sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Homossexualidade. 3. É uma escolha?

Pensar na ética da homossexualidade é procurar boas razões para considerar errada a orientação sexual em questão e, assim, tratar tais pessoas de forma desigual; ou então descobrir que não há tais razões e, portanto, não devemos discriminar os homossexuais. Mas há ideias que parecem boas razões, aceites por muitos, embora não passem de preconceitos ou, de qualquer modo, de ideias objectivamente erradas. E se assim for, não podem servir como boas razões para justificar a ideia de que a homossexualidade é uma prática eticamente incorrecta.

Uma dessas ideias é a de que os homossexuais decidem, livremente, optar por tal orientação sexual e, assim sendo, podiam muito bem não o fazer, pressupondo-se que tal escolha é contra natura e, portanto, eticamente errada. Ora, tanto quanto se sabe, ninguém escolhe a sua orientação sexual; tanto homossexuais como heterossexuais descobrem aquilo que são sem terem tido qualquer possibilidade de escolher, livremente, o que seriam.

O que a Psicologia nos mostra é que há um certo determinismo, que impulsiona o comportamento sexual em geral, determinismo que decorre do funcionamento do sistema endócrino e do cérebro e também de certos estímulos do meio ao longo do desenvolvimento dos indivíduos. Para tentar explicar as diferentes orientações sexuais, têm sido avançadas teorias que se baseiam em diferenças biológicas entre heterossexuais e homossexuais, ao nível da estrutura anterior do hipotálamo e numa zona de conexão neuronal entre os hemisférios direito e esquerdo do cérebro, bem como teorias assentes em factores ambientais, que propõem que a homossexualidade possa ser aprendida através de mecanismos de recompensas e punições indirectas. Há vários possíveis factores – biológicos e sociais, inatos e adquiridos – que podem explicar as diferentes opções sexuais. Mas não há, bem pelo contrário, qualquer indício de que a orientação sexual possa estar ao alcance de uma escolha livre, de uma decisão por parte do indivíduo.

Ora, pensar – erradamente, contra todas as evidências científicas – que os homossexuais podem escolher não o ser e, assim, justificar tratamentos discriminatórios é condenar, injustamente, essas pessoas a uma vida de infelicidade.

Portanto, também nesta questão da forma como se exprime a sexualidade humana, não há diferenças essenciais, eticamente relevantes, para distinguir homossexuais de heterossexuais e assim justificar um tratamento desigual. A ideia de que se pode escolher a orientação sexual, em que se apoia, é objectivamente errada.

(Continua)

Sem comentários: