O Ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, afirma que a avaliação dos professores não é para suspender. O governo, coisa curiosa, está disposto apenas a aperfeiçoar o modelo existente (se são detentores da verdade, não se compreende como se pode aperfeiçoar coisa por eles feita!). Mais simplex, portanto. Até porque, alega Lacão, a suspensão criaria um problema jurídico-constitucional.
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Ponto um: a lucidez política é condição sine qua non para governar qualquer país civilizado, habitado por cidadãos minimamente esclarecidos; contando que este pequeno governo socialista ainda detenha tal virtude, espera-se que compreendam que muito do atoleiro legislativo, que supostamente orienta pedagogicamente as escolas, terá, irremediavelmente e mais cedo ou mais tarde, de ser abolido, sob pena de a escola nunca mais voltar a ser um local onde se ensina e se aprende; a dita avaliação de professores é um dos primeiros castelos de areia a ter de ser substituído; só suspendendo legalmente este sistema de avaliação se poderá, efectivamente, ab ovo, edificar um verdadeiro sistema de avaliação de professores, mais justo, mais rigoroso, menos burocrático, menos exaustivo, com verdadeiras preocupações avaliativas e aperfeiçoadoras do sistema e não meramente economicistas.
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Ponto dois: o sr. dr. Jorge Lacão, ao "atirar" com o imbróglio jurídico-constitucional, deveria ter pensado, a priori, no pântano político que se vive nas escolas, depois dos tentáculos do eduquês e do romantismo construtivista ingénuo terem invadido completamente as escolas de há quatro anos para cá; a haver problema jurídico decorrente de alguns professores terem sido avaliados e outros não (no fundo, só foram, ainda assim, aqueles que requereram aulas assistidas! A outra avaliação foi muito diferente da ordenada por Alberto João Jardim na Madeira?), a responsabilidade é do PS de José Sócrates, que promoveu, rejubilante, o depauperamento pedagógico das escolas, limitando-se a redefinir a carreira dos docentes e a sobrecarregá-los irresponsavelmente com um pesado e incompetente modelo de avaliação apenas com o intuito de cortar na despesa; no entanto, atirar com este problema jurídico é apenas uma falácia ad terrorem, trata-se de assustar as pessoas quando se não tem boas razões para impedir a suspensão do modelo de avaliação e se pretende continuar a minar esse pilar fundamental de qualquer sociedade, como é a escola.
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Ponto três: continua o "piscar de olhos" ao PP de Paulo Portas, cuja proposta de aproximar o modelo de avaliação das escolas públicas ao das escolas privadas não é de excluir; mas, do ponto de vista político, é preciso não esquecer que tal modelo proposto pelo PP não tem qualquer equivalência, na filosofia que o funda, com o modelo do PS; mesmo para propor o modelo das escolas privadas, haveria sempre que suspender o actual modelo do PS.
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Em suma: manda a mais elementar lucidez política perceber que as escolas jamais funcionarão sem que os professores se sintam minimamente consonantes com um modelo que realmente avalie o seu importantíssimo trabalho e, para isso, é necessário começar por suspender o actual modelo; para resolver o problema político de total ausência de reconhecimento político dos professores e das escolas nestas políticas socialistas, muito mais importante que o suposto problema jurídico-constitucional decorrente da suspensão, que neste momento é um argumento completamente falacioso, há que suspender o actual modelo de avaliação; e, mesmo que o PS esteja interessado, como é sua obrigação, numa resolução negociada do problema, tal passará sempre pelo primeiro passo consistir na suspensão incondicional do actual modelo.
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