A título de curiosidade (ou talvez não!) veja-se aqui um atlas da liberdade económica, produzido pelo Fraser Institute do Canadá (via Causa Liberal).
sábado, 31 de maio de 2008
Vitória da credibilidade
Os militantes do PSD escolheram hoje MFL para líder do partido, que figurará na história como a primeira mulher eleita para a liderança do partido. Jogaram pelo seguro. Talvez tenha sido mesmo a melhor escolha para a revitalização do partido, da política nacional e para o renovar da esperança num país melhor. Esperam-se agora algumas clarificações quanto àquele que me parece o aspecto mais importante da campanha de MFL – as preocupações sociais. É de fulcral importância o modo como arquitecturará a sua harmonização com o rigor económico e financeiro. Aguarda-se, pois, a preparação para as próximas eleições legislativas.
Do outro lado das trincheiras, as preocupações avolumam-se, pois os socialistas sabem a credibilidade nas ideias e na execução que MFL poderá capitalizar junto dos eleitores descontentes, que são muitos.
Do outro lado das trincheiras, as preocupações avolumam-se, pois os socialistas sabem a credibilidade nas ideias e na execução que MFL poderá capitalizar junto dos eleitores descontentes, que são muitos.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Escolha difícil entre dois bons candidatos
Do debate de ontem na SIC e SIC-Notícias entre os quatro candidatos à liderança do PSD (e a Primeiro-Ministro de Portugal!) ficou definitivamente claro que:
1. Há dois bons candidatos à liderança -- Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho. Patinha Antão é um bom elemento, representando (e bem) alguma força de alguma sociedade civil interessada em contribuir para a melhoria da governabilidade do país (não esteve bem ao lado de PSL no ataque emotivo a MFL); Pedro Santana Lopes está irremediavelmente fora de questão, dada a retórica artificialista e populista de poder (uma das razões de delapidação do partido) com que continua a apresentar-se aos eleitores e a consequente irremediável falta de confiança que inspira.
2. A escolha centra-se, em termos de fiscalidade, entre jogar pelo seguro e manter, por enquanto, os impostos (designadamente sobre os combustíveis) para não fazer diminuir as receitas do Estado e não criar instabilidade económica e desconfiança nos investidores (MFL) e arriscar diminuir o ISP para aliviar os encargos das famílias e das PMEs, mas sem garantias de que não seja mais um passo atrás na consolidação das contas públicas (PPC).
3. A escolha centra-se, em geral, no rigor, na experiência e sabedoria políticas, no despojamento ideológico e, sobretudo, na frontalidade da verdade e na recusa do populismo da promessa de MFL e na aposta de um candidato promissor, dada a sua juventude, para solidificar um novo rumo e uma nova forma de estar na política de PPC, que poderia ser um bom rival de Sócrates daqui a um ano.
De resto, grosso modo, as diferenças de substância não são muitas, com PPC afirmando, modernamente, o seu liberalismo (com preocupações sociais) de forma mais vincada que MFL, que prefere apostar no pragmatismo, em vez de enveredar por precisões ideológicas.
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Como candidato a PM que se apresentará ao eleitorado português e não apenas aos militantes do PSD, a questão é saber se, por um lado, não será demasiado tarde para MFL e se as suas políticas irremediavelmente parecidas (e não necessariamente erradas) com as melhores políticas liberais deste PS de Sócrates não a colarão demasiado ao status quo e, por outro lado, se não será demasiado cedo para PPC e se as suas políticas declaradamente mais liberais -- que podem até ser o futuro, mas que colhem os protugueses numa profunda crise de identidade política, social e económica (para vingar numa sociedade mais liberal é necessário ser-se bom profissional, realmente bem qualificado, empenhado e esforçado, coisa que muitos de nós, em geral, não somos!) -- serão bem compreendidas e melhor interpretadas pelos agentes políticos e económicos, mas, sobretudo, pelos agentes sociais.
Em suma: jogar pelo seguro ou arriscar?!
segunda-feira, 26 de maio de 2008
A apatia cancerígena de uma sociedade em crise
Na passada semana, o economista Luís Nazaré escrevia no Jornal de Negócios, a seguinte frase lapidar:
«Que bom seria se (…) trabalhássemos que nem chineses, tivéssemos taxas de aproveitamento escolar que nem indianos e inovássemos que nem finlandeses, sem gastarmos dinheiro em betão.»
É claro que é discutível se seria mesmo bom trabalhar que nem chineses (i.e., arduamente!). Seremos obrigados também – ainda que talvez apenas por mero exercício retórico – a questionar se taxas de aproveitamento escolar idênticas às dos indianos resolveria os nossos principais problemas económicos e sociais! Também podemos sempre questionar outro tanto (e pelas mesmas razões!) acerca da inovação à finlandesa! E como viver sem os empregos sazonais – mais do que precários: ilusórios – criados pelo betão, num país embriagado (qual terceiro mundo) pela opulência arrogante do cargo público, elegível através da fachada e não das ideias que resolvem problemas públicos de fundo?!
Mas o que é certo é que a sociedade portuguesa vai sobrevivendo (mal), sem sequer se questionar muito sobre os fundamentos filosóficos, políticos, económicos e sociais do, pelo menos aparente, modelo único da modernidade, que é o liberalismo, ainda que com preocupações sociais. A sociedade civil, em geral, vive alheada das grandes questões político-sociais de fundo, não desenvolvendo no seu seio, por um lado, reflexão suficiente acerca das possíveis alternativas, a existirem, ao modelo económico e social liberal, nem tão pouco (coisa igualmente exigente) adaptando-se a esse modelo, que se tem vindo a consolidar, apesar das críticas e tentativas de correcção, como o modelo característico da modernidade política, económica e social, hoje mais ou menos disseminado pelos cinco continentes. E do lado do timoneiro também não têm soprado bons e, muito menos, orientadores ventos: os sucessivos governos não têm conseguido resolver os problemas estruturais económicos e sociais, nem têm conseguido minimamente motivar uma absolutamente necessária mudança de mentalidades.
A apatia intelectual e, portanto, política, económica e social da sociedade portuguesa é um cancro mortífero, que nos tem vindo a tolher nas últimas décadas e a descolorir completa e paulatinamente a velha (demasiado velha?!) perseverança e entusiasmo portugueses. O grande problema da sociedade portuguesa (diferentemente das grandes economias em ascensão, como a Índia e a China, bem como de outros pequenos países semelhantes ao nosso, como, por exemplo, a Irlanda) é, pois, a falta de consciência de mundo e de iniciativa reflexiva, mas, sobretudo, a falta de empreendedorismo, de esforço e empenho responsáveis na acção… quer para superar o sistema (o que seria, hoje, tão improvável quão genial e salvífico!), quer tão-só para, simplesmente, nos adaptarmos a ele.
«Que bom seria se (…) trabalhássemos que nem chineses, tivéssemos taxas de aproveitamento escolar que nem indianos e inovássemos que nem finlandeses, sem gastarmos dinheiro em betão.»
É claro que é discutível se seria mesmo bom trabalhar que nem chineses (i.e., arduamente!). Seremos obrigados também – ainda que talvez apenas por mero exercício retórico – a questionar se taxas de aproveitamento escolar idênticas às dos indianos resolveria os nossos principais problemas económicos e sociais! Também podemos sempre questionar outro tanto (e pelas mesmas razões!) acerca da inovação à finlandesa! E como viver sem os empregos sazonais – mais do que precários: ilusórios – criados pelo betão, num país embriagado (qual terceiro mundo) pela opulência arrogante do cargo público, elegível através da fachada e não das ideias que resolvem problemas públicos de fundo?!
Mas o que é certo é que a sociedade portuguesa vai sobrevivendo (mal), sem sequer se questionar muito sobre os fundamentos filosóficos, políticos, económicos e sociais do, pelo menos aparente, modelo único da modernidade, que é o liberalismo, ainda que com preocupações sociais. A sociedade civil, em geral, vive alheada das grandes questões político-sociais de fundo, não desenvolvendo no seu seio, por um lado, reflexão suficiente acerca das possíveis alternativas, a existirem, ao modelo económico e social liberal, nem tão pouco (coisa igualmente exigente) adaptando-se a esse modelo, que se tem vindo a consolidar, apesar das críticas e tentativas de correcção, como o modelo característico da modernidade política, económica e social, hoje mais ou menos disseminado pelos cinco continentes. E do lado do timoneiro também não têm soprado bons e, muito menos, orientadores ventos: os sucessivos governos não têm conseguido resolver os problemas estruturais económicos e sociais, nem têm conseguido minimamente motivar uma absolutamente necessária mudança de mentalidades.
A apatia intelectual e, portanto, política, económica e social da sociedade portuguesa é um cancro mortífero, que nos tem vindo a tolher nas últimas décadas e a descolorir completa e paulatinamente a velha (demasiado velha?!) perseverança e entusiasmo portugueses. O grande problema da sociedade portuguesa (diferentemente das grandes economias em ascensão, como a Índia e a China, bem como de outros pequenos países semelhantes ao nosso, como, por exemplo, a Irlanda) é, pois, a falta de consciência de mundo e de iniciativa reflexiva, mas, sobretudo, a falta de empreendedorismo, de esforço e empenho responsáveis na acção… quer para superar o sistema (o que seria, hoje, tão improvável quão genial e salvífico!), quer tão-só para, simplesmente, nos adaptarmos a ele.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Petróleo $130
O facto das reservas de barris de petróleo extraído, por exemplo pela Arábia Saudita, se terem esgotado nos últimos anos, devido ao forte incremento da procura, explica naturalmente, à luz da lei da oferta e da procura, o aumento dos preços ditados pelo cartel dos produtores (OPEP) às grandes “Big Oil” mundiais (como já aqui referi). Os preços do barril de crude continuam, por esta via, a subir.
Contudo, esta explicação está longe de explicar o fenómeno altamente especulativo dos preços do “ouro negro” no mercado português. A cartelização das pequenas “Big Oil” nacionais, com a Galp à cabeça, da importação, refinação e distribuição dos combustíveis parece, isso sim, estar na origem de subidas de preços que vão muito além das leis do mercado e estão a prejudicar enormemente a economia nacional.
Mesmo para os mais liberais, parece óbvia a necessidade de intervenção da entidade reguladora para investigar a formação dos preços dos combustíveis em Portugal.
Contudo, esta explicação está longe de explicar o fenómeno altamente especulativo dos preços do “ouro negro” no mercado português. A cartelização das pequenas “Big Oil” nacionais, com a Galp à cabeça, da importação, refinação e distribuição dos combustíveis parece, isso sim, estar na origem de subidas de preços que vão muito além das leis do mercado e estão a prejudicar enormemente a economia nacional.
Mesmo para os mais liberais, parece óbvia a necessidade de intervenção da entidade reguladora para investigar a formação dos preços dos combustíveis em Portugal.
terça-feira, 20 de maio de 2008
Palma(s) para Manoel de Oliveira!
Quase tão velho quanto o próprio cinema, Manoel de Oliveira foi ontem galardoado, numa sessão muito especial, com a Palma de Ouro do Festival de Cannes, um dos mais conceituados festivais de cinema do mundo. Não se tratou apenas de um prémio de carreira; foi uma merecidíssima admiração por tamanho portento criador da sétima arte.
Longe da pressão das bilheteiras e dos críticos, sem se deixar enredar na teia da superficialidade populista do tempo, o cineasta português continua a fazer cinema com uma leveza quase pueril, mas com a profundidade apenas acessível aos mestres criadores. Motivo de orgulho deve ser um português com lugar de destaque para sempre na história do cinema.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Acordo ortográfico para quê?
(Bruegel)
Uma das questões que me parece mais controversa no novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é o facto deste acordo fazer tábua rasa da origem etimológica como explicação da ortografia das palavras alteradas. Como educador não posso deixar de lamentar a supressão de uma explicação racional (amiúde utilizada com elevada eficácia compreensiva) em favor de uma explicação convencionalista mais superficial, com base em razões políticas que escolhem a fonética estrita como fonte explicativa ilusória. A etimologia é uma rica arma de apredizagem da semântica e ortografia das línguas, muito útil quando se trata de mostrar aos aprendizes da língua por que razão, por exemplo, se escreve ação (e não acção). Pode até surgir a questão: por que não escrever com dois "s"?!
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Grande favor (ou nem por isso!) vai fazer o acordo para quem não estava de bem com a distintiva grafia de verbos como o "vir" e "ver" na terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, que antes se grafavam, respectivamente, "vêm" (verbo "vir") e "vêem" (verbo "ver"), quando agora o último passará a grafar-se simplesmente "veem", sem acento circunflexo!
Mas há outras razões para rejeitar este acordo, que são bem mais prosaicas. No passado dia 22 de Abril, Desidério Murcho sintetizou no jornal Público as suas principais críticas ao Acordo Ortográfico (veja-se aqui).
Em rigor, não só não faz sentido acordar sobre ortografia de uma língua, como as alterações realmente e não artificialmente introduzidas são muito mais bem feitas e eficazmente implementadas pela liberdade dos falantes das várias culturas linguísticas da pequena babel do português, que se espraia por esse mundo fora, do que por decreto governamental centralista, que tudo quer normalizar.
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Trata-se, pois, de um acordo político subserviente e sem grandes implicações práticas e não de um efectivamente necessário acordo ortográfico. E depois... as simplificações nem sempre simplificam, sobretudo quando impostas para, neste caso, servir supostos interesses não linguísticos (afirmação política no mundo?!) e deste modo completa e desnecessariamente artificial.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Leituras…
…de esperança, com Olivier Reboul, A Filosofia da Educação, trad. port. de António Rocha e Artur Morão (Lisboa: Edições 70, 2000). Olivier Reboul (1925-1992), um dos mais importantes filósofos da educação do séc. XX, apresenta-nos, numa pequena obra editada em 1971 na conhecida colecção das P.U.F. "Que sais je?", uma estimulante síntese introdutória à Filosofia da Educação, na qual percorre, num estilo mais questionador do que resolutivo, as principais questões e aporias da educação: desde a definição da própria educação e das antinomias da pedagogia (constrangimento e desejo, transmissão e espontaneidade, incerteza e tecnicidade, ruptura e continuidade), passando pelas questões centrais da autoridade e do rigor e desembocando no húmus problemático essencial da filosofia da educação, que é a questão da relação entre educação e valores, analisando as tentações do positivismo, do relativismo e da indiferença e interpelando-se/nos sobre o que vale a pena ensinar.
A resposta de Reboul, para suscitar o interesse:
«Podemos então propor esta dupla resposta: vale a pena ensinar o que une e o que liberta.
O que une: sim, o que vale a pena ensinar é o que integra cada indivíduo, de um modo duradouro, numa comunidade tão vasta quanto possível. E é por isso que se ensina uma língua em vez de um dialecto, as ciências em vez do ocultismo, o autor seleccionado pela história em lugar de um romance que está na moda.
(…)
O que liberta, tal é o segundo critério. Ao fim e ao cabo o que há de comum entre as diversas disciplinas, entre a educação física, técnica, artística, intelectual e até entre os diversos ramos desta, o científico e literário? Justamente isso. A ginástica, a dança, o desporto libertam-nos das nossas durezas, faltas de jeito, crispações, desperdícios de energia. O ensino artístico: tem por objectivo formar imitadores ou criadores? Na nossa opinião, a oposição é fictícia, e o verdadeiro objectivo do ensino artístico é permitir a cada um fazer o que quer, pintar o que quer pintar e como quer pintar. O ensino intelectual, ao libertar dos chavões e dos preconceitos, permite expressar-se e pensar por si mesmo. Quanto à educação moral, ela não consiste em tornar as pessoas “conformes”, mas em libertá-las daquilo que as domina e as cega.» (pp.81-82)
A Filosofia da Educação é uma das áreas da reflexão filosófica que detém uma particular importância para educadores e professores, sobremaneira num tempo de crises e reformas educacionais em Portugal. (Como seria bom se estivesse integrada no curriculum de formação de professores!) A esperança renascerá para quantos tiverem acesso a este pequeno opúsculo de estilo problematológico e inquietante, mas profundamente esclarecedor da teia que entretece uma das mais nobres quão exigentes e complexas actividades humanas, que é a alimentação inacabada da liberdade com outros!
A resposta de Reboul, para suscitar o interesse:
«Podemos então propor esta dupla resposta: vale a pena ensinar o que une e o que liberta.
O que une: sim, o que vale a pena ensinar é o que integra cada indivíduo, de um modo duradouro, numa comunidade tão vasta quanto possível. E é por isso que se ensina uma língua em vez de um dialecto, as ciências em vez do ocultismo, o autor seleccionado pela história em lugar de um romance que está na moda.
(…)
O que liberta, tal é o segundo critério. Ao fim e ao cabo o que há de comum entre as diversas disciplinas, entre a educação física, técnica, artística, intelectual e até entre os diversos ramos desta, o científico e literário? Justamente isso. A ginástica, a dança, o desporto libertam-nos das nossas durezas, faltas de jeito, crispações, desperdícios de energia. O ensino artístico: tem por objectivo formar imitadores ou criadores? Na nossa opinião, a oposição é fictícia, e o verdadeiro objectivo do ensino artístico é permitir a cada um fazer o que quer, pintar o que quer pintar e como quer pintar. O ensino intelectual, ao libertar dos chavões e dos preconceitos, permite expressar-se e pensar por si mesmo. Quanto à educação moral, ela não consiste em tornar as pessoas “conformes”, mas em libertá-las daquilo que as domina e as cega.» (pp.81-82)
A Filosofia da Educação é uma das áreas da reflexão filosófica que detém uma particular importância para educadores e professores, sobremaneira num tempo de crises e reformas educacionais em Portugal. (Como seria bom se estivesse integrada no curriculum de formação de professores!) A esperança renascerá para quantos tiverem acesso a este pequeno opúsculo de estilo problematológico e inquietante, mas profundamente esclarecedor da teia que entretece uma das mais nobres quão exigentes e complexas actividades humanas, que é a alimentação inacabada da liberdade com outros!
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Como o fantástico pode ser deprimente!
É absolutamente fantástico como o PM José Sócrates, o ME Manuel Pinho e outros membros da comunitiva que acompanhou o PM à Venezuela violaram a lei do tabaco a bordo de um avião da TAP. Mas, de facto, esta situação (que se transformou já em mais uma historieta política com uma beleza portuguesa muito própria), completamente surrealista (pelo menos segundo critérios objectivos de avaliação da actuação política de qualquer político numa democracia esclarecida e madura), é, infelizmente, deprimente.
Quando a falta de confiança dos portugueses para com os políticos e o consequente afastamento da política continua a aumentar é necessário não escamotear responsabilidades: são, sem dúvida, este tipo de actuações eticamente deploráveis e vergonhosas, protagonizadas pelos mais importantes titulares de cargos públicos (do poder central ao local), as principais e maiores causas para essa quebra de confiança, destruidora do mais elementar vínculo de sentido entre governados e governantes. E são deploráveis e vergonhosos estes comportamentos pelo simples facto de um PM de um país que atravessa uma importante fase de derradeira implementação de rigor ético na atitude perante o trabalho, a lei, as responsabilidades, os outros, não ter sido capaz de evitar tão grosseira violação da lei.
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Ao invés, pois, de uma atitude nobre de serviço, muitos políticos (cada vez mais?!) escancaram no rosto dos seus representados, eleitores soberanos (pelo menos de 4 em 4 anos!), uma atitude de prepotência e completa falta de caracter indispensável para exercer cargos públicos. A acção política séria é uma coisa séria e, portanto, não se compadece com estes "deslizes"!
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Agora, José Sócrates, para emendar a mão, pede desculpa, e, para manter a pose, lá terá que deixar de fumar! Mas este pedido de desculpa (com um tocante apelo à santa ignorância!) e este golpe de mestre retor não colhem mais. Já poucos são aqueles que têm condições para aceitar estes cínicos pedidos de desculpa e estes encenados pseudo-sacrifícios pessoais!
terça-feira, 13 de maio de 2008
Requiem por Rauschenberg
"Bicycle - National Gallery"
Morreu Robert Rauschenberg (22 Outubro 1925 - 12 Maio 2008), um dos artistas plásticos, fotógrafos e performers mais estimulantes e criativos da pop art e da arte contemporânea em geral, cuja vida criativa foi um desafio constante dos limites da imaginação e da criatividade, consubstanciado numa sempre provocatória obra de arte em busca do infinito, ainda que a partir dos mais elementares materiais.
"8th-Van-Cliburn-International-Piano-Comeptition-1989"
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Acontecimento editorial
A revista norte-americana Foreign Policy começou a ser editada em português. Trata-se de uma revista bi-mensal de Relações Internacionais, que tem a colaboração de filósofos, economistas, cientistas políticos e outros especialistas académicos de gabarito. É daquelas revistas que se lêem com grande interesse do primeiro ao último artigo. Um excelente acontecimento editorial e um excelente instrumento de formação e informação política de qualidade indispensável para compreender o nosso mundo.
O seu terceiro número em português traz, como tema de capa, um artigo sobre o Islão, da autoria do especialista em Médio Oriente Graham E. Fuller, que foi vice-presidente do National Intelligence Council na CIA e é actualmente professor-adjunto de História na Simon Fraser University de Vancouver. Fuller defende a inteligente, informada e despreconceituosa tese de que o mundo não só não seria melhor sem o Islão (outras estruturas ideológico-religiosas fariam o contraponto conflituoso com o Ocidente), como se trata de uma religião, cuja força unificadora, talvez possa permitir um patamar mais seguro para um melhor entendimento no futuro com o Ocidente. Obrigatório.
O seu terceiro número em português traz, como tema de capa, um artigo sobre o Islão, da autoria do especialista em Médio Oriente Graham E. Fuller, que foi vice-presidente do National Intelligence Council na CIA e é actualmente professor-adjunto de História na Simon Fraser University de Vancouver. Fuller defende a inteligente, informada e despreconceituosa tese de que o mundo não só não seria melhor sem o Islão (outras estruturas ideológico-religiosas fariam o contraponto conflituoso com o Ocidente), como se trata de uma religião, cuja força unificadora, talvez possa permitir um patamar mais seguro para um melhor entendimento no futuro com o Ocidente. Obrigatório.
Petróleo $125
O preço do barril de crude voltou a bater recordes nos últimos dias. O preço aumenta, aumenta a preocupação dos consumidores e, com isso, as dificuldades em compreender o que se está a passar.
Uma das teses explicativas mais divulgada é a de que o preço tenderá a aumentar porque o petróleo está a acabar. Nada de mais errado, segundo alguns analistas: há hoje mais reservas comprovadas de petróleo do que há três décadas, dois terços do petróleo que se sabe existir está ainda por explorar e as tecnologias de extracção e refinação estão a ser apuradas, atirando, assim, para mais longe o fim.
Mas a que se deve esta subida de preços? Uma explicação adianta que se trata do efeito natural da lei da oferta e da procura, visível também noutros mercados: a procura aumentou bastante (em países em desenvolvimento, com a China à cabeça) e as reservas de petróleo extraído, por exemplo da Arábia Saudita, estão a esgotar-se. O cartel do “ouro negro” mantido pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), tinha, até há pouco tempo, conseguido extrair mais petróleo do que aquele que enviava para o mercado, mantendo assim os preços baixos (designadamente, a Arábia Saudita, o maior produtor mundial). Agora, devido à súbita elevada procura, já não o conseguem fazer, o que provocou alguma escassez de petróleo extraído e o consequente aumento dos preços.
Outra ideia que parece, pois, errada é a de que são as grandes multinacionais petrolíferas compradoras, refinadoras e extractoras a ganhar rios de dinheiro com a especulação dos preços. Mas, afinal, estas limitam-se a aceitar os preços que lhes são impostos pelos maiores detentores da extracção e reservas de petróleo – a OPEP.
A solução política que se tem vindo a sustentar – quer para o problema económico, quer de dependência face ao petróleo, quer para o problema ecológico – é bem sintetizado pelo correspondente da revista The Economist Vijay V. Vaitheeswaran num artigo esclarecedor da Foreign Policy de Jan./Fev. 2008:
«O papel muito importante dos governos, as mais das vezes negligenciado, é o nivelamento no campo das políticas. Os governos têm o poder de regular as forças que podem influenciar os mercados de energia mas não se reflectem nos preços dos mercados. Impondo limites às emissões de gases, instituindo novas taxas, ou terminando com os subsídios às indústrias alimentadas a combustíveis fósseis podem impelir os inovadores em energias limpas a saírem da sombra e vir à luz do dia. Criar um ambiente em que novas tecnologias possam prosperar e permitir que os mercados façam o que melhor sabem – compensar a inovação e a eficiência – devia ser o objectivo dos governos. Felizmente existem cada vez mais evidências de uma procura, por parte dos cidadãos e de empreendedores, para uma tal revolução de políticas centradas no mercado. É essa a revolução que nos levará, finalmente, à vida para além do petróleo.»
Uma das teses explicativas mais divulgada é a de que o preço tenderá a aumentar porque o petróleo está a acabar. Nada de mais errado, segundo alguns analistas: há hoje mais reservas comprovadas de petróleo do que há três décadas, dois terços do petróleo que se sabe existir está ainda por explorar e as tecnologias de extracção e refinação estão a ser apuradas, atirando, assim, para mais longe o fim.
Mas a que se deve esta subida de preços? Uma explicação adianta que se trata do efeito natural da lei da oferta e da procura, visível também noutros mercados: a procura aumentou bastante (em países em desenvolvimento, com a China à cabeça) e as reservas de petróleo extraído, por exemplo da Arábia Saudita, estão a esgotar-se. O cartel do “ouro negro” mantido pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), tinha, até há pouco tempo, conseguido extrair mais petróleo do que aquele que enviava para o mercado, mantendo assim os preços baixos (designadamente, a Arábia Saudita, o maior produtor mundial). Agora, devido à súbita elevada procura, já não o conseguem fazer, o que provocou alguma escassez de petróleo extraído e o consequente aumento dos preços.
Outra ideia que parece, pois, errada é a de que são as grandes multinacionais petrolíferas compradoras, refinadoras e extractoras a ganhar rios de dinheiro com a especulação dos preços. Mas, afinal, estas limitam-se a aceitar os preços que lhes são impostos pelos maiores detentores da extracção e reservas de petróleo – a OPEP.
A solução política que se tem vindo a sustentar – quer para o problema económico, quer de dependência face ao petróleo, quer para o problema ecológico – é bem sintetizado pelo correspondente da revista The Economist Vijay V. Vaitheeswaran num artigo esclarecedor da Foreign Policy de Jan./Fev. 2008:
«O papel muito importante dos governos, as mais das vezes negligenciado, é o nivelamento no campo das políticas. Os governos têm o poder de regular as forças que podem influenciar os mercados de energia mas não se reflectem nos preços dos mercados. Impondo limites às emissões de gases, instituindo novas taxas, ou terminando com os subsídios às indústrias alimentadas a combustíveis fósseis podem impelir os inovadores em energias limpas a saírem da sombra e vir à luz do dia. Criar um ambiente em que novas tecnologias possam prosperar e permitir que os mercados façam o que melhor sabem – compensar a inovação e a eficiência – devia ser o objectivo dos governos. Felizmente existem cada vez mais evidências de uma procura, por parte dos cidadãos e de empreendedores, para uma tal revolução de políticas centradas no mercado. É essa a revolução que nos levará, finalmente, à vida para além do petróleo.»
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(Para análise crítica desta perspectiva veja-se aqui.)
sexta-feira, 9 de maio de 2008
No dia da Europa...(2)
No dia da Europa era interessante pensar como seria de todo desejável que se produzisse uma reflexão mais profunda sobre o Tratado Constitucional Europeu e a construção europeia. Se a ratificação do Tratado de Lisboa através do instituto do referendo (forma ainda sobrevivente de democracia directa!) pudesse ter sido um verdadeiro risco político, que talvez Portugal não devesse correr neste momento (dada a ainda alguma falta de formação política generalizada), teria constituído, no entanto, a circunstância ideal para que esse debate tivesse efectivamente acontecido no nosso país.
De qualquer modo, celebrar o dia da Europa em Portugal deveria fazer recordar essa necessidade -- a necesidade de uma verdadeira, aprofundada e rigorosa reflexão/(in)formação sobre a construção europeia, para que as pessoas se começassem a habituar a outras ideias de futuro, como a hipótese do federalismo e a tese do governo mundial.
No dia da Europa...(1)
No dia da Europa talvez fosse bom reflectir sobre o quão longe ainda estamos de um modelo de desenvolvimento europeu ao nível das mentalidades, da formação de efectiva qualidade, do desenvolvimento económico sustentado e mesmo ao nível da própria organização e funcionamento do Estado, bem como a forma de estar na cidade.
O modo como se continua a encarar o desempenho de cargos públicos, a cavar o fosse entre governantes e governados e a erudir a nobreza do exercício da política; o modo como a sociedade civil continua a titubear, a hesitar na hora de participar na vida pública e jogar os seus "trunfos", que são os direitos; o modo como continuamos, em geral, a encarar o esforço, o trabalho e o elevado desempenho, em vários sectores da actividade produtiva e, designadamente, no sector público... são características que nos continuam a empurrar para a cauda da Europa, cauda esta que há muito teima em pousar sobre o deserto do Saara e ligar-nos ao terceiro mundo do subdesenvolvimento.
E as fantasias político-propagandistas não resolvem, claro, o essencial: a falta de exigência na formação inicial escolar, na formação contínua a vários níveis, na formação técnico-profissional e a falta de um verdadeiro e sincero incentivo para a real qualificação das pessoas, para o empreendedorismo e a vida participada de valores éticos e políticos capazes de, senão já recuperar a autenticidade existencial, pelo menos obviar ao pauperismo económico, cultural e social em cuja crise nos afundamos enquanto sociedade.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Tuberculose, comunicação social e política
Mirandela, Trás-os-Montes, Portugal... União Europeia. Ano de 2008. Perante alguns casos de tuberculose pulmonar (contagiosa) em escolas do concelho, a Delegação Regional de Saúde procede, num jardim-de-infância, em Novembro de 2007, a rastreio em adultos e crianças. Foi, entretanto, detectado um caso num adulto daquele jardim-de-infância.
Como evitar tudo isto? Era só e apenas ter informado, esclarecido e aconselhado os pais daquelas crianças... ATEMPADAMENTE!!!
O Agrupamento de Escolas não comunicou absolutamente nada aos pais, alegando o Conselho Executivo não ter tido conhecimento do que se estaria a passar (apenas mais tarde ficou a saber) e as próprias educadoras julgaram, inicialmente, tratar-se de mais uma acção clínico-pedagógica, como outras, ao abrigo de protocolos com o Centro de Saúde da cidade. O Agrupamento não terá tido, alegadamente, conhecimento que havia casos de tuberculose em algumas das suas escolas (para além daquele jardim-de-infância), nem que equipas médicas iriam proceder a testes de tuberculina em jardins-de-infância e escolas do primeiro ciclo, porque… o comunicado da Delegação de Saúde foi enviado para a Câmara Municipal e, nesta, pressupôs-se (e parece-me que bem!) que também teria sido dado conhecimento ao Conselho Executivo do Agrupamento! Alegadamente, não foi!!
Entretanto, quando o Conselho Executivo do Agrupamento veio a saber que havia casos de tuberculose em algumas das suas escolas, incluindo num dos seus jardins-de-infância, sugeriu à Delegação de Saúde local que se promovesse uma sessão de esclarecimento aos pais e encarregados de educação das crianças (alguns – os que sabiam – já preocupados), ao que lhes terá sido respondido “que boa ideia, ainda não nos tinha ocorrido”, mas terão alegado qualquer coisa genérica como ainda não terem condições para realizar tal sessão!
Sabe-se lá porquê(!), os órgãos de comunicação social, coisa estranha e inédita(!), vieram a obter a informação dos casos de tuberculose, já no adiantado mês de Abril de 2008, designadamente num jardim-de-infância da cidade. Alguns pais ficaram, então, a saber que os seus filhos estavam a frequentar uma escola em que uma funcionária se encontrava de baixa médica, desde Janeiro, por lhe ter sido diagnosticada tuberculose pulmonar e que tinham sido alvo de testes de tuberculina… através das notícias dos órgãos de comunicação social, designadamente através de reportagens televisivas e isto, portanto, em Abril de 2008!
Apenas sob pressão efectiva de alguns pais e, (infelizmente) principalmente, sob a pressão da tão incómoda comunicação social acabou por se realizar, em 7 de Maio (ontem!), uma sessão de esclarecimento sobre tuberculose, em que estiveram presentes o Delegado de Saúde de Mirandela o Adjunto do Delegado Regional de Saúde e mais dois médicos.
Esta sessão de esclarecimento permitiu esclarecer:
1. que talvez tenham sido tomadas todas as medidas clinicamente previstas para tratar, prevenir e despistar casos de tuberculose pulmonar e que talvez seja mesmo seguro manter as crianças naquele ambiente, que até talvez seja mesmo privilegiado, uma vez que está a ser monitorizado;
2. que foi, contudo, sonegada informação fundamental aos pais – primeiros e maiores responsáveis pela educação, segurança e saúde dos seus filhos menores –, durante 5 meses, tornando assim impossível uma legítima e importante tomada de decisão de forma livre e, portanto, responsável, independentemente de qual fosse.
3. que as instituições responsáveis pela administração da política de saúde, pelo menos local e na região Norte (será só aqui?!), não estão minimamente preparadas, do ponto de vista organizacional, para produzir decisões politicamente modernas, que privilegiam efectivamente os valores ético-políticos mais fundamentais das sociedades democráticas-liberais, que é o que a nossa quer ser(?!), como seja o da igualdade de acesso a informação relevante acerca de menores ao cuidado dessas mesmas instituições;
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4. que as pessoas que ocupam lugares públicos, portanto com uma inegável dimensão política – como sejam as de delegados de saúde – demonstraram não ter sensibilidade e preparação política para tomar decisões verdadeiramente competentes (do ponto de vista político) acerca de um caso de saúde pública numa escola, designadamente num jardim-de-infância, que passaria por uma informação de qualidade técnica e atempada;
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5. que se continua a fazer política (porque os delegados de saúde, desde o regional ao local, são cargos políticos!) como se fazia há 40 anos atrás, tratando-se os cidadãos como se de atrasados mentais se tratasse, abusando de um paternalismo perfeitamente pacóvio e provinciano, como se as instituições estatais tivessem que tomar todas as decisões pelos cidadãos livres (característica, isso sim, de países do chamado terceiro mundo, sob sistemas políticos totalitários!).
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6. que continua a fazer-se em Portugal uma política de pura e simples propaganda de um governo que não pode ter mácula (como isso fosse, sequer em tese, possível!), que teima em governar impondo e ocultando, na fria distância da sua maioria absoluta, confundindo maioria absoluta com poder absoluto;
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7. e que (coisa perfeitamente inacreditável!) as pessoas que ocupam cargos públicos continuam, inexplicavelmente, a não saber lidar com a comunicação social, quando, neste infeliz caso teria sido muito mais dignificante para governadores e governados, se se tivesse evitado o pânico e a telenovela sempre produzida pelos órgãos de comunicação social usando e abusando da vida privada das pessoas, antecipando a sua entrada em cena, retirando-lhe completamente a oportunidade de criar mais uma sensacionalista "notícia";
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8. Que, desgraçadamente para quem ocupa cargos públicos, mais uma vez é no palco e sob a batuta da comunicação social que se cava o fosso entre a política e os cidadãos;
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9. Que a confiança que os cidadãos têm nas instituições estatais continua a decrescer graças à inacreditável falta de competência, sensibilidade e formação política de pessoas que ocupam cargos públicos demasiado importantes na vida das pessoas;
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10. E que, consequentemente, há quem continue a contribuir para o atoleiro das mentalidades e do modus operandi da sociedade portuguesa em direcção a um terceiro-mundismo altamente preocupante.
Como evitar tudo isto? Era só e apenas ter informado, esclarecido e aconselhado os pais daquelas crianças... ATEMPADAMENTE!!!
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