Eis um artigo de opinião sobre o sistema de ensino que defende uma tese aparentemente controversa.
Controversa por duas ordens de razões.
1. A primeira, porque se baseia numa análise fundada em estudos empíricos, com garantia científica. Paradoxalmente, estas análises chocam, em geral, com o destinatário desta opinião , que, em geral, não valoriza este tipo de argumentação, porque não possui cultura científica suficiente para reflectir nestes termos, o que nos arreda para os confins de um caótico lodaçal educativo, político, cívico.
2. Depois, controversa, agora com uma base mais discutível, por se basear numa comparação com países com melhores resultados, como a Finlândia e alguns "tigres da Ásia" (Singapura, Coreia do Sul), cujas culturas estão alicerçadas numa valorização do saber e do ensino bem mais forte do que aquela que somos capazes, devido a influências histórico-culturais decisivas (a primeira, fortemente influenciada pela cultura protestante, que privilegia o esforço, o empenho, o dever rigoroso e valoriza o saber; os segundos, influenciados pelo confucionismo, que valoriza a sabedoria do idoso, abrindo-se o neófito religiosa e empenhadamente à veneração dessa sabedoria).
A tese central, concreta, seria turmas maiores e muito bons professores, com remuneração elevada para atrair os melhores. Elementar. Mas: turmas maiores com estes alunos, com esta forma de estar da sociedade perante a disciplina, o rigor, o esforço? Melhores professores implicaria regular novamente a acreditação das universidades para a formação de professores, instituir provas de acesso à profissão e implementar modelos rigorosos, objectivos de avaliação de desempenho! E coragem e competência (política e técnica) para isto?
Não deixa de ser, no entanto, uma análise corajosa e um bom rumo possível a seguir, no meio de tanta superficialidade e falta de ideias e princípios orientadores de uma política verdadeiramente educativa e salvadora das próximas gerações, que podem estar perdidas.
Mas, o que é necessário é pensar o que na cultura histórica portuguesa existe (se existe!) no qual se possa ancorar tal atitude positiva, pro-activa, da sociedade, em geral (políticos, pais, empresários, professores), para com a educação. O principal problema da educação em Portugal é, como há muito referem estudos sociológicos, a fraca valorização que a sociedade portuguesa faz do saber e da educação. Só depois vêm: a completa irresponsabilidade e ignorante perspectiva que os políticos têm tido, nas últimas décadas e apesar de melhorias pontuais (nunca de fundo), de tão fulcral base político-social (por muito que estes tenham sempre a responsabilidade de orientar politicamente e de dar o exemplo!); o papel sectarista e pobre de perspectiva dos sindicatos; e a, alguma (pelo menos a espaços), mediocridade cultural e política de muitos professores, que após o 25 de Abril se pavonearam na sociedade como aqueles que ganhavam algum dinheirito sem trabalhar e hoje (muitos deles bons profissionais -- onde é que estaríamos se assim não fossem?!) se sentem num campo de batalha de uma guerra sem móbiles nem comandantes.
Muito há a fazer, pois. Não será fácil. As mentalidades sempre foram o mais difícil de mudar.
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