Os professores e educadores portugueses têm-se manifestado, em geral, antes de mais (outras razões ficam para depois), contra o processo de esvaziamento da educação em Portugal. Sobretudo nos últimos três anos, tem-se assistido a uma verdadeira “intoxicação” legislativa, no sentido de aumentar, de forma completamente artificiosa, o sucesso dos alunos, diminuindo algumas das suas mais elementares responsabilidades e pondo em causa as suas efectivas aprendizagens. A simples ideia de fazer reformas, tem obscurecido a mais importante ideia de que as reformas existem e são bem-vindas desde que para resolver problemas. Se não for para melhorar (ou se piorar a situação), vale mais não mexer!
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O ensino básico está cravejado de legislação e as escolas têm vivido pressões inspectivas, no sentido, não propriamente de melhorar as condições de ensino e aprendizagem das escolas e dos alunos, mas sim no sentido de fazer diminuir, artificiosamente, o número de alunos que reprovam. O ensino secundário está a ser também alvo desta pressão, agora de forma mais clara por via, por exemplo, das alterações ao Estatuto do Aluno, cujo regime de faltas constitui uma pressão, ainda que velada, naquele sentido (para excluir um aluno por excesso de faltas injustificadas é preciso submetê-lo a, pelo menos, duas provas de avaliação e, depois, mesmo não havendo aproveitamento, ponderar muito bem tal medida sancionatória!).
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O ensino básico está cravejado de legislação e as escolas têm vivido pressões inspectivas, no sentido, não propriamente de melhorar as condições de ensino e aprendizagem das escolas e dos alunos, mas sim no sentido de fazer diminuir, artificiosamente, o número de alunos que reprovam. O ensino secundário está a ser também alvo desta pressão, agora de forma mais clara por via, por exemplo, das alterações ao Estatuto do Aluno, cujo regime de faltas constitui uma pressão, ainda que velada, naquele sentido (para excluir um aluno por excesso de faltas injustificadas é preciso submetê-lo a, pelo menos, duas provas de avaliação e, depois, mesmo não havendo aproveitamento, ponderar muito bem tal medida sancionatória!).
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Mas uma coisa é passar de ano, outra, bem diferente, é ir aprendendo o suficiente para estar em condições de aprender coisas ainda mais complexas, aprofundadas e que, efectivamente, formam e qualificam pessoas e as tornam aptas a inserirem-se cabalmente no cada vez mais exigente mercado de trabalho. Os professores do ensino superior são os primeiros a constatar que muitos alunos que chegam às universidades (e são os melhores!) vêm evidenciando possuir cada vez menos conhecimentos e competências, absolutamente imprescindíveis para que se possa empreender um verdadeiro aprofundamento e especialização de nível superior.
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Não é difícil compreender que, se queremos que alguém aprenda a fazer alheiras, tem que se ensinar a fazê-las e, depois, para a aprendizagem ser mais eficaz, tem que se verificar se as pessoas aprenderam. Ora, para ver se aprenderam a fazer alheiras, não se pode pedir aos aprendizes simplesmente que coloquem alguns ingredientes, não importa quais, dentro de uma tripa! É preciso pedir que se faça efectivamente uma alheira, com os ingredientes adequados, e, depois, avaliar criteriosa e justamente se tal foi feito e como foi feito. Se for apresentada uma alheira, bem confeccionada – muito bem. Senão – há que apontar as falhas e indicar modos de as evitar. É este um ensino de verdade e não de ilusão e – embora muitos gostem de pensar o contrário – acessível, à partida, a todos! (Claro que, no final do processo, haverá, naturalmente, resultados diferentes.)
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O que tem acontecido nos últimos anos é que o peso da avaliação e dos exames tem decaído a olhos vistos. Todos nos recordamos do caso paradigmático da Matemática, notavelmente no último ano lectivo. Não é bom para os alunos nem para as escolas, que o Ministério da Educação, que “manda” os professores ensinar, através de um “programa disciplinar” (que tem força de lei), determinados conhecimentos e competências, venha depois elaborar um exame, para ver se esses conhecimentos e competências foram aprendidos, mas que, no entanto, muito pouco tem que ver com esse programa (por ser muito mais fácil!).
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Quando se quer melhores notas, ou se ensina menos e coisas mais simples ou fazem-se simplesmente exames mais fáceis. Quando se quer, por outro lado, que os alunos aprendam, faz-se tudo para que efectivamente aprendam o que podem e necessitam. Para além de programas de aprendizagem bem elaborados, de um ensino motivador, de estratégias de ensino e aprendizagem adequadas aos alunos e às matérias, do incremento do esforço…, sabe-se há muito que a avaliação é um dos factores que conduzem mais eficazmente à aprendizagem. Se os alunos souberem – e a isso se habituarem, desde cedo – que vão ser alvo de um teste de conhecimentos e competências, no final de um determinado percurso de aprendizagens, isso funcionará como um (coadjuvado por outros) importante estímulo para realmente aprenderem. Se, caso contrário, os alunos começarem a verificar que a avaliação deixa de ter efeitos correctivos das aprendizagens, que os exames nacionais afinal não são assim tão exigentes, obviamente que começarão a descurar as suas actividades de verdadeira aprendizagem e facilmente desinvestirão nelas – aprendendo, portanto, menos.
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O esforço e a vontade de aprender, o rigor em ensinar e avaliar estão em “perda”! Os exames têm vindo a desaparecer, paulatinamente, do percurso escolar ou têm vindo a ser relativizados ou “suavizados” e não têm sido substituídos por qualquer outro sistema de avaliação eficaz. Ora, não se conhece nenhum sistema de ensino onde a ausência de avaliação séria e rigorosa no final de determinado percurso de aprendizagens beneficie a qualidade da efectiva aprendizagem dos alunos. Mas conhecem-se vários sistemas de ensino em que os alunos são os melhores, a nível mundial, nas áreas curriculares mais importantes (como Matemática, Ciências e Língua Materna), e que em todo o seu percurso escolar foram submetidos a rigorosas provas de avaliação de conhecimentos e competências.
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O que está a acontecer, neste aspecto, é que se tem pressionado as escolas e os professores para, ao invés de ensinar, irem simplesmente orientando os alunos a “fazer alheiras… sem carne”! Os mais prejudicados estão a ser, já se vê, precisamente aqueles que não podem aprender verdadeiramente a “fazer alheiras” senão na escola (pública) e, em troca, vão protelando a ilusão de que sabem!Os professores têm-se, pois, manifestado, também porque (e esta é uma das mais importantes razões) querem condições pedagógicas (para além de materiais, nas escolas) para que os seus alunos aprendam tanto ou mais que os espanhóis, ingleses, indianos ou paquistaneses (para enumerar apenas alguns daqueles que são, hoje, melhores que nós!).
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(In: Terra Quente 01-12-2008.)
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