sábado, 13 de outubro de 2007

“Abaixo os intelectuais!” Mas, “viva” quem?!

O PSD viveu dois anos de alguma letargia e mesmo – porque não dize-lo – impotência política, face a um Primeiro Ministro grandemente apetrechado do ponto de vista retórico, estratégico e com reformas importantes para se fazerem, momentos de oposição sempre difícil.

Os militantes do PSD escolheram agora um novo líder, que parece querer retomar velhas pragas da contenda política, no estilo, nas ideias pouco diferentes das do governo ou nos meios de luta intra-partidária, isto apesar de ter aberto há pouco o Congresso a prometer tolerância e pluralismo interno!

Uma das estratégias partidárias parece clara: guerra aberta às vozes incómodas dentro do partido. Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira e Paulo Rangel foram já os primeiros alvos da intimidação política. “Abaixo os intelectuais!” Mas – cabe perguntar –, “viva” quem?!

O partido fundado por homens como Sá Carneiro não se pode permitir brincar aos populismos, enveredar por um estilo intimidatório e cerceador da liberdade de opinião e, assim, pretender excluir alguns dos seus melhores elementos da sugestão das ideias estratégicas e de fundo político para o partido.

Bem se vê como são, afinal, estes elementos, política e intelectualmente mais bem preparados, os que seriam apoiados por muitas pessoas esclarecidas (as menos esclarecidas, facilmente se persuadiriam de tal!), que se refugiam no independentismo político saudável ou mesmo no militantismo de quotas em atraso, para ocuparem a liderança de um grande partido político de um país civilizado, que vive uma era politicamente exigentíssima e clama por uma alternativa governativa.

Quando o chefe de governo dá mostras de aprofundar um estilo arrogante, quase anti-democrático, ao instaurar um clima de suspeição face a possíveis cerceamentos de um dos pilares centrais dos regimes democráticos modernos, que é a liberdade, eis que o novo líder do partido-alternativa-de-governo parece enveredar pelo mesmo estilo omnipotente da política feita à vista e de tal modo exclusivista, que faz lembrar a terrífica expressão do revolucionário Saint-Just: “os que não são por nós, são contra nós!”

Parece viver-se, pois, em Portugal um tempo de desespero, mas também de algum esvaziamento ideológico-intelectual do conservadorismo (veja-se o que se passou recentemente com o P.P.) e do liberalismo (o que está a acontecer com o PSD) – na ausência de ideias, o populismo; com o populismo, vícios públicos; e, assim, afastamento de pessoas válidas da acção política, cujo contributo, a serem ouvidas e ponderadas as suas ideias críticas, muito a melhoraria.

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