domingo, 15 de fevereiro de 2009

.
.
Dar a pensar
.
.
«A informação pode ser um mundo terrível. (…) Estamos hoje sobrecarregados de informações, que são uma verdadeira miscelânea de tudo e de nada, irrompendo sem descontinuidade. (…) Mas, dessas informações, há 999 em cada 1000 que não me interessam para nada (…) Essas informações povoam a minha imaginação e o meu inconsciente, constituem um panorama mental no qual sou obrigado a situar-me. (…) Mas nunca ninguém coloca a questão de saber se essa informação serve para alguma coisa, se ela tem um sentido, se vale a pena ser divulgada (…).
(…)
Pretendemos viver numa sociedade aberta à concepção, mas na realidade penso que a melhor (mais uma!) qualificação da nossa sociedade é apreendê-la como uma sociedade da contracepção. Sendo a informação o vector mais importante da contracepção.»
.
Jaques Ellul, Le Bluff Technologique (Paris: Hachette, 1988) 387, 389, 392.
VS.
.
«Na hora em que (…) as tecnologias se tornam infinitamente flexíveis e maleáveis para os usos que lhes são atribuídos e em que a informação, toda a informação, tende a tornar-se universalmente acessível, os saberes contam menos do que aquilo a que uma determinada tradição humanista proponha chamar o exercício crítico do pensamento, único recurso quando primam a inovação e a iniciativa, num ambiente caracterizado por um alto grau de incerteza. O sonho tecnológico moderno impor-nos-ia não um regresso ao humanismo de outrora, às belas-letras e aos pseudo-saberes das “humanidades”, mas sim a redescoberta do seu sentido mais autêntico num contexto radicalmente novo? (…) Nunca o problema terá sido mais agudo, porque nunca terá sido mais acentuado o afastamento entre os meios informacionais de que dispomos, que comportam o risco de uma interferência universal, e a necessidade diante da qual somos postos de ter sempre de escolher, de julgar, de avaliar, de decidir»
.
Thierry Breton, La Dimension Invisible – Le défi du temps et de I’information (Paris: Odile Jacob, 1994) 150.

2 comentários:

Marise von disse...

Parabéns pelos seus blogs, adorei o texto, dá o que pensar.
O que fazer com tanta informação?
Nosso alunos vivem num caos de informação, não sabendo distinguir o
verdadeiro do falso.
Abraço filosófico,
Marise

Miguel Portugal disse...

Agradeço o seu comentário, Marise. de facto, a superabundância de informação e outras sobrecargars tecnológicas, desviam o jovem da cultura humanista clássica, que passa por uma aprendizagem da filosofia e do filosofar. É preciso fazer qualquer coisa com tanta informação. Tenho para mim que a filosofia e a cultura humanista não poderão escapar desta invasão cibercultural. Até admito que talvez possa não ser uma coisa em si mesma muito má. Mas o mal que provoca aos mais desprevenidos deve preocupar-nos enquanto educadores e professores, cuja missão,sobretudo dos professores de filosofia, deverá ser dupla: mostrar a sobre-exposição à informação e às tecnologias da comunicação e, por outro lado, ensinar a lidar com essa informção de modo humanamente útil. O que não é fácil.