Para racionalizar as despesas na educação sugeriria à dra. Isabel Alçada e ao dr. Teixeira dos Santos a venda de alguns quadros interactivos, que vieram decorar algumas salas de aula, de todas as escolas por esse país fora, muitos colocados no lugar de aquecedores minimamente eficazes ou, coisa curiosa, de estores que minimizassem o impacto da luz solar nas projecções nesses mesmos quadros e noutros (já que além destes quadros interactivos também há projectores multimédia). A ideia era modernaça: atacar os problemas do insucesso na Matemática com tão eficaz instrumento pedagógico e didáctico.
Mas a genialidade pedagógica não se ficou por aqui. Os quadros interactivos (deve ter sido uma promoção) haverão de servir para o ensino do inglês, do português, da filosofia… até para a educação física. Quando o elixir é bom, dá para tudo!
E como o PS quando chegou ao governo achou – e na grande maioria dos casos, bem – que a formação contínua de professores estava uma calamidade (até acções de formação em arraiolos havia!), lembrou-se de substituir essa ausência formativa, por uma formação modernaça – claro está: em TIC. Agora, por exemplo, os professores de filosofia têm à sua disposição acções de formação em “quadros interactivos para o ensino da filosofia”. Muito bem. Os professores de filosofia estavam mesmo a necessitar de se distraírem um pouco, tão ocupados que andavam a pensar na situação calamitosa e deprimente em que se encontra a base antropológica essencial para a vida condignamente humana e para o desenvolvimento, que a educação em Portugal não proporciona aos nossos jovens.
Acções de formação específicas na área da filosofia e da didáctica da filosofia? Poucas e sempre apenas em algumas universidades (Braga, Porto e Lisboa). Lógica e teoria da argumentação? Epistemologia e Filosofia da Ciência? Ética e Filosofia Política? Pagar a generalização da formação contínua nestas áreas? Não, isso só interessa aos tolos dos anglo-saxónicos e outros que tais, povos atrasados e conservadores! A aposta do estado na formação contínua da generalidade dos professores de filosofia é a formação num instrumento tecnológico perfeitamente preterível por uma apresentação em Power Point (facilmente) bem feita. E mesmo a utilização deste instrumento informático ou outro numa aula de filosofia nunca determinou nem nunca vai determinar a eficácia do ensino da filosofia e do filosofar, em nenhuma parte do mundo, por muito útil que possa, por vezes, ser tal instrumento:
«Apesar de todas as proezas tecnológicas, não se observa em filosofia qualquer avanço que suplante a prática socrática de conversar frente a frente com outra pessoa.»
[Alexander George (Org.), Que diria Sócrates?, Gradiva, 2008, pág. 12.]
Bem, talvez noutra galáxia, quem sabe!
Das duas, uma, portanto: ou o governo socialista entende que não é necessário dar verdadeira formação contínua aos professores de filosofia (afinal, ela só serve para criar mentes críticas!) ou então não consegue aperceber-se do ridículo que é promover cursos de quadros interactivos para professores de filosofia, ainda por cima atribuindo a esta formação o epíteto de “formação específica na área científica”. Eis o cúmulo do ridículo, aliás muito comum à política socialista da educação: os professores de filosofia não precisam de actualizar a sua atitude filosófica e contactar eficazmente com abordagens actuais; basta saberem mover-se no jogo de sombras, que ilude e assim vai “alimentando” o espírito dos jovens.
Ora vendam lá uns quadritos interactivos empoeirados (mas ainda em bom estado), quiçá para a Venezuela, e vão ver que ajuda a pagar formação a sério, com efectiva mais-valia para os alunos e, portanto, para o desenvolvimento do país!
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