sábado, 12 de março de 2011

À rasca -- humanamente?!

Terá acontecido hoje uma das maiores manifestações jamais havidas um pouco por todo o país, sobretudo em Lisboa. Milhares de pessoas manifestaram-se contra as enormes incertezas laborais - de futuro - em que vivem. Estamos a atravessar um período negro da nossa democracia.

Isto é assim, porque nas últimas décadas Portugal foi governado por políticos estupidamente optimistas, infantilmente idealistas e, sobremaneira, por políticos descaradamente oportunistas, que coleccionaram incompetências e irresponsabilidades, quando foram aumentando salários e admitindo pessoal na função pública, investindo em estradas e auto-estradas desfasadas da nossa economia, até ao cúmulo do TGV, e foram criando espectativas surrealistas a uma população ignorante, inconsciente e política e culturalmente imberbe, que se habituou a sonhar com o el dorado, o totoloto e o euromilhões, sem que nunca nenhum político tivesse tido a capacidade e coragem de incutir ideias de esforço, empenho, serviço, indústria, qualidade, conquista, orgulho, competência, rigor e... paciência.

Esta geração tem muitos jovens adultos à rasca, mas pior estavam os pais, mais ainda os avós, pior ainda estarão os seus filhos... A não ser que essa mesma geração comece por fazer um pouco mais e melhor do que se encontrar na rua depois de uns cliques indiscretos nas modais redes sociais, que são óptimas, ao que parece, para passar o tempo.

Provavelmente, era melhor começar a votar, nem que fosse em branco. Talvez fosse melhor começar a exigir uma educação básica, secundária e (em certo sentido, sobretudo) superior de qualidade, em vez de continuar a trapassa do "tirar/roubar" um curso, qualquer que seja, mesmo que seja uma "engenharia da defecação" - engenharia sem Física nem Matemática, claro, que isso é chato - ou umas relações internacionais sem saber Inglês ou com Inglês técnico ao Domingo! Talvez não fosse má ideia começar a querer saber mesmo, a desenvolver competências cognitivas, sociais, culturais e políticas a sério, para que comecem a aparecer ideias comerciais, económicas, sociais, políticas novas, que contribuam para resolver problemas.

É tempo, iremediavelmente, de encarar a realidade, de deixar o facilitismo da casa dos pais, do consumismo fútil, do emprego para toda a vida (que já não se pode viver sem isto, aquilo e ainda mais aqueloutro)... e correr mundo. É chegada a hora do realismo.

Que faria esta geração à rasca se tivesse que governar o país? Faria melhor que os meninos do papá e da mamã das juventudes partidárias que se têm "desenrascado" recriando poder(es) para si e para os seus, no lugar de servir o país? Fariam melhor que os políticos locais que de Câmara em Câmara, da esquerda à dreita, inventam empregos (não trabalho, claro) aos amigos com cartão, à custa do dinheiro de quem produz e paga impostos? Que ideias para a organização política da sociedade (para a economia, para a educação, saúde e justiça) tem esta geração dita "à rasca"?

Toda a gente está seduzida por este protesto dos "jovens". É um protesto, que a altura é de indignação. Mas também é demasiado fácil, politicamente correcto. No entanto, a situação do país, de todos nós, sobretudo das gerações vindouras, é demasiado séria para nos limitarmos à simples indignação e para não sermos substancialmente críticos na análise.

O pai que alimentou falsas espectativas, tem culpa. Mas o filho que comodamente não quer crescer não pode ser triunfalmente ilibado como um inocente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Amigo. À distância de toda uma Europa,desde o extremo-extremo norte da Escandinávia,há 35 anos fora de Portugal,olho cada vez mais para as nossas realidades com os tais "telescópios da alma" referidos por Eca de Queiroz. Concordando inteiramente com o que escreveu,gostava de lhe perguntar se me seria permitido reproduzi-lo no blog http://www.lapplandkeywest.com/ O meu E-mail é joseph.bello@telia.com Um abraco.

Tiago Couto disse...

Boa noite senhor miguel tenho vindo ao seu blog ja a algum tempo e confesso que a maior parte dos seus artigos me interessam basntante espero que continue e não se canse de escrever...

Passe pelo meu blog se puder:

http://palavrasdechocolate.blogspot.com/