terça-feira, 29 de maio de 2007

Avaliar






Avaliar é um verbo medonho! Principalmente, para quem possui um baixo auto-conceito, fraca auto-estima e padece de apraxia e fobia do esforço e excelência. E, sobretudo, no que toca à hetero-avaliação: a observação sistemática e lancinante do outro hierarquicamente superior... Mas a avaliação de desempenho é fundamental, designadamente nas instituições de serviço público, sobretudo num país em que reinam aquelas patologias! Mas, curá-las é melhorar as instituições, mas também -- e talvez mais importante -- as próprias pessoas!!
Contudo, para que a avaliação seja justa e satisfaça as suas finalidades -- aumentar a qualidade do desempenho funcional e pessoal -- é imprescindível satisfazer duas condições gerais:

1. estar baseada em critérios rigorosos, amplos e claros;

2. ser exercida por pessoas idóneas, imbuídas de espírito de serviço e orientadas pela boa vontade.

No que respeita, por exemplo, à avaliação de desempenho dos professores do ensino básico e secundário, agora alterado pelo novo estatuto, talvez não estejam acauteladas integralmente as duas condições anteriores:

1. Avaliar o desempenho docente é avaliar também os conhecimentos científicos continuadamente aprofundados ao longo da carreira; o presente estatuto procura avaliar a dimensão pedagógica e institucional, mas esquece este critério importantíssimo.

2. Quanto às virtudes morais das estruturas avaliadoras, é de todo indispensável assegurar a probidade das tomadas de decisão e acautelar efectivamente o respectivo recurso da decisão, sob pena de colocar em causa a segunda das condições enunciadas e, assim, deitar a perder uma boa oportunidade de rejuvenescimento qualitativo e estatutário da mestria de ensinar!

terça-feira, 22 de maio de 2007

«Perdi os professores, mas ganhei a população»... e ESTAMOS mesmo a começar a perdê-los!

Quando um Ministro da Educação refere, com algum triunfalismo ou paternalismo caciquista, que perdeu os professores e ganhou... a população (!), isso quer dizer duas coisas:
1. Não só o Ministro perdeu os professores, mas também o sistema de ensino ficou, assim sendo, sem professores e, a fortiori, também a sociedade, ao serviço da qual existe tal sistema, não ficou com ninguém para ensinar o que quer que seja aos jovens, futuros habitantes de um mundo... nesse caso, perdido!
2. Não se vê como se pode perder os professores -- peças importantes no controlo social, na propagação do saber e dos valores, fulcrais agentes de socialização (tanto mais quanto a família, tantas vezes, cada vez perde mais essa função!) e promotores de verdadeira abertura de horizontes críticos e conscientes de mundo -- e depois, ainda assim, ganhar-se o que quer que seja! A não ser... que se tenha ganho alienação das massas, justamente pela proliferação da ignorância às mãos de autismos políticos e outros tiques manipulatórios.
Afinal, parece que estamos mesmo a perder os professores... pelo menos aqueles que não aceitarem permanecer acefalamente amordaçados por um poder militante incompreensivelmente avassalador!
Agora, o PSD e o PP não têm mais nada que fazer do que incomodar, pedindo esclarecimentos sobre este caso?! Mas... e o provedor de justiça? Também é do PSD?!
Conclusão: todos os que são do PSD (ou de quaisquer outros partidos)... não percebem nada de (teoria) política democrática!! Vamos perdê-los... BORDA FORA!!
Não é fácil compreender este estilo governativo, nem esta interpretação da teoria da democracia...

Introdução à Banda Desenhada

Há 100 anos nascia Georges Remy, mundialmente celebrizado com o pseudónimo Hergé, criou um dos mais impressionantes personagens de B.D. de sempre – Tintim! Os belgas comemoram-no prolixa e orgulhosamente, como um dos mais brilhantes filhos da Bélgica!
Os dois primeiros álbuns foram polémicos: “Tintim no país dos Sovietes” retrata as atrocidades políticas da União Soviética, no traço monocromático algo exagerado de Hergé; “Tintim no Congo”, sobre a colónia belga, com todos os preconceitos colonialistas belgas e todo o paternalismo europeu da época.
Mas Hergé veio a retratar-se, corrigindo mais tarde esses excessos de juventude. Tornou-se um perfeccionista, pesquisando e documentando cuidadosamente os seus álbuns geográfica, política, tecnológica e culturalmente ricos. Desde então, o adolescente/jovem adulto e a sua fox-terrier Milu, não mais deixaram de percorrer o mundo, sempre atentos a grandes questões da humanidade: do alto Tibete à planura árida dos desertos das arábias, onde desmantela uma rede de tráfico de pessoas (em “Carvão no porão”, os negros são retraçados e restituídos à sua humanidade); das inventadas ad hoc Sildávia e Bordúria, onde o pequeno repórter, que não tinha tempo para o ser, salva um reino de um golpe de estado fascista, às guerrilhas dos “Pícaros” nas florestas tropicais da América Latina, em que Hergé ironiza muito bem os castristas de Cuba; da Indonésia à China; do palácio de Moulinsart, sempre repleto de peripécias de uma comicidade refinada e serena,... até à Lua!
Desde 1929, que Hergé foi construindo, sobretudo com Tintim, um autêntico curso introdutório à B.D. – personagens consistentemente brilhantes, narrativas ritmadas, humor inteligente e crítica científico-tecnológica, social e política atenta.
Numa era de luta contra as iliteracias, Les Aventures de Tintin podem muito bem ser um apetitoso guia introdutório dos jovens (dos 7 aos 77?!) à História do Séc. XX e até também à Geografia e Antropologia Cultural!

sábado, 19 de maio de 2007

Linguagem jocosa versus liberdade de expressão ou... não se dê razão aos defensores da censura!

Um professor de Inglês, ao serviço da DREN há vários anos, que apenas interrompeu para ser deputado na Assembleia da República pelo PSD, parece ter feito um comentário à atribulada licenciatura de sua Ex.ª O Primeiro Ministro de Portugal (ver notícia no Público). A Ex.ª Sr.ª Directora Regional instaurou-lhe um processo disciplinar, alegadamente por tal comentário, proferido no local de trabalho, ter sido «jocoso» e atentatório do bom nome do P.M., que o funcionário público, enquanto tal, tem que respeitar.
Dois comentários apenas:
1. A linguagem jocosa que habita as bocas de tanta gente que ocupa lugares pedagógica e moralmente destacados, tem vindo, ao que parece, a proliferar. A elegância e a postura, entre outras, não são coisas que pareçam ter grande valor. Mas têm, precisamente quando o que está em causa são as relações com o outro e os protagonistas são pessoas que desempenham funções modelares de importância transcendente. Se houve desmesura de linguagem, tal deve ser justamente apurado e, naturalmente, devidamente ponderado e decidido em conformidade.
2. A liberdade é, efectivamente, a razão de ser da democracia. E a liberdade de expressão é a sua via de efectivação e a concretização suprema da cidadania. Todo o regime democrático que não consegue conviver com a liberdade de expressão, o pluralismo... (mesmo de homens livres que ocupam funções públicas!) não conseguirá nunca ser democrático -- o que seria uma deplorável contradição nos termos!
Em suma: preserve-se e exerça-se a verdadeira liberdade ou... não dêem razão aos defensores da censura!

O subtil desrespeito pela separação de poderes

Numa das suas múltiplas viagens, Montesquieu visitava a Inglaterra em 1729, levando a cabo um estudo das instituições políticas inglesas. Os resultados foram publicados 19 anos depois na sua conhecida e importante obra De L’Esprit des Lois. Nela, o jurista e teórico político francês critica a concentração de poderes das repúblicas italianas, desviando-se assim da concepção do Estado assente na constituição mista e defendendo a separação de poderes (legislativo, executivo e judicial).
A finalidade de Montesquieu era salvaguardar a liberdade política – «o direito de fazer aquilo que as leis permitem» –, o que só é possível quando os «súbditos» pressentem tranquilamente a sua segurança. E mais: a separação de poderes, para além de condição sine qua non da segurança dos súbditos, é também condição de verdadeira eficiência de um governo convenientemente construído e regulado.
Esta teoria contribuiu para o desenvolvimento das formas de governo democrático e desempenhou um importante papel nos Estados Unidos e em muitos outros países ocidentais modernos.
A saída de Rui Pereira do Tribunal Constitucional, cerca de dois meses depois de ter sido nomeado pelo PS, a convite do P.M. José Sócrates, para ocupar o lugar deixado vago no governo por António Costa, tem sido amplamente criticado por constituir uma banalização da importância superior do T.C., já que aquele eminente jurista jurou, sob compromisso de honra, desempenhar as superiores funções nos próximos 9 anos. E, de repente... afinal não parece ser assim uma função tão importante quanto isso, que se não possa largar dois meses depois!
E o contra-argumento avançado – segundo o qual António Costa seria a salvação urgentíssima para Lisboa e a sua candidatura seria inclusivamente boa para o país – não parece bom: a escolha de António Costa é mais directamente benéfico para os interesses eleitoralistas do Partido Socialista, do que para Lisboa ou para o país!
Mas Paulo Rangel (o autor de “o” discurso verdadeiramente revitalizador do que realmente importa revitalizar agora do 25 de Abril!) leva a sua crítica mais longe: não só se tratou de uma leviandade ético-política de José Sócrates ao formular o convite, bem como de Rui Pereira ao aceitá-lo, mas foi um claro desrespeito institucional por um pilar central da democracia, que é a separação de poderes – o PM, ao formular um convite destes, estaria de certa maneira a extravasar os seus poderes (executivos), ao dispor de um alto magistrado do T.C., menosprezando ou mesmo, de certa forma, esvaziando, ainda que subtilmente, os seus autónomos poderes (judiciais).
A crítica pode ser subtil, mas o desrespeito em causa também o é! E passar desapercebido, seria, no mínimo, uma falha imperdoável da acção política fiscalizadora, da responsabilidade da oposição democrática. O importante é que este subtil desrespeito institucional vem demonstrar, mais uma vez, uma certa falta de sensibilidade ético-política, que tem ensombrado o estilo governativo do P.M.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Os excessos populistas dos media no caso Madeleine


É certo que Madeleine não é o único caso de trágico desaparecimento de uma criança. Há inúmeros outros por esse mundo -- inclusive ocidental -- fora! Bem como o mundo é igualmente pródigo noutros simiescos atentados contra crianças, como seja no Darfur e um pouco por todo esse continente perdido, que é África, na Ásia e na América Latina (a fome é um dos maiores flagelos, neste nosso melhor mundo, que atinge maioritariamente crianças). Estes casos deveriam, evidentemente, ocupar os serviços noticiosos e deter o impacto mediático à altura das causas inerentes!
É certo também que as televisões portuguesas têm produzido um lamentável reality show em torno do caso Madeleine, quando nos seus serviços noticiosos intoxicam os telespectadores (aqueles que passivamente assistem, claro!), durante tempos infindos, com rara ou nenhuma notícia de real importância ou novidade, limitando-se a repetir as mesmas informações com roupagens diversas, para, grosseiramente,... "fazer 'vender' o peixe"!
Mas talvez pior seja a crescente especulação crítica insinuadora da conceituadíssima e insuspeita (!) cadeia de televisão britânica Sky News contra a lei, a polícia e os media portugueses! (Haverá mais alguma coisa para criticar?!)
Mas terão conhecimento efectivo da lei portuguesa e dos seus fundamentos? Deterão informações claras sobre a forma como efectivamente trabalha a polícia científica em Portugal? Eles até têm criminologistas! Terão juristas com conhecimentos de direito comparado? Terão exibido (de momento, desconheço) alguma reportagem sobre o modo como trabalha realmente a polícia, em Portugal, como o fez, por exemplo, hoje a SIC no seu (fastidioso!) jornal das 13:00?
A Sky no seu pior -- naquilo que, por muito que não o seja efectivamente, parece ser uma campanha propagandística depreciadora de uma lei, uma polícia, uns media... não-ingleses! Será simplesmente um infeliz descontrolo emocional populista ou será que se trata de um leve assomo do velho orgulho etnocêntrico dos súbditos de sua majestade?
De qualquer modo, parece ser este o modo -- estranho, diga-se -- como os media britânicos tão bem auxiliam a sua Scotland Yard!!

terça-feira, 15 de maio de 2007

Congratulations! Uma Universidade portuguesa no topo...

A Universidade Católica Portuguesa entrou num ranking das melhores do mundo, pela qualidade exibida pela sua Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais: mais concretamente, a Escola de Formação de Executivos foi classificada num ranking internacional elaborado pelo Financial Times, que hierarquiza as Escolas de Gestão de todo o mundo, com a 52ª posição.
A excepção está, felizmente, criada. Quando um dos temas de relevância política actual no nosso país é, sem dúvida, a qualidade de ensino das instituições universitárias, em geral, mas sobretudo privadas, é benvinda a comparação com outras universidades por esse mundo fora. (Repare-se como o ranking mostra que a China tem uma escola de gestão classificada junto da nossa Católica, mas mais acima temos duas espanholas, 2.º e 33.º, uma argentina, 16.º, e outra brasileira, em 42.º!)
Isto dos rankings é muito aborrecido. Coloca-nos perante os outros e descobre as nossas limitações, quer em termos de competência quer de empenhamento. Mas a comparação, sendo bem efectuada, tem a benfazeja virtualidade de nos colocar competitivamente ao "lado" dos outros, exibindo a necessidade, mas também a possibilidade e motivação de almejar o melhor.
No contexto sócio-cultural e económico do nosso país, não é mesmo má ideia querer ser e fazer melhor!

segunda-feira, 14 de maio de 2007


Leituras...


A Índia no Século XXI, do diplomata de carreira, mas também escritor e historiador, Pavan K. Varma, membro da Royal Society of Literature e da Royal Asiatic Society, publicado recentemente em português pela editorial Presença, procura dilucidar, através da História, Religião e de esclarecedores exemplos concretos, o que significa ser indiano no início do século XXI. (Aclamado pela crítica como um dos mais bem conseguidos ensaios sobre a identidade desse grande “dragão” do Oriente em mudança e clara ascensão no mundo.)
As grandes virtualidades desta obra de leitura fácil e agradável consistem na rara capacidade de mostrar, muito simplesmente, que a organização liberal do estado, por um lado, e o esforço individual, por outro, se apresentam como dois factores fulcrais da mudança para o sucesso.

Por um lado, o ascendente sucesso económico da Índia deve-se, ao contrário, por exemplo, da “vizinha” China, à forma liberal como a sua sociedade e estado estão a ser organizados («o povo indiano tem liberdade política para escolher o que mais gosta e o que melhor faz, enquanto o povo chinês não tem», p. 226). Apesar de uma sociedade estratificada pela velha divisão social em castas, o desenvolvimento económico passa também por um desenvolvimento social, visível na crescente igualdade de oportunidades de acesso ao ensino superior, por exemplo com quotas de diferenciação positiva para as castas mais baixas.
Por outro lado, ler esta obra faz-nos pensar como a motivação para a aprendizagem efectiva de conhecimentos e competências pode depender, em larga medida, de circunstâncias sócio-económicas iniciais de alguma adversidade, dada a vital necessidade de aprender, com esforço, para ascender, quando não para sobreviver. Se algumas universidades são autênticos hotéis de luxo (chegam a ostentar campos de golfe!), o esforço aí despendido para obter sucesso através do conhecimento e competência é o mesmo que se pode encontrar também nas inúmeras escolas de piso térreo, sem mesas nem cadeiras, a que as crianças acedem depois de percorrerem alguns quilómetros de bicicleta, cenário disseminado pelo vasto continente indiano.
Talvez o nosso país, na fase de desenvolvimento em que se encontra, tivesse muito a aprender com a atitude altamente positiva dos indianos, cujas crianças parecem estar minimamente bem orientadas e motivadas para lutar efectivamente por uma vida melhor. Isto, claro está, se muitos de entre nós se dessem ao trabalho de procurar aprender verdadeiramente alguma coisa!
(Ah, sim, claro: quem não quer ser como os finlandeses – que coisa horrorosa! – muito menos se quererá assemelhar a esses indianos!!)

P.S. (duas curiosidades):
1. Num estudo internacional recente, a Índia “colocava” duas Universidades nas cem melhores Universidades de Ciências Sociais do Mundo, enquanto que Portugal... nenhuma!
2. A indústria cinematográfica indiana (já com uma longa tradição) já produz mais filmes do que... Hollywood!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Madeleine and the State


O Estado é, na célebre e dramática definição de Max Weber, um conjunto de instituições que possuem o monopólio da violência legítima. Esse monopólio justifica-se, porque, em contrapartida, o Estado detém a responsabilidade de proteger os indivíduos contra a violência ilegítima.
Contudo, não há qualquer Estado que cumpra este desígnio -- não é possível ao Estado, qualquer que ele seja, garantir infalivelmente a segurança a todos os seus cidadãos. Nem por isso o Estado é dispensável. Mas obriga-nos a pensar que os indivíduos têm, irremediavelmente, que colaborar nesta tarefa utópica do Estado, designadamente prevenindo eventuais atentados à sua segurança e dos seus.
O drama do desaparecimento de crianças, designadamente com os contornos do caso de Madeleine, tem que ver com a sensação, ainda assim, de segurança, de que se nutrem os cidadãos das "repúblicas bem ordenadas", que são as democracias liberais modernas, a fim de viverem as suas vidas em liberdade, sem medos dilacerantes, que outrora fustigavam os nosos antepassados. Trata-se de uma sensação legítima, mas algo exacerbada e, por vezes, mesmo ingénua.

Em suma:

1. Não se pode pensar que o estado (não só o português, mas qualquer outro em que têm ocorrido tragédias deste tipo) assegurará, o que tem sido manifestamente impossível, a segurança de todos em quaisquer condições; a família tem um dever incontornável de vigilância. O anseio pueril não é outro, qualquer que seja a organização da sociedade: Please, don't leave us kids alone!

2. Mas também não devemos deixar de reflectir no papel do estado, designadamente nessa falibilidade crescente do estado securizante, no sentido de promover o aperfeiçoamento dos mecanismos do inevitável controlo da liberdade, pois, como escrevia John Stuart Mill, «tudo o que torna a existência valiosa para uma pessoa baseia-se na aplicação de restrições às acções das outras pessoas.» (No caso português, talvez haja reajustamentos a fazer, sem perder a coerência, no seio do paradigma jurídico vigente.)

quarta-feira, 9 de maio de 2007

PROIBIDO FUMAR... online!!








Neste blog não se fuma! É proibido!!

Seria ridículo, claro está! Como é ridículo querer proibir fumar em determinados espaços privados, como cafés e restaurantes com dimensões reduzidas, que deveriam optar livremente por serem abertos ou não a fumadores. (Está mesmo a ver-se os nossos agentes da autoridade nesse Portugal profundo a aplicarem coimas de 25€ aos fumadores que bebericam cevada nas palavrosas casas de pasto... tal como farão, aliás, na Assembleia da República, claro!) Quando os pulmões são nossos, o Estado não deve proibir, mas aconselhar, sob pena de cair no totalitarismo mais esconso, numa perseguição ilegítima aos pequenos prazeres individuais, também eles constitutivos do reduto intocável do indivíduo, que é a liberdade.
Claro que é perfeitamente óbvio que se não deve fumar em locais fechados, onde os não fumadores tenham obrigatoriamente que permanecer, como locais de trabalho ou outros espaços públicos fechados. É perfeitamente óbvio que as escolas devem ter regras restritivas. Mas, como (livre) não fumador -- e que tantas vezes tenho sido vítima da desorganização incompreensível da nossa sociedade, onde se fuma em quase todo o lado -- considero, no entanto, completamente desequilibrada, atabalhoada e chega mesmo a ser ridícula (só faltava proibir fumar... online!!) esta proposta de lei do governo. (O mesmo Ministro que, face ao já preocupante problema da obesidade, defende que se não deve proibir, por exemplo nas escolas, a venda de produtos alimentares nocivos, propõe uma proibição avassaladora do acto de fumar!)
Mas pior do que ridícula e desequilibrada, esta proposta é reveladora de um certo tique autoritarista e atentatório das liberdades individuais, que este governo começa a revelar (e que se enquadra no seu esquizofrenismo ideológico, que tanto liberaliza como proibe sem qualquer coerência!), fazendo lembrar um certo estado esclerozado e totalitarista de outros tempos ou lugares... embora desejando ser liberal.
Por paradoxal que pareça, quase há lugar a dizer "deixem-nos ser... fumadores!"

terça-feira, 8 de maio de 2007

Política... entre o pior e o melhor!

Na Madeira, continuam a cultivar-se as mesmas flores. Não há alternativas políticas eficazes ao jardim instituído e, no continente, ninguém parece (querer) deter as técnicas de jardinagem adequadas! Nada mais a dizer, a não ser que o empobrecimento da política democrática atingiu o auge...

Em França, faz-se política -- um acto eleitoral de suprema importância é precedido de debate franco e apronfundado de ideias e o vencedor é encontrado a partir de quase 90% de participação popular!
É esta a Europa que temos... em busca de uma Constituição Comum!

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Cada um a tratar dos seus!

Ontem, no Eixo do Mal, Clara Ferreira Alves comentava a situação política na Câmara de Lisboa, denunciando que a Câmara se resumia a um conjunto de células partidárias interessadas em arregimentar acólitos para servir... os partidos! "Cada um a tratar dos seus!"
Em quantas Câmaras Municipais por esse país fora reinará efectivamente o serviço público competente ao invés dos interesses pessoais, partidários ou de outros sectarismos?!
A apatia desinformada, desmoralizada e desinteressada dos cidadãos tem feito proliferar os vícios políticos de quantos (sobre)vivem na política, à custa do erário público, unicamente à procura do El Dorado, para si e para os seus!

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Educação e as novas oportunidade de... formação!

Educar é, simultaneamente, criar, ensinar e formar. Criar é educar no sentido restrito, e essa função cabe à família: trata-se de incutir, de forma espontânea, hábitos, valores, comportamentos socialmente aceites. Ensinar designa uma educação intencional, da responsabilidade de uma instituição (a escola): trata-se de instruir, veicular conhecimentos e competências cognitivas. Formar, termo muito em voga, designa a preparação do indivíduo para determinada função social.
A finalidade do ensino é o próprio aluno (quando se ensina filosofia trata-se o aluno como um fim – a teoria e os argumentos filosóficos ensinados são para ele aprender tais teorias e argumentos, mas também a pensar sobre questões fundamentais para o ser humano). A finalidade da formação, diferentemente, é a função social – é o futuro enfermeiro ou médico que importa (quando se forma um enfermeiro não se espera que inove, que contribua para aumentar o conhecimento, mas apenas que cuide do doente o mais eficazmente possível).
Sendo diferentes os três sinónimos de educação têm, porém, a uni-los um quarto termo – aprender –, que lhes acrescenta algo fundamental: quem aprende, seja canoagem seja matemática, aprende sempre também a tornar-se melhor. Tornar-se melhor significa desenvolver as potencialidades do ser humano que cada um em si comporta.
Tudo o que a humanidade conquistou através dos milénios é cultural, não natural, isto é, não se transmite hereditariamente, mas através da educação. Isso faz dela um processo ou conjunto de procedimentos que permitem a qualquer criança aceder progressivamente à cultura. E isto é fundamental, pois o acesso à cultura é o que distingue o homem do animal.
Ora, o que o pacote de medidas proposta pelo governo – designado “novas oportunidades” – apresenta é uma concepção pouco rigorosa de educação, quando pretende resolver o problema da educação (leia-se: do ensino e da formação) através de medidas que resolverão apenas a questão da formação. Como medidas para incrementar a formação, são desejáveis. Mas faz passar a ideia, errada, de que a educação é um meio (formativo) e não um fim em si mesmo (instrutivo).
E quando se olha para os números e se vê que está a aumentar o número de pessoas com o ensino básico, através da certificação de competências adquiridas com a experiência profissional ao longo da vida, percebe-se a confusão: a formação (adquirida por experiência – nada a dizer) transforma-se, artificiosa e enganadoramente, em instrução!
Seria necessário fazer passar a ideia de que, além da formação ser importante (que o é) para a integração do indivíduo na sociedade (designadamente, para prover a satisfação de necessidades económicas), a instrução é também fulcral, desta feita para algo mais originário e substancial – ser humano, permitir a cada um realizar a sua natureza no seio de uma cultura que seja verdadeiramente humana.
Seria preciso encarar corajosa e inteligentemente a educação enquanto instrução, como problema a merecer resolução política. Seria preciso, além de certificar competências, persuadir para a efectiva instrução ao longo da vida. E será determinante, isso sim, a intervenção junto, não só dos jovens, mas também das famílias que os orientam, no sentido de motivar para a instrução – a verdadeira e mais originária forma de ser verdadeiramente humano!
Talvez o Carlos Queiroz pudesse dizer aos nossos jovens algo como: “como me sinto bem por saber História, Biologia e... Inglês!”. E quem sabe se os técnicos de marketing (psicólogos, sociólogos…) ao serviço do Ministério da Educação (e do Trabalho?), não pudessem fazer melhor, como seja colocar modelos atractivos para os pais a dizerem algo como: “como me sinto bem por ter proporcionado aos meus filhos uma verdadeira instrução, que os tornou verdadeiros seres humanos!”
A própria economia, como se sabe hoje, iria beneficiar desse valor acrescentado, que é uma educação integral.
Será utópico, mas é apenas esta utopia que resgata a educação dos perigos, quer do esvaziamento total (já estivemos mais longe!), quer do endoutrinamento (que poderá acontecer na transformação da educação em... mera formação!).

quarta-feira, 2 de maio de 2007

A decadência do Norte e a última luz de esperança ao fundo... da Europa!

O JN de hoje trouxe para primeiro plano a decadência económica do Norte do país. A qualidade de vida continua a baixar. A produção de riqueza per capita está a decrescer. Na Europa, pior, só três regiões da Grécia.
Quem conhece a realidade sabe que as causas podem, efectivamente, resumir-se nas seguintes:
1. Continuado desinteresse do poder central e consequente desinvestimento público suficiente para atenuar as assimetrias regionais (o actual fecho de serviços públicos é mais uma prova disso);
2. Bairrismos, sectarismos, lutas políticas interinas completamente inconsequentes no que toca à verdadeira função política -- servir as populações, criando condições de vida realmente livre.
3. Eclipse de figuras políticas de proa, provenientes da região e defensoras dos seus interesses, e consequente perda de influência política em Lisboa.
4. Parco e pouco generalizado desenvolvimento humano, ao nível da formação académica e profissional.
5. Fraco poder de iniciativa política, cultural, económica da sociedade civil.
Solução? Talvez, porque não, adiantar o seguinte:
1. Continuar a apostar no empreendedorismo (de alguns empresários);
2. Exigir representantes políticos (e políticas) verdadeiramente empenhados na resolução séria de problemas estruturais;
3. E... vêm aí os últimos fundos europeus de investimento estratégico. Devem ser, desesperadamente, aproveitados.
Mas reunirão, decisivamente, os nortenhos (políticos e sociedade civil) as capacidades anímicas, formativas,
empreendedoras, éticas para os aplicar, desta vez e finalmente, num verdadeiro salto para a frente?
Quero crer que sim. Mas, cuidado: a esperança não pode vir só dos "fundos" da Europa! A nota decisiva provirá
do incremento das potencialidades pessoais de cada um e do esforço de alteração de mentalidades refractárias às mudanças em curso no mundo da vida de bem estar.