quinta-feira, 3 de março de 2011

Dar a pensar...

[Sobre finalidades da educação]

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«Em segundo lugar, a abundância de informação. Hoje há mais informação disponível, mas provavelmente vivemos numa fase que eu classificaria de imatura ao que se projecta para daqui a quinze ou vinte anos. O ritmo de produção de informação tenderá a acelerar-se, a globalização do acesso vai acentuar-se e a acumulação dessa informação atingirá escalas inimagináveis.

De há muito se fala de excesso de informação e dois problemas que apresenta, mas para além dessa abundância coloca-se também o problema da obsolescência, informação que “mata” ou desvaloriza a informação, a um ritmo crescente, tornando o “mercado” uma amálgama de ofertas perante procuras potencialmente insuficientes.

Neste contexto, surge a necessidade premente de avaliação da sua utilidade e da sua validade. Ora, essa avaliação exige capacidades cognitivas redobradas: saber definir muito bem a utilidade e a finalidade da busca de informação, saber questionar e analisar criticamente, ter capacidade de a apropriar com vista a tomar uma decisão ou a produzir nova informação.
É previsível um melhoramento das tecnologias de informação, desde os motores de pesquisa à gestão de bases de dados, mas esse avanço não irá dispensar a boa utilização das ferramentas, a capacidade análise, de reflexão e síntese por parte do utilizador. Ora estas capacidades exigem formação prolongada e sistemática, integrando o que atrás designámos por “saber pensar”. Não bastará o domínio dos operadores lógicos, é necessário saber questionar, formular bem os problemas, construir hipóteses e identificar com rigor o objecto da pesquisa.

Mas há um outro desafio, o da passagem da perspectiva do utilizador para a do criador, do produtor de nova informação. Só assim poderá haver utilidade social e valor acrescentado. A informação, por isso só, não passa de uma matéria-prima. Acrescentar-lhe valor implica processá-la e torná-la socialmente reconhecida.

Como lá chegar através da educação? Começando, desde os primeiros anos de escolaridade, com as coisas mais simples: a leitura, análise e interpretação de textos, por exemplo, ou da prática de análise de fontes históricas, das operações mais simples de raciocínio lógico associados aos primeiros exercícios de estatística ou ao hábito de medida, registo, leitura e interpretação de observações de fenómenos quotidianos (temperatura do ar, humidade, tensão arterial, entre tantos outros exemplos possíveis).»
David Justino, Difícil é Educá-los (Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2010) 96-7.

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