quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Nova lei do aborto -- aconselhar não é decidir!

Afinal, o aborto sempre foi liberalizado! Tanto o Primeiro-Ministro como o líder parlamentar do PS têm defendido, neste pós-referendo, que a opção pelas comissões de aconselhamento (obrigatórias, por exemplo, na Alemanha) não seria coerente com a «decisão da mulher», expressão (e ideia) referendada!
1. Mas, então será que a Alemanha não é um país civilizado (em que reinam os mais elevados e modernos valores)? Será que não é liberal (em que todos, incluindo as mulheres, têm o máximo de liberdade possível)? Será que não é democrático (em que se respeitam os resultados dos referendos)? Será que não é um estado laico?! Ou será mesmo que é irracionalmente conservador?! Não é, pois, nada disto que está em questão! A Alemanha é, evidentemente, apenas uma sociedade que procura resolver os seus mais complexos problemas, como o problema ético-político do aborto, de uma forma complexa -- sensata, ponderada e em equilíbrio reflexivo.
2. Mas para que servem estas comissões? É claro que não são um conjunto de homenzinhos ou mulherzinhas que se querem "meter" na vida das mulheres (visão atávica e pré-moderna da ciência e da ética)! São um instrumento extremamente útil para auxiliar numa decisão complexa e díficil da mulher (e do homem?!). Mas cuidado com mais uma argumentação falaciosa, ocultada por um capricho político-ideológico: a decisão será sempre da mulher! Como se sabe (ou será que não sabem?!) uma decisão racional é precedida de um processo deliberativo, em que se ponderam opções alternativas, a fim de consolidar a decisão. Aconselhar não é, pois, decidir! Estamos perante mais uma contradição do PS, que, desta vez, parece deixar arrastar-se pela onda vermelha intolerante, que, aliada ao estilo obstinado do seu líder e nosso Primeiro-Ministro, pode conduzir a uma libertária (porque irracional e despropositadamente desregulada) consolidação da nova lei do aborto, completamente desajustada à nossa situação sócio-política actual.

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