Público):

«[MFM] O Estado deve preocupar-se com a redistribuição da riqueza, com a protecção das vítimas (de uma crise como esta), com um sistema de educação decente... disto nem quero falar mais. Aliás, a Saúde está muito melhor do que a Educação.

Arrasou os exames, nas suas crónicas... Mas mesmo assim, se calhar, nunca houve em Portugal, tanta gente tão qualificada.

Temos de ver o que quer dizer «qualificada». Se é ter um doutoramento, há muita gente nas Humanidades que tem um doutoramento e não devia ter. Há demasiado dinheiro para doutoramentos. E há muita gente que não os completa. Aliás, dá-me ideia de que, nas ciências exactas, as pessoas estão mais preparadas. Eu dei um curso de Literatura, na Faculdade de Letras, e eles recusavam-se a ler livros! Queriam fotocópias de capítulos. Não dou! O Ministério da Educação não confia nos professores e não os deixa sozinhos a corrigir testes qualitativos. Quer que eles sejam meros carimbadores automáticos de regras malucas que inventaram, como as do secretário de Estado Valter Lemos, que acha que há umas fórmulas matemáticas para avaliar o sucesso escolar. Como as das respostas de escolha múltipla, que estupidifica e só serve para preencher totobolas... Não distingue o bom do mau aluno, nem o criativo do marrão. Mais: agora, para os mentecaptos pedagogos do ME, existe uma coisa chamada Língua Portuguesa e outra Literatura Portuguesa. Com exames diferentes!

E deve haver avaliação de professores?

Sim, mas de outra forma. Com um corpo de inspectores de professores muito bem pagos. E deviam ser classificados por um director de escola - coisa que não existe em Portugal.
» (Vale mesmo a pena ler a entrevista integral!)

Mas por que razão haverá tantas pessoas respeitáveis – até provenientes da esquerda liberal portuguesa – a contestar (para não dizer: arrasar), com base em argumentos sólidos, a actual política educativa em Portugal?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Os números sempre exerceram um profundo fascínio no ser humano, em particular os números 1000, 10000, 100000,… Contando que comecem com o algarismo “1” e se prolonguem com vários zeros, causam sempre uma atracção quase mística. Não seria sincero se não concedesse que essa mística dos números também me atinge. Ultrapassar 10.000 visitas num blog sem especial projecção, em que muitas visitas se fazem, provavelmente, pelo conteúdo político, educacional e, por vezes, filosófico é sempre regozijante, sobretudo numa era de alguma pobreza de pensamento ou fuga generalizada perante as “coisas mais sérias”.

Assim, agradeço aos que ocuparam o seu tempo lendo o que aqui tenho escrito, especialmente aos que tiveram a lucidez de comentar criticamente o que leram, colocando em acto a inegável dimensão crítica e dialógica do pensamento (político, educacional e filosófico). Não poderia passar sem deixar aqui um agradecimento muito especial aos amigos que visitam com regularidade o blog e, sobretudo, aos meus alunos, que vêm efectuando alguns comentários críticos, num gesto ensaísta de cidadania de enorme importância futura.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

“Orçamento de risco”

O Orçamento de Estado é a trave mestra da gestão financeira do Estado. O orçamento apresentado para o difícil e incerto ano de 2009 é um arriscado misto de bom e mau orçamento.

Por um lado, apresenta alguns indicadores de confiança para a economia, no sentido em que, por exemplo, aumentando os vencimentos da função pública em 2,9% (maior aumento dos últimos 7 anos!), dá um pouco mais de poder de compra aos consumidores e, criando um fundo de auxílio ao pagamento das obrigações com créditos à habitação em risco, pode evitar, pelo menos aparentemente, o colapso económico de muitas famílias e até dar esperanças ao mercado imobiliário.

Mas, por outro lado, é um orçamento de risco, à partida, pelo menos pelas seguintes razões:

1. Cria um problema às empresas, quando as pressiona, indirectamente, no sentido de um aumento salarial na mesma ordem de grandeza do da função pública, quando nesta fase de recessão económica se impõe uma contenção de despesas muito rigorosa para fazer face à inevitável estagnação ou mesmo quebra da facturação.

2. Ao criar um fundo para gestão das dificuldades de cumprimento de compromissos com crédito à habitação, este governo cria um duplo problema:
2.1. obriga a que a injecção de capitais nesse fundo seja feita, pelo menos inicialmente, pelo Estado, uma vez que, com o mercado imobiliário em crise, os privados não arriscarão agora injecção de capital, introduzindo, assim, um grave problema de justiça distributiva, uma vez que os cidadãos contribuintes que sempre cumpriram as suas obrigações com os seus créditos irão contribuir para pagar as obrigações daqueles que, por várias razões, não fizeram bem as contas à vida!
2.2. e cria nas pessoas (e no mercado) aquilo que pode muito bem ser apenas uma ilusão de que, afinal, esta crise não exige grandes preocupações quanto ao eventual consumo acima das possibilidades (que poderia muito bem ser apelidado de “consumo selvagem”), pois há sempre o Estado que nos vem dar uma mãozinha…

3. Como os movimentos da economia nacional e internacional são bastante incertos, as previsões do governo para 2009 podem vir a ser obrigatoriamente revistas ainda mais em baixa e estragar as contas a Teixeira dos Santos (até porque as receitas não tenderão a aumentar), o que implicará, para prover aos compromissos orçamentais das despesas crescentes (por exemplo, com aumentos salariais ou com a gestão do fundo de auxílio ao pagamento de crédito à habitação), um aumento da dívida pública, aumentando ainda mais a nossa dependência face ao exterior e colocando cada vez mais em causa o futuro das próximas gerações.

Num tempo de evidentes necessárias contenções, de rigor e prudência a tentação eleitoralista é mais forte e José Sócrates e Teixeira dos Santos cedem na política financeira de rigor, que vinham seguindo mais ou menos escrupulosamente e com algum êxito. Mas também não são muitos aqueles que têm conhecimentos e competências suficientes para compreender economia política e finanças públicas ou que com isso ocupem o seu tempo, por isso o risco político acaba por ser pequeno!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008



Dar a pensar

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«(…) O verdadeiro significado que o Cristianismo teve para a vida política residiu na sua transformação dos valores humanos.

O Cristianismo afirmava que todas as almas humanas tinham o mesmo valor aos olhos de Deus. E o valor de cada indivíduo não residia na sua participação na razão universal, mas numa personalidade que respondia ao desafio do pecado. Para os filósofos era difícil explicar esta noção de personalidade e tendiam a voltar à descrição clássica da vida moral como uma competição entre a razão e as paixões. Com o aparecimento do protestantismo durante a Reforma, no século XVI, tornou-se evidente para todos, protestantes e católicos, que os seres humanos modernos tinham de ser concebidos em termos de vontade, embora não num qualquer sentido superficial que identificasse a vontade apenas com cada um fazer o que lhe aprouvesse. O Cristianismo desviou a atenção dos homens da conquista política e das coisas materiais do mundo, virando-a para o culto da vida interior, sendo o aparecimento do mundo moderno a construção lenta de uma sociedade na qual essa preocupação com a vida interior podia acompanhar completamente o envolvimento com o mundo. O mundo moderno é, evidentemente, um processo dinâmico, e o individualismo, neste sentido, talvez já tenha ultrapassado há muito o seu apogeu, mas os seus vestígios ainda se encontram entre nós, [quando tentamos saber] como atingir a felicidade através da realização interior e na divulgação da ideia dos direitos humanos, que não seriam concebíveis senão como resultado do percurso tortuoso da teologia cristã.»

Kenneth Minogue, Politics: A Very Short Introduction (London: Oxford University Press, 1995), trad. port. de Maria Manuel Cobeira, Política – o essencial (Lisboa: Gradiva, 1996) 44-45.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Clarividência não-eleitoralista

O eng.º Marçal Grilo, antigo Ministro da Educação do governo PS de António Guterres, disse ontem, entrevistado por Mário Crespo no Jornal das 9 da SIC Notícias, a propósito do pequeno "Magalhães", duas coisas essenciais, que importa louvar:

1. As escolas precisam de computadores - é uma evidência, indiscutível -, mas os professors precisam de formação específica para retirarem os melhores dividendos pedagógicos do uso do computador como um instrumento, entre outros, que pode auxiliar nas boas aprendizagens;

2. O "Magalhães" está a ser apresentado - disse ainda Marçal Grilo - como uma solução para o problema das apredizagens de conhecimentos e competências das crianças portuguesas - ainda abaixo do que seria desejável, quando comparado com outros países do mundo (por exemplo, pelo PISA, da OCDE) -, quando o essencial é que as escolas precisam de exigir mais dos alunos, os pais precisam de exigir que os seus filhos aprendam mais e, o mais importante, é preciso que os pais comecem a perceber que os seus filhos precisam de trabalhar mais, esforçarem-se mais, mas para isso terão de lhes incutir mais disciplina e hábitos e estilos de vida compatíveis com o sucesso escolar, caso queiram aprender o fundamental para poderem viver, quando não mesmo sobreviver, de forma condigna como pessoas neste mundo complexo e exigente.
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É claro que é disto que é necessário convencer os portugueses!
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Marçal Grilo terá dito o que disse, e bem, porque... não é candidato pelo PS a governar Portugal?! Ainda bem que há pessoas que reflectem sobre as políticas condutoras de tal pilar fulcral de qualquer sociedade, como é a educação e o ensino, com a lucidez de quem parece não estar manietado por infelizes interesses partidários e eleitoralistas (ou outros!), que só adiam a resolução dos problemas básicos do país!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Reformas compulsivas

É hoje notícia na imprensa o aumento exponencial de reformas de professores. A questão fundamental a colocar é esta: será o resultado de um insolúvel problema de inadaptação de muitos a uma profissão naturalmente cada vez mais exigente ou resultará de uma transfiguração artificiosa da profissão de professor protagonizada pelas políticas educativas deste governo, com intuitos economicistas e populistas, fazendo-se uma verdadeira "limpeza à casa"? Natural inadaptação absoluta ou artificiosa transfiguração perversa?

É sempre demasiado fácil resolver dicotomias tentando conciliar ambas as partes. No entanto, a complexidade desta questão obriga-nos a pensar que, de facto, poderá muito bem ser uma dramática conciliação de ambas as causas!


Fotografias...




Lumen
(Figueira da Foz, Julho 2008)
© Miguel Portugal

sábado, 4 de outubro de 2008

O que há de mal no "Magalhães"

O contacto das crianças com o computador -- instrumento evidentemente importante na vida moderna contemporânea -- deve ser efectuado quando aquelas tiverem possibilidades desenvolvimentais para o fazer, o que poderá ser, tanto quanto se sabe, na idade escolar do 1.º ciclo.
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Mas a questão do "Magalhães" não é essa. A questão é que o computador tem funções diferentes em jovens de 5-9 anos (função lúdica) e em jovens na pré-adolescência (e adolescência), onde os chats, o messenger e outros serviços on line de grupos têm um papel importante. Portanto, primeira conclusão: um computador pessoal é importante para um pré-adolescente, mas não faz tanto sentido para uma criança em idade de 1.º ciclo.
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Mas, além disso, muito importante é a suposta omnipresença (que ainda ninguém sabe muito bem como aproveitar pedagogicamente!) do "magalhães" na escola, na sala de aula, quando a criança é, nesta idade, um utilizador de jogos (carácter lúdico) e a escola do 1.º ciclo, por muito lúdica que seja, é um espaço e um tempo, sobretudo, de aprendizagens básicas muitíssimo importantes -- ler, escrever e calcular. Ou seja, aprendizagens prévias às aprendizagens das TIC! Segunda conclusão: se é bom a criança ter contacto com o computador na escola (num determinado tempo) ou em casa, a posse de um computador pessoal (ainda por cima, portátil) pode desviá-la já -- desde cedo, portanto -- do essencial, que é apreender competências de leitura, escrita e competências matemáticas.
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Em suma, o "magalhães" pode ser, em certas circunstâncias, mais prejudicial do que benéfico, nesta fase etária. Para não ser prejudicial, requer uma utilização pedagógica muito bem estudada (ninguém conhece qualquer estudo!) e uma vigilância parental cuidada (em Portugal, impossível de generalizar a todos os lares, justamente por falta de conhecimentos e competências, não tanto informáticas, mas de literacia em geral de muitos adultos!).
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Quem viu/ouviu Steve Ballmer, o sucessor de Bill Gates na Microsoft, ontem entrevistado no "Expresso da Meia-Noite" (SIC Notícias), reparou que o argumento apresentado para defender o uso do "Magalhães" foi o de que Portugal é o primeiro (único até agora) país no mundo a introduzir um computador no 1.º ciclo do ensino básico! Fantástico! Mas é só isso -- fantástico! E é-o, sobretudo, para uma empresa que está, naturalmente, interessada em lucrar com o "Magalhães"! Mas também não é menos fantástico para um governo que tudo fará (nem que seja obscurecer o essencial com a distribuição destas maravilhas da técnica!) para ser reeleito. Ou seja, o pior é que o "Magalhães" é apresentado como se fosse uma solução ("modernaça", tanto ao gosto do nosso PM) para o problema das fracas competências básicas (matemática e língua materna!) evidenciadas pelas crianças portugueses quando comparadas com outras de outros países, quando os estudos científicos que existem mostram que não há nenhuma relação entre o uso e posse de PCs e o rendimento escolar!
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Choque tecnológico, sim; mas não é tudo. Há mais (e coisas mais substanciais) a fazer na educação em Portugal!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Tropelias!

Veja-se aqui (via 31 da armada) um depoimento de um professor coordenador de um Departamento de Tecnologias da Informação e Comunicação, a propósito de uma acção de propaganda, perdão, digo, formação, acerca do "magalhães" (professor que, por acaso, até vislumbra utilidade pedagógica no dito!). Afinal, um dos problemas do sistema educativo em Portugal, apontado por este governo (e bem, diga-se), residia na falta de qualidade, rigor e exigência da formação contínua de professores... Coisas do passado, problema resolvido!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"Mais Platão, menos Prozac!"

Numa altura em que se sabe que o consumo de barbitúricos e anti-depressivos aumentou em Portugal, parece-me oportuno lembrar que talvez fosse mais vantajoso para curar as dores da existência se se lesse um pouco mais sobre como compreender uma série de coisas assustadoras e perturbantes, mas, apesar de tudo, compreensíveis, desde que sejamos adequadamente orientados para as perceber.

De facto, prolifera há muito um género literário muito divulgado nos países anglo-saxónicos, sobretudo nos E.U.A., que poderíamos apelidar de "divulgação filosófica", em que se pretende partilhar com os não-filósofos o que de mais importante e até útil esta aventura milenar do saber crítico pode ter para o ser humano. E dentro deste género, há muitos bons livros, alguns deles traduzidos para português. Um deles é precisamente Mais Platão, menos Prozac!, de Lou Marinoff, em que o autor procura defender a tese de que possuir "umas tintas de filosofia" (para usar a célebre expressão de Russell) pode ajudar a compreender muitas perplexidades e problemas da vida quotidiana do homem e da mulher que vive nas sociedades modernas contemporâneas e que têm, nos países mais desenvolvidos, atafulhado os consultórios de psicologia e psiquiatria.

Virtual ou real, a (boa) leitura, bem como a reflexão racional e crítica são sempre o caminho da libertação!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"Magalhães" desmistificado... para letrados!

Reflicta-se neste bem informado e lúcido texto de Pacheco Pereira sobre a mística da infotecnologização salvífica de Portugal e das futuras gerações e constate-se, em acto, como a literacia da leitura subjaz, como condição sine qua non, a outras literacias, designadamente das TIC, e, por isso, deve ser muito bem trabalhada pedagogicamente nos primeiros anos escolares, o que, muito provavelmente, não passará, talvez bem pelo contrário, pelo uso de... computadores!

"A máscara de Sócrates"

Leia-se a contundente e desmistificadora crítica do Professor Paulo Morais, num excelente artigo de opinião no JN de hoje, à demagógica e propagandista forma de estar na política de José Sócrates, que, apesar da sua mestria nestas áreas mais superficiais da arte de convencer sobre o "melhor" para a res publica, começa a esboroar-se.
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O rei ainda não vai nu..., mas quase! E o país continua à espera de alguém... sem máscara!

Fotografias...




“Step by step“

(Trás-os-Montes, Agosto 2008)

© Miguel Portugal